Nova técnica usa células-tronco em lesões na mandíbula

As lesões degenerativas graves da articulação temporomandibular (ATM) podem ser refratárias aos tratamentos conservadores e evoluir para intervenção cirúrgica

  • Data: 14/09/2017 14:09
  • Alterado: 16/08/2023 00:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: divulgacultura
Nova técnica usa células-tronco em lesões na mandíbula

Ricardo Tesch

Crédito:divulgação

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As lesões degenerativas graves da articulação temporomandibular (ATM) podem ser refratárias aos tratamentos conservadores e evoluir para intervenção cirúrgica. O transplante autólogo (feito com células do próprio indivíduo) de condrócitos (células da própria cartilagem, como o septo nasal) é uma alternativa ao tratamento convencional. É esta pesquisa que o chefe do Serviço de Dor Crônica Orofacial e Cefálica da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase-RJ), Ricardo Tesch, tem desenvolvido ao lado do biólogo Radovan Borojevic, coordenador do Centro de Medicina Regenerativa (CMR-FMP). O transplante para tratamento da doença degenerativa do osso e da cartilagem é pioneiro no mundo.

“A ATM é a articulação que permite os movimentos da boca, de extrema importância na realização de funções como mastigar e falar. Na ausência de doenças que a afetem, ela é capaz de suportar bem a carga exercida durante a execução das funções, em grande parte devido à cobertura de cartilagem sobre as corticais dos ossos que se articulam. Mas, na presença de condições sistêmicas que favoreçam a doença articular, como flutuações nas taxas hormonais em mulheres durante o ciclo menstrual, ou quando sobrecarregadas por atividades chamadas parafuncionais, como apertar os dentes durante a noite ou dia, a cartilagem e o osso que é recoberto por ela podem iniciar um processo de degradação chamado osteoartrose”, explica Ricardo Tesch.

Segundo ele, o problema dessa cartilagem é que, uma vez destruída, tem pouco ou nenhum potencial de se autorreparar. Isto se dá pelo fato de o tecido não ser irrigado por vasos sanguíneos e, por isso, as células presentes em nosso organismo responsáveis pela regeneração dos tecidos lesionados (células-tronco adultas), não tem um caminho para chegar até ele. “Uma alternativa seria depositar um grande número das células sobre o local da lesão para que possam participar do processo de regeneração, antes impossível”, explica Ricardo Tesch.

De acordo com o professor da FMP/Fase, o transplante autólogo de condrócitos vem sendo aplicado para outras articulações, principalmente joelhos, desde o final da década de 90, tendo sido a primeira terapia celular não hematológica (como o transplante de medula óssea para o tratamento de doenças do sangue) reconhecida pelo FDA, órgão norte-americano que regulamenta medicações e tratamentos.

“O maior problema para a aplicação sempre esteve na necessidade de uma área doadora de cartilagem do próprio indivíduo. Ou seja, a necessidade de remoção de um pedaço de cartilagem íntegra para cobrir uma área de lesão. O diferencial da técnica que passamos a empregar está na fonte doadora de células, o septo nasal. A região oferece facilidade para remoção e não gera lesão em área exposta à carga. Muitas vezes a cartilagem é removida e sobra, como resto cirúrgico, em procedimentos otorrinolaringológicos como cirurgias de desvio de septo”, conta Ricardo Tesch.

O objetivo da pesquisa é avaliar se a aplicação de condrócitos autólogos associados ao ácido hialurônico é segura e eficaz no processo de reparo tecidual, na reabilitação funcional e redução da dor. Pacientes com diagnóstico de deformidades dentofaciais, consequência de lesões degenerativas graves da ATM, com indicação de correção cirúrgica, foram selecionados para o estudo. Após a remoção por biópsia das células contidas em um pequeno fragmento de cartilagem e o transporte do material biológico para um Centro de Tecnologia Celular (CTC), as células foram isoladas e multiplicadas até atingirem o número necessário para ampliação (10 milhões).

“Para a ATM, o processo demora em média 15, 20 dias. Depois, ficam prontas para serem aplicadas por injeção articular após lavagem, a artrocentese, em ambiente ambulatorial, com anestesia local. O acompanhamento clínico é realizado por sete e 15 dias; um, três, seis e 12 meses após o tratamento, quando também são avaliadas a intensidade da dor e a incapacidade funcional. Exames de imagem por tomografia vêm sendo realizados, acompanhando o processo. Os primeiros resultados superaram todas as expectativas e estão relatados agora em artigo científico”, diz Ricardo Tesch.

O professor ressalta que outra alternativa para casos avançados de osteoartrose, tanto na ATM como em outras articulações, seria a substituição da articulação afetada por próteses, de custo elevado, tanto para o serviço privado quanto para o sistema público, e muito superior aos da terapia proposta: “Embora esta tenha sido a primeira aplicação feita em todo mundo para ATM, uma pequena articulação, mas de papel vital para nossa sobrevivência e cuja doença produz incapacidade não apenas física, mas psicológica e social, os resultados poderiam ser testados e replicados em outras grandes articulações, como os joelhos, cujo impacto econômico é ainda maior, por serem problemas de saúde pública.”

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  • Data: 14/09/2017 02:09
  • Alterado: 16/08/2023 12:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: divulgacultura









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