Morre Jean-Marie Le Pen, líder histórico da extrema direita na França
Fundador da Frente Nacional, Le Pen teve trajetória marcada por polêmicas e controvérsias judiciais
- Data: 07/01/2025 11:01
- Alterado: 07/01/2025 11:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Assessoria
Jean-Marie Le Pen
Crédito:Reprodução/Instagram
Jean-Marie Le Pen, uma figura proeminente da política de direita radical na França e fundador do partido Frente Nacional (atualmente conhecido como Reunião Nacional), faleceu nesta terça-feira, 7 de janeiro, aos 96 anos. A informação foi confirmada por seus familiares à agência AFP, que relataram que ele morreu em uma unidade de saúde, cercado por entes queridos.
Um legado de polêmicas e declarações controversas
Le Pen, conhecido por suas declarações polêmicas e negacionistas em relação ao Holocausto, teve uma trajetória marcada por controvérsias sobre raça, gênero e imigração. Ele fundou a Frente Nacional em 1972 e permaneceu à frente da legenda até ser expulso em 2015 devido a suas opiniões extremistas.
Durante sua carreira política, Le Pen concorreu em todas as eleições presidenciais entre 1974 e 2007, exceto na eleição de 1981, que resultou na vitória de François Mitterrand. Sua maior conquista foi chegar ao segundo turno das eleições presidenciais de 2002, onde disputou contra Jacques Chirac.
A liderança do partido passou para sua filha, Marine Le Pen, em 2011. Desde então, ela reestruturou o partido e mudou seu nome, posicionando-o como uma força significativa no cenário político francês. Jordan Bardella, atual presidente do partido, afirmou que Jean-Marie “sempre serviu à França” e defendeu sua identidade e soberania.
Da carreira militar à política extremista
Nascido em uma vila costeira na Bretanha e filho de um marinheiro, Le Pen iniciou sua formação acadêmica em direito na Universidade de Paris durante a década de 1940. Ele se envolveu com a política ao se juntar ao movimento Restauração Nacional, que buscava restaurar a monarquia na França.
Le Pen também teve uma carreira militar significativa; ingressou na Legião Estrangeira Francesa em 1954 e atuou como paraquedista em conflitos na Argélia e na Indochina. Ele enfrentou acusações de tortura durante sua estadia na Argélia e processou veículos de comunicação que veicularam essas alegações.
Após retornar à França, foi eleito para a Assembleia Nacional em 1956 como o deputado mais jovem da história do Parlamento. Embora tenha sido reeleito em 1958, perdeu seu assento em 1962. Em seguida, estabeleceu uma sociedade dedicada à venda de gravações nazistas e músicas militares alemãs.
A fundação da Frente Nacional foi uma resposta às crescentes preocupações sobre imigração na França, especialmente em relação à migração proveniente das antigas colônias no Norte da África. O partido sempre se opôs à integração europeia e defendia a reintrodução da pena de morte, além de propor restrições à construção de mesquitas no país.
Condenações judiciais e o rompimento familiar
O legado político de Le Pen é marcado por polêmicas que resultaram em mais de 20 condenações judiciais por apologia ao crime de guerra e incitação ao ódio racial. Entre suas declarações controversas, ele caracterizou o Holocausto como “um detalhe da história” e sugeriu o uso do vírus Ebola para lidar com a superpopulação mundial.
Le Pen casou-se com Pierrette Lalanne em 1960 e teve três filhas; Marine é a mais nova delas. Em um desdobramento dramático nas relações familiares, Marine expulsou o pai do partido em 2015 após novas declarações antissemitas dele. Apesar do rompimento público, ele apoiou financeiramente a campanha presidencial da filha em 2017 com um empréstimo significativo.
A atual direção do partido busca distanciar-se das conotações racistas e xenofóbicas associadas a seu fundador, focando no combate à imigração, na criação de empregos e na crítica a ideologias islâmicas consideradas perigosas.
Com eleições parlamentares previstas para 2024, o partido será liderado por Jordan Bardella, marcando uma nova fase na história da Reunião Nacional, enquanto o legado de Jean-Marie Le Pen permanece como um capítulo controverso na política francesa.