Lula elogia irmãos Batista na JBS e diz que, se pudesse, faria decreto para prender quem mentir
Presidente visitou o Mato Grosso do Sul pela primeira vez neste mandato
- Data: 12/04/2024 17:04
- Alterado: 12/04/2024 17:04
- Autor: Redação
- Fonte: Folhapress/Silvia Frias e João Pedro Pitombo
Crédito:Ricardo Stuckert/PR
O presidente Lula (PT) visitou uma indústria de processamento de carne da JBS nesta sexta-feira (12), fez afagos aos empresários e irmãos Joesley e Wesley Batista e afirmou em que o Brasil não pode viver subordinado a mentira, maldade e intriga.
A visita aconteceu em uma unidade da empresa em Campo Grande (MS), onde o presidente acompanhou o primeiro embarque de carne para a China a partir de uma das fábricas da JBS que foram habilitadas para exportar ao país asiático. Ele foi recebido por Wesley e Joesley e pelo patriarca da família, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro.
Em discurso para uma plateia de cerca de 3.000 pessoas, Lula fez acenos à China, ao agronegócio e disse que o país precisa de tranquilidade e verdade para avançar política e economicamente.
“Eu, se pudesse, ia fazer um decreto, ‘é proibido mentir. Quem mentir, quem mentir vai ser preso’. Porque a gente não pode viver subordinado a mentira, a gente não pode viver subordinado a maldade, a gente não pode viver subordinado a intriga”, afirmou.
Ao cumprimentar as autoridades presentes, Lula elogiou o empresário Zé Mineiro, fundador da JBS, e disse que fica “sempre muito orgulhoso quando alguém consegue vencer na vida”. Na sequência, afirmou que o patriarca criou uma família predestinada a ter sucesso.
“Ele criou uma família, que é uma família que todas elas estão predestinadas a ter sucesso, e eu quero cumprimentar o Joesley, o Wesley aqui, que são os herdeiros primeiros deles, responsáveis por que essa empresa se transformasse na maior empresa produtora de proteína animal do mundo”, disse.
Depois, ao citar projeções de crescimento para a indústria automobilística no país, o presidente brincou com o empresário: “Até você vai poder comprar carro novo, Joesley.”
Lula destacou ainda que os chineses fizeram vistoria naquele frigorífico em 2018, no governo Michel Temer (MDB), mas na época as exportações não foram autorizadas. E lembrou que naquele ano estava na cadeia: “Eu estava preso na Polícia Federal, eu estava preso por conta da maior mentira já contada nesse país, que a história se encarregará de provar.”
Também disse que ser preciso construir um Brasil sem fake news, da mentira e acusações. Sem citar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), destacou que “as pessoas precisam saber que quem é eleito presidente da República não tem o direito de falar bobagem.”
O evento foi mais um ato da reaparição dos irmãos Batista no centro da vida empresarial e política do país. Ambos estavam afastados do conselho de administração da JBS desde maio de 2017, quando renunciaram aos cargos por pressão do mercado em meio a investigações da Operação Lava Jato.
Ambos firmaram um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, validado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2017.
Na época, Joesley disse em depoimento ter depositado aproximadamente US$ 150 milhões em contas no exterior, a pedido do ex-ministro petista Guido Mantega. Essas contas teriam sido usadas em benefício de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, e foi gasto, segundo ele, “tudo em campanha”.
Ele não afirmou ter tratado desse assunto diretamente com Lula ou com Dilma, apenas com Mantega, e disse que inicialmente nem sabia que o dinheiro tinha alguma vinculação com os dois. As defesas de Lula e Dilma sempre afirmaram que eles jamais solicitaram pagamentos ilegais.
Em março deste ano, os nomes de Wesley e Joesley foram apresentados para retornar ao conselho da empresa. No ano passado, os dois integraram comitiva do presidente Lula em viagem à China.
Uma estrutura para 3.000 pessoas foi montada na fábrica para receber o presidente. Do lado de fora, trabalhadores da indústria estenderam faixas em duas carretas com a frase “primeiro embarque para a China. Novos mercados”.
Ao todo, 38 fábricas brasileiras foram habilitadas para exportação, incluindo 24 de processamento de bovinos, 8 de frangos, uma de termoprocessamento e cinco entrepostos, segundo o Ministério da Agricultura.
O evento também teve a participação do governador Eduardo Riedel (PSDB), que em 2022 apoiou Jair Bolsonaro para a presidência desde o primeiro turno. Em discurso nesta sexta-feira, ele elogiou o presidente Lula.
“O presidente sempre foi um homem que respeita as diferenças, que em momento algum colocou oposição política acima da relação federativa da União com o Mato Grosso do Sul, e aqui no nosso estado não haverá nunca qualquer tipo de discussão que ponha a democracia em segundo plano”, disse.
A visita a Mato Grosso do Sul marca uma ofensiva de Lula para retomar pontes com o agronegócio. O setor está mais ligado ideologicamente ao ex-presidente Bolsonaro e a maioria de seus representantes no Congresso faz oposição à gestão petista.
Desde que assumiu a Presidência para seu terceiro mandato, Lula tem dado sinais trocados em relação ao agronegócio. De um lado, evitou referendar pautas de interesse do setor, como a lei aprovada pelo Congresso que instituída um marco temporal para demarcação de terras indígenas.
A tese do marco, defendida pela FPA (Frente Parlamentar Agropecuária), determina que as terras indígenas devem se restringir à área ocupada pelos povos na data da promulgação da Constituição Federal de 1988.
Por outro lado, Lula lançou no ano passado aquele que foi considerado Plano Safra da história, com liberação de até R$ 430 bilhões em crédito para o período entre 2023 e 2024.
Esta foi a primeira vez que o presidente faz uma visita oficial a um dos três estados do Centro-oeste no atual mandato. Com a economia ancorada no agronegócio, a região deu ampla maioria a Bolsonaro nas últimas duas eleições presidenciais.
Em junho do ano passado, o presidente participou de uma feira agropecuária em Luís Eduardo Magalhães (BA), ocasião em que defendeu uma conciliação entre pequenos e grandes agricultores e incentivou que os brasileiros joguem o “ódio na lata do lixo”.