O que há de errado com a meritocracia?
Sem considerar a prática de equidade, conceito de meritocracia segue avesso à agenda de diversidade e inclusão, perpetuando desigualdades
- Data: 07/05/2023 16:05
- Alterado: 07/05/2023 16:05
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Charge sobre Meritocracia
Crédito:Emanu.se
Cada vez mais questionado nas esferas sociais e trabalhistas, o conceito de meritocracia defende a ideia do alcance dos objetivos por meio de merecimento, em função de habilidades e realizações alcançadas, sem a influência de posição social, riqueza ou indicação de uma rede de relacionamentos.
No dicionário, a palavra meritocracia tem relação direta com poder e mérito, mas, será que se limita a isso?
A maioria das lideranças se considera meritocrática, porém, como explicar o motivo de as empresas continuarem reproduzindo todas as formas de desigualdades? É por isso que precisamos falar sobre a meritocracia que abraça a equidade.
Esse é o debate que o fundador e CEO da Empodera – plataforma aliada na construção de negócios mais diversos e inclusivos – Leizer Pereira, levou para a 13ª edição do Happy Conference Lisboa 2023, pautado pelo tema “A ascensão da meritocracia com equidade”.
A Constituição Federal diz que a equidade é o respeito pelo direito de cada pessoa, que adapta a regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais justa. Já o sociólogo Boaventura de Souza Santos, defende a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não reproduza ou alimente as desigualdades.
Você escolheu local de nascimento, família, gênero, raça, ter algum tipo de deficiência ou não, ou o seu talento? Embora ninguém tenha esse poder de escolha, esses fatores são determinantes para definir as barreiras, preconceitos e discriminações que uma pessoa vai sofrer na vida”, salienta Leizer.
Afinal, são essas as condições que separam os privilegiados dos não privilegiados. Se você nasce em uma família rica ou de classe média, herda uma plataforma social, com herança de capital financeiro, intelectual, social e moral, que vai alavancar a sua vida.
“Quando pergunto aos CEOs, diretores e diretoras o que significa meritocracia, na nuvem de palavras sempre aparecem: talento, competência, inteligência, aptidão, esforço, desempenho, entrega de resultados. Porém, a equidade é uma palavra-chave que sempre escapa dos líderes com quem converso. Muitos ainda acreditam que ações afirmativas são assistencialismo e uma maneira de baixar a régua dos processos de contratação. O conceito de meritocracia não abraça a equidade, o acesso a oportunidades iguais, o ponto de partida das pessoas”, pontua Leizer.
O Brasil é o nono país mais desigual do mundo, onde uma criança de família pobre levaria nove gerações para atingir a renda média brasileira (OCDE 2018). Apenas 5% da população ganha mais de R$ 10 mil por mês, e apenas 1% ganha mais de R$ 20 mil por mês. Apesar disso, a classe média corporativa, formada por gerentes, diretores e CEOs, tem a meritocracia como um valor universal. Segundo Leizer, a primeira coisa que eles dizem é que são meritocráticos e só contratam por competência e habilidades.
Existe um mito, já que a maioria acredita que opera na meritocracia, enquanto o cenário é de profundas desigualdades. Menos de 13% de mulheres e 5% de pessoas negras ocupam cargos executivos (Ethos 2016). Além disso, somente 1% das pessoas com deficiências estão empregadas (Pnad 2022), e pessoas trans e +50 anos ainda enfrentam barreiras para serem incluídas no mercado.
Para Leizer, os líderes precisam ter auto responsabilidade pela mudança, afinal, definem as estratégias e são os guardiões da cultura corporativa, logo precisa partir deles o movimento de ressignificação da meritocracia. “Costumo ensiná-los sobre um conceito mais amplo “Ofereça equidade e deixe as pessoas crescerem na velocidade do seu talento e esforço”.
+ Empodera
A Empodera é uma das maiores plataformas do Brasil na construção e aceleração de negócios inclusivos, tendo uma metodologia de hackeamento de cultura (3S Empodera: Sensibilizar, Sistematizar e Sustentar), conectando talentos diversos com organizações engajadas na mudança do ambiente corporativo. Criada em 2016 por Leizer Pereira, o projeto hoje conta com cerca de 70 mil pessoas cadastradas, 10 mil acessos mensais e soma mais de 2000 pessoas contratadas em grandes empresas, como Google, B.A.T., White Martins, Pepsico, Ambev, Bayer, Santander, YDUQS, Anbima, Twitter, TechnipFMC, Enel, Ipiranga, Itaú e JP Morgan.