Militares ucranianos feridos e amputados negam se render aos russos em Azovstal
Na semana passada, os russos conseguiram entrar em Azovstal e iniciaram um conflito sangrento com as forças ucranianas
- Data: 11/05/2022 15:05
- Alterado: 11/05/2022 15:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Divulgação
Feridos sob os túneis da siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, mais de mil militares ucranianos resistem a um cerco das tropas russas que pode resultar no controle total da cidade e dar um domínio muito vantajoso para a Rússia na guerra da Ucrânia. Eles fazem parte do Batalhão de Azov, um grupo neonazista incorporado às forças militares ucranianas, e negam se render.
Na semana passada, os russos conseguiram entrar em Azovstal e iniciaram um conflito sangrento com as forças ucranianas. Após a batalha, uma série de fotos publicada no canal do Telegram do Batalhão de Azov mostram as condições precárias dos soldados após a batalha. Membros fraturados e amputados e rostos desfigurados aparecem em dezenas de fotos.
Segundo a vice-primeira-ministra ucraniana Irina Vereshchuk, a situação dos militares em Azovstal é cada vez mais terrível. Até a semana passada, centenas de civis também estavam escondidos na siderúrgica – que oferece proteção aos bombardeios russos por causa de um labirinto de túneis e bunkers subterrâneos -, mas eles foram retirados por uma missão da Organização das Nações Unidas (ONU).
As autoridades ucranianas pedem que a ONU também retire os soldados restantes na siderúrgica. Uma petição online com o mesmo pedido havia conquistado mais de 1,1 milhão de assinaturas até esta terça-feira, 10. Enquanto isso, a Rússia continua afirmando que eles devem pedir rendição.
Nesta quarta-feira, 11, Ilia Samoilenko, um dos comandantes do Batalhão Azov, descreveu o ambiente que se vive na siderúrgica de Mariupol neste momento. Num curto vídeo, o militar diz que a resistência ucraniana sofreu muitas baixas e os suprimentos estão perto do fim. “Por agora, o desfecho disso pode ser a nossa morte, ou sermos capturados pelo inimigo, que significa também a nossa morte”, afirmou.
Outro comandante, Sviatoslav Palamar, divulgou um vídeo na segunda-feira no qual reclama da falta de ajuda tanto por parte da Ucrânia quanto da comunidade internacional. “Não veio nenhum governante nem nenhuma organização internacional ao terreno da fábrica. Estivermos praticamente sozinhos este tempo todo. Não sei por quê. Não será possível no ajudarem? Será que fomos esquecidos?”, perguntou.
O controle de Mariupol é importante para os russos porque abriria mais um corredor entre a Crimeia, sob o domínio russo, e o restante da Ucrânia. Isso oferecia uma vantagem estratégica aos russos para batalhar no leste do país, na região separatista do Donbas.
Em 2014, na guerra que deu o domínio da Crimeia aos russos, os militares dos dois países entraram em conflito em Mariupol. Os russos chegaram a conquistar a cidade, mas o Batalhão de Azov, criado naquele ano, recuperou o poder em junho e meses depois foi incorporado a Guarda Nacional da Ucrânia.
A incorporação do batalhão foi criticada pela comunidade internacional. O Batalhão de Azov é acusado de vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra na Guerra Civil com os separatistas no leste da Ucrânia, que ocorre desde 2014, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias, segundo um relatório da ONU divulgado em 2016.
O cerco atual à usina de Azovstal dura mais de dois meses. Os russos venceram as forças ucranianas no restante da cidade, mas ainda não conseguiram o domínio de Azovstal.
Na semana passada, civis que saíram da usina relataram como foi estar sob os bunkers e túneis da usina. Segundo eles, no momento em que o bombardeio se intensificou em Mariupol, o armazém de alimentos da usina foi explodido. Os ucranianos passaram a buscar alimentos diversos lugares da usina, como armários de trabalhadores. O combustível para cozinhar se tornou raro, e os ucranianos passaram a usar desinfetante para as mãos, com um bom estoque devido à pandemia de coronavírus, para cozinhar.
Uma ucraniana identificada como Liubov Andropova, que também estava na usina, relatou que o lugar tremia à medida em que os bombardeios aconteciam na cidade. Aos poucos, o mofo apareceu e os civis passaram a compartilhar o espaço com eles. “A água escorria do teto e havia mofo em todos os lugares. Estávamos preocupados com as crianças e com os seus pulmões”, disse.
Apesar das condições dos últimos dias, o cerco continua e os militares ucranianos negam a rendição. Ao que parece, a situação se deteriorou após o conflito da última semana e os apelos ucranianos para salvá-los aumentaram.