Operações contra bailes funk em SP deixam 16 mortos e seis adolescentes cegos
Famílias de vítimas do Massacre de Paraisópolis clamam por justiça, enquanto estudo revela repressão policial violenta contra bailes funks periféricos
- Data: 29/11/2024 08:11
- Alterado: 29/11/2024 08:11
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Crédito:Reprodução Facebook
Na manhã desta sexta-feira, familiares das vítimas do “Massacre de Paraisópolis” reuniram-se em frente ao fórum da capital paulista para exigir justiça. O trágico evento, ocorrido em 1º de dezembro de 2019, resultou na morte de nove jovens durante uma ação da Polícia Militar no Baile da Dz7, e até hoje não houve julgamento.
Nos finais de semana, as ruas das periferias paulistanas se transformam em palcos para a juventude que participa dos populares bailes funks. Este movimento cultural, que emergiu na cidade no início dos anos 2000, especialmente na Cidade Tiradentes, enfrenta constante repressão estatal. As chamadas “operações pancadão”, atualmente conhecidas como “Operação Paz e Proteção”, têm sido marcadas por violência e confrontos.
De acordo com uma pesquisa intitulada “Pancadão: uma História da Repressão aos Bailes Funks de Rua da Capital Paulista”, pelo menos 16 mortes e vários casos de ferimentos graves ocorreram em operações desse tipo na Região Metropolitana entre 2012 e 2024. Um dos episódios mais recentes envolveu um adolescente morto em Guarulhos.
O relatório divulgado nesta sexta-feira, desenvolvido pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Unifesp, o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública e o Movimento de Familiares das Vítimas do Massacre em Paraisópolis, revela que o batalhão responsável pela ação letal em Paraisópolis é o mais violento da cidade nos últimos dez anos.
Além disso, o estudo aponta um aumento significativo das operações policiais em Paraisópolis nos últimos anos, demonstrando a ineficácia dessas ações na contenção dos bailes funks, que continuam a se expandir nas periferias.
Desirée de Lemos Azevedo, coordenadora da pesquisa, critica a política repressiva vigente: “Apesar dos esforços para sufocar os bailes funks, eles permanecem enraizados nas comunidades. A insistência do poder público nessa abordagem não tem gerado resultados positivos”.
Enquanto isso, figuras políticas como o prefeito Ricardo Nunes (MDB) têm se aproximado de artistas do funk para ganhar visibilidade eleitoral, embora mantenham críticas ao movimento.
A gestão de João Doria (PSDB) foi a primeira a associar os bailes ao crime organizado, estabelecendo uma política pública permanente contra eles. O relatório ainda destaca que a presença policial ostensiva não se justifica apenas pela questão do barulho gerado pelos bailes, frequentemente apontado como um problema por moradores locais.
A pesquisa também observa que eventos culturais noturnos realizados em áreas mais abastadas da cidade são igualmente permeados por atividades ilícitas, mas recebem tratamento diferenciado devido à privatização dos espaços e relações com as autoridades.
Em resposta às crescentes reclamações de barulho, dados do Programa Silêncio Urbano (PSIU) mostram que bairros como Pinheiros lideram as denúncias por poluição sonora, apesar da menor intervenção policial nesses locais em comparação às áreas periféricas como Paraisópolis.
A reportagem tentou contato com a Secretaria da Segurança Pública para obter um posicionamento sobre as questões levantadas no relatório, mas ainda aguarda resposta.