Meio Ambiente precisa ter um nome com mais “credibilidade”, diz Zeina Latif
Economista que participou da série “Economia em Quarentena”, do Estadão, diz que governo precisa ter ações ambientais mais concretas e questiona sobre a permanência de Salles na pasta
- Data: 15/07/2020 09:07
- Alterado: 15/07/2020 09:07
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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A economista Zeina Latif defende um nome que, segundo ela, dê mais credibilidade ao comando do Ministério do Meio Ambiente. “Eu não entendo por que o ministro (Ricardo Salles) ainda está lá, uma vez que ele já vinha de um desgaste muito grande.” Segundo Zeina, investidores e empresários precisam ver ações concretas do governo sobre combate ao desmatamento e querem ouvir “menos blablablá.” A consultora econômica participou ontem da série de entrevistas ao vivo “Economia na Quarentena”, do Estadão.
Diante das incertezas provocadas pela pandemia do coronavírus, Zeina também defende que o governo dê uma sinalização firme da agenda de ajuste fiscal para a reconstrução do Brasil. “É muito importante o governo definir planos de voo, até para coibir outras demandas que venham de forma oportunista de um governo que não está com agenda clara.” Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Como o governo pode reconstruir a economia em meio à pandemia?
Quando a gente fala da economia pós-pandemia, o compromisso com a disciplina fiscal é um ingrediente importante. Se a gente rasgar esse compromisso do governo, o ambiente macroeconômico vai ficando mais incerto. O que faz para lidar com essa dura realidade de rombo e dívida pública crescente? Sinalizar que lá na frente tem esse compromisso com a disciplina. Neste momento, não tem isso. Não tem “a grande reforma” que a gente vai fazer. É muito importante o governo definir planos de voo, até para coibir outras demandas que venham de forma oportunista de um governo que não está com agenda clara.
O governo também está sob pressão para uma agenda ambiental mais clara de combate ao desmatamento. Como o tema pode afetar a economia?
É uma pressão muito grande para pedir ações concretas e de não querer mais ouvir blablablá. A gente não quer mais retórica. Considerando que a linguagem da diplomacia é sempre mais suave, vemos aqui que é bastante incisiva a questão. Acho lamentável que tenhamos de ter chegado a esse ponto. Acho muito ruim o Brasil não ter tomado iniciativas. Parece que é um país que não sabe fazer as coisas. Se a gente conseguir dar respostas, vai ser valorizado por isso.
É possível dar a resposta com o ministro Ricardo Salles no cargo? A gestão dele tem sido colocada em xeque.
Eu não entendo por que o ministro (Ricardo Salles) ainda está lá, uma vez que já vinha de um desgaste muito grande. Não quero ficar fazendo julgamentos se fez certo ou errado, se é competente ou não para a pasta. Aqui se fala de credibilidade. Um presidente do Banco Central tem de ter credibilidade. Um ministro da Economia tem de ter credibilidade e, o do Meio Ambiente, também. A gente está tratando de um tema sensível. Então, eu acho que tem de fazer uma troca (de comando no ministério) e contar com alguém com respeito da comunidade internacional e que tenha capacidade técnica e de diálogo.
O Brasil está perdendo investimentos por conta disso.
Já estamos perdendo, mas é difícil dar a magnitude disso. O assunto se tornou um tema do Banco Central. O presidente Roberto Campos Neto já tinha feito um alerta sobre o tema e é porque isso está impactando investimentos de toda a natureza.
Estamos vivendo um cenário de crise política em meio à pandemia. Será difícil sair desta crise?
A crise política, para começar, abala a confiança dos empresários. De novo, é difícil saber o tamanho disso. Na passagem do governo Michel Temer para o de Jair Bolsonaro, havia muita expectativa (positiva). Quando começou o governo, tudo estava muito atrapalhado com questões secundárias ou mesmo irrelevantes, tirando o presidente do foco. Medidas importantes precisam ser tomadas para não degringolar o ambiente macroeconômico.
O auxílio de R$ 600 deveria virar permanente? Será necessário, em sua opinião, continuar com a distribuição de renda?
O auxílio emergencial, como o próprio nome diz, era para ser emergencial. Não é um instrumento para distribuição de renda. É uma política pública muito bem-vinda, mas qualquer discussão de renda permanente tem de ser mais estudada. A gente tem de estimular a geração de emprego no Brasil. Medidas de distribuição de renda e diminuição da pobreza são um outro capítulo.