MEC quer combate à ‘doutrinação’
O MEC encaminhou ofício para secretarias municipais e estaduais de educação e entidades de classe determinando que as escolas adotem o "pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas"
- Data: 24/09/2019 10:09
- Alterado: 24/09/2019 10:09
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil
O oficio do Ministério da Educação também determina que evitem “propaganda político-partidária” nas escolas.
O projeto, que destaca que aos professores cabe “ensinar, não doutrinar”, foi denominado pelo ministério como Escola de Todos.
As diretrizes apresentadas pelo governo guardam semelhança com o que é postulado pelo Escola sem Partido – embora o movimento reivindique a existência de uma lei com regras sobre o tema. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que o comunicado tem como objetivo alcançar a cultura de paz na rede pública de ensino. “É um chamamento para ponderar, esvaziar as tensões”, justificou.
Para Weintraub, o texto é claro ao falar da necessidade da existência de um canal para que pais e diretores busquem soluções e para que “excessos de qualquer parte” sejam proibidos. “Não é para pegar professores. É para pegar excessos” completou. Não haverá fiscalização direta do governo, disse, mas os pais estão convidados a acompanhar de perto o que é ensinado e, caso estejam insatisfeitos, um canal de comunicação estará aberto.
Um dos objetivos do documento é que professores exponham em sala de aula todas as vertentes. “Não é correto puxar para um lado”, frisou o ministro. Questionado se isso deveria ser aplicado a questões como se houve ditadura no País ou se o nazismo era de direita ou de esquerda, o ministro afirmou que caberá ao professor “lecionar, não doutrinar”.
Ele procurou estabelecer relação entre o pluralismo de ideias e a paz escolar. E citou como exemplo um aluno com convicções ideológicas diferentes da maioria dos colegas que teria cometido suicídio. O combate à prática e ao bullying fazem parte da proposta. O ministro procurou afastar, porém, a relação entre o documento e o Escola sem Partido. Esse movimento político foi criado em 2004 no Brasil e divulgado em todo o país pelo advogado Miguel Nagib e tem como foco evitar a “doutrinação em sala de aula”. “O nome do documento é Escola de Todos. Que fique bem claro”, completou. Weintraub não esclareceu se o comunicado abre espaço para eventual proposta de lei sobre o tema. “Queremos uma escola de paz.”
Legislação
Em sua página oficial, o MEC destacou cinco direitos dos alunos, incluindo o de que “professores e comunidade escolar devem respeitar as crenças e convicções do estudante”. Segundo o ministério, o texto não inova, mas deixa claras legislações já vigentes.
Para a presidente executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, “não há nenhum estudo” que mostre existir doutrinação na escola. “A evidência que temos é que a relação aluno e professor é determinante para o aprendizado. E isso pode estar sendo rompido por uma medida sem evidência.” Ela também critica o envio do ofício sem diálogo prévio com municípios e Estados. /
As diretrizes
1. Ter um ensino ministrado com base no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, resguardada a liberdade de expressão, a tolerância de opiniões e o acesso, em sala de aula, às diversas versões, teorias e perspectivas sociais, culturais, econômicas e históricas;
2. Não ser prejudicado por história, identidades, crenças e convicções políticas ou ideológicas;
3. Não ser submetido a comunicação comercial inadequada – como propagandas político-partidárias – no ambiente escolar;
4. Seguir a religião que esteja de acordo com suas convicções;
5. Professores e comunidade escolar devem respeitar as crenças e convicções do estudante, desde que não incitem à violência, de forma a evitar qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.