Live da Semana: Bolsonaro diz que nunca se referiu à covid-19 como “gripezinha”
Contradizendo fatos, em sua live semanal, Bolsonaro fala inverdades e ataca Governadores e Lula. Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira, que nunca minimizou a gravidade da doença
- Data: 12/03/2021 09:03
- Alterado: 12/03/2021 09:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
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O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira, 11, durante a sua live semanal, que nunca se referiu à covid-19 como uma “gripezinha” nem minimizou a gravidade da doença. “Eu quero aqui, rapidamente, dar uma entrada, em especial àqueles que nos criticam sem qualquer base. ‘Ah, o governo abandonou no tratamento ao covid, ah, ele é antivacina, ele falou que era uma gripezinha’. Estou esperando alguém mostrar um áudio ou um vídeo dizendo que era uma gripezinha. Estou esperando”, declarou Bolsonaro.
No dia 26 de novembro de 2020, porém, conforme amplamente divulgado pela imprensa nacional e internacional, Bolsonaro chocou a população ao declarar, com todas as letras que, “depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar“. Naquele mês, o Brasil já ultrapassava a marca de 160 mil mortos pela doença.
Sem citar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro atacou o líder petista e seus ministros quando esteve à frente do Palácio do Planalto. O presidente se referiu a Lula como “o carniça” e “presidiário”.
“Aqueles que dizem que sou terraplanista… O carniça, ontem, falou que ele devia procurar o Marcos Pontes, que é nosso ministro de Ciência e Tecnologia, que esteve no espaço, pra ele dizer pra mim que a Terra é redonda. Olha a qualidade do meu ministro da Ciência e Tecnologia e a qualidade dos ministros do presidiário, pra depois começar a discutir“, disse Bolsonaro, em tom irônico, enquanto girava um globo terrestre colocado sobre sua mesa.
Os ataques a Lula continuaram. “E não é só a Ciência e Tecnologia. Veja o padrão de todos os ministros meus e daqueles do governo do PT lá atrás. Lá atrás, a especialidade era outra (faz sinal de roubo), com cinco dedos. E nós sabemos pra onde foi o Brasil. Então, essas críticas baratas não procedem“, declarou.
Bolsonaro mencionou datas nas quais ele teria mobilizado ações junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pela liberação de vacinas. Não mencionou o nome do governador de São Paulo, João Dória, mas o atacou diretamente, sob argumento de que Doria teria feito uso político da situação, “um cara que ficava falando besteira o tempo todo na televisão”.
O presidente disse que já está se “acostumando a sofrer e apanhar por tudo que os outros façam ou deixem de fazer” e mandou uma resposta aos governadores, que nesta semana se mobilizaram em um pacto pelo isolamento social e cuidados na disseminação da covid-19.
“Um recado aos governadores: todos nós estamos preocupados com a vida, mas uma pessoa sem salário, passando dificuldades e até mesmo com fome, pode levar a óbito”, declarou. “O Estado que fecha o comércio tem que pagar o auxílio emergencial também.”
INVERDADES
Em meia hora de discurso, Bolsonaro diz 5 inverdades sobre combate à covid-19 no País:
Dados de mortes por covid-19
O presidente disse que mortes ainda sob suspeita da covid-19 são somadas a dados oficiais para inflar números da pandemia. “Tenho vários atestados de óbito comigo. Várias comorbidades. E lá embaixo está escrito: ‘Suspeita de Covid’. Entra na estatística de morte por covid-19“, disse Bolsonaro, quando criticava determinações de governadores para reduzir a circulação de pessoas. Além de não apresentar provas, o presidente contradiz dados do próprio Ministério da Saúde.
OMS contra o lockdown
O presidente voltou a criticar medidas para evitar a circulação de pessoas para conter a propagação do vírus, como o fechamento do comércio não essencial e “lockdowns”. “O efeito colateral do combate ao vírus está sendo mais danoso que o próprio remédio. Lockdown não é remédio“, declarou. O presidente ainda afirmou que até a “desacreditada” Organização Mundial da Saúde (OMS) rejeita o lockdown.
Esta versão contrasta com recomendações de Jarbas Barbosa, vice-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da OMS na América. Em entrevista ao Estadão neste mês, Barbosa disse que o Brasil deve tomar medidas “enérgicas”, como um lockdown, senão a pandemia só irá piorar.
Corrida pela vacina
Bolsonaro também reagiu a críticas sobre demora para a compra de vacinas. “Abrimos pra comprar com praticamente todos os laboratórios, depois de aprovado pela Anvisa, como sempre disse”, afirmou. “A acusação de negacionista, terra planista, genocida, não cola. Demonstrei aqui que o governo tudo está fazendo, desde o começo. Não podemos eleger um responsável pelo seu insucesso. Todos nós somos responsáveis“, alegou o presidente.
Em 2020, porém, o presidente afirmou que não compraria a Coronavac, desenvolvida na China, por causa da “origem” do medicamento. Também rejeitou propostas da Pfizer e chegou a falar, em tom irônico, que o laboratório não responderia caso alguém se transformasse em jacaré após receber a dose.
Em dezembro, Bolsonaro também disse que a pressa pela chegada dos imunizantes “não se justifica” e que as farmacêuticas é que deveriam estar interessadas em negociar com o governo. “Pessoal diz que eu tenho que ir atrás. Não, quem quer vender (que tem). Se sou vendedor, eu quero apresentar”, disse Bolsonaro em 28 de dezembro. Na mesma ocasião, disse que não tomaria a vacina quando ela estivesse disponível.
Supremo restringiu ação do governo
Criticado por se omitir diante do avanço da covid-19 no País, Bolsonaro voltou a se defender distorcendo uma decisão do Supremo Tribunal Federal para se eximir de responsabilidade sobre o enfrentamento da pandemia. “Daqui a pouco a gente vai ter meia hora pra sair na rua. E nós continuamos ficando quietos. Vocês podem falar: ‘É um direito deles, de acordo com a decisão do Supremo’“, disse Bolsonaro, em referência ao toque de recolher imposto no Distrito Federal.
Diferentemente do que diz o presidente, a decisão do Supremo assegurou aos Estados e municípios autonomia para tomar medidas que tenham como objetivo tentar conter a propagação da doença, mas não exime a União de realizar ações e de buscar acordos com os gestores locais.
Ação na pandemia
Em outra declaração que representa uma distorção, Bolsonaro disse ter agido desde o início da pandemia. “Desde o primeiro momento, o nosso governo se preocupou e tomou medidas para conter o, ainda desconhecido, covid-19”, afirmou o presidente.
Apenas em março do ano passado, quando os casos do novo coronavírus já haviam chegado ao País e a OMS declarou a pandemia, Bolsonaro minimizou a doença. Após dizer se tratar de “histeria” e “fantasia”, convocou rede nacional de TV e rádio para dizer que não passava de uma “gripezinha”, além de dizer que a situação não poderia ser tratada como “se fosse o fim do mundo”.