Janja: O Preço de Ser Próximo do Prego
Nem sempre o peso e a pressão é carregado somente por quem senta na cadeira – mesmo na política –, ou ainda mais, às vezes a benção do herdeiro (ou cônjuge), pode bem ser uma tremenda maldição
- Data: 14/12/2023 16:12
- Alterado: 14/12/2023 18:12
- Autor: João Pedro Pschichholz Mell
- Fonte: ABCdoABC
Crédito:Reprodução Redes Sociais
A praga dos novos tempos, a mesma coqueluche de quem com ferro fere, desta vez acometeu a primeira-dama Janja Lula da Silva. Mas, não, desta vez não foi o tribunal das redes sociais, este que dificilmente é complacente com seus réus. Mesmo assim, desta vez, nada parou os corvos sedentos por sangue que morderam a vítima esperando a queda no sol escaldante. A ilustração é bizarra, mas trata-se da conta do X – antigo Twitter – da primeira-dama do Brasil, Rosangela ‘Janja’ da Silva, hackeada no início da semana, segunda-feira (11).
No mesmo dia o Palácio do Planalto havia divulgado por meio da secretaria de comunicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma nota com aquele comunicado padrão de sempre, que tão logo se soube de todos os fatos apurados e confirmado o incidente já havia sido informado à Polícia Federal (PF), e mais, que as autoridades já estavam com as investigações iniciadas para apurar o criminoso responsável. Na tarde do dia seguinte, terça feira (12), a Polícia Federal já havia cumprido quatro mandados até o fechamento desta matéria, e o que já se sabe é que um dos envolvidos é um homem de 25 anos, extremista, que produz conteúdo com viés nazista, chamado João Vítor Corrêa Ferreira, de Ribeirão das Neves (MG).
Em desabafo na primeira declaração após o episódio, a primeira-dama Janja Silva se disse “acostumada com ataques na internet”, e afirmou que o ataque sofrido é algo que “muitas mulheres sofrem diariamente”. É bom que se diga, nas mensagens haviam palavras claramente misóginas, onde contextos se intercalam com postagens que relacionam a primeira-dama quase sempre a mensagens de cunho sexual com opositores da ala bolsonarista, ou personalidades identificadas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O “choro e vela” do ensejo, se dá em forma de reclamação da ala oposicionista, quando (por exemplo), o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, o “04” Jair Renan, reclamou por ter tido seu telefone invadido pelo ex-assessor Diego Pupe, tendo suas conversas distorcidas e divulgadas de maneira constrangedora na internet de maneira pública.
Na ocasião, mesmo já não tendo seu pai na presidência, Renan pode finalmente sentir o real peso de ser filho do presidente de um país, e o outro lado sabendo que essa benesse tem benefícios, mas também traz carrega alguns amargos dessabores, nesse dia ele sentiu de maneira contundente o lado pesado de ser o herdeiro de um grande chefe de estado. O ponto jocoso da política, é que a oposição pintou e bordou (e até silenciando sobre quem gargalhou de dedo em riste), com as colunas de fofocas que questionavam a sexualidade do filho do ex-presidente. Sim, a mesma oposição que se diz progressista.
São estes, e seguem sob pontes maravilhosamente firmes e paradoxais em meio a seus universos que só a política é capaz de explicar. Em meio a guerra de narrativas e ou torcidas, no que tange ao espectro político, a base aliada do governo, demonstrou solidariedade e apoio em defesa da primeira-dama Janja Silva. Além disso, fizeram duras críticas aos criminosos por trás dos ataques-cibernéticos:
“Os responsáveis são canalhas criminosos (…), os covardes que compartilham e comentam destilando seu ódio, preconceito e violência também serão identificados”, afirmou o ministro-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Paulo Pimenta (PT). Outro aliado governista, foi o Ministro Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT), que manifestou total apoio a primeira-dama. “Este é o combate dos tempos atuais contra o fascismo e seus agentes criminosos”, afirmou o ministro Teixeira.
A primeira-dama vem sentindo o gosto do próprio veneno após passar 4 anos tecendo críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, desta vez experimenta o sabor e responsabilidade dos inimigos que nunca dormem. Agora, quase ao findar do primeiro ano deste retorno de mandato do governo Lula, não está sendo nada fácil estar do lado deste “balcão” (ou mesmo de se sentar próximo da cadeira do “chefe”), a cobrança é bastante pesada e diária. Há quem diga que não se pode errar em momento algum. Quem não se lembra do episódio do vídeo em que Janja aparece festejando, animada após um desembarque em Nova Délhi, na Índia? Neste dia, o grande problema foi o “timming” da comemoração.
Na época o país, em especial o estado do Rio Grande do Sul, enfrentava uma sequência de forte chuvas e cheias causando um número próximo de 50 mil mortes e 20 mil pessoas desabrigadas por todo o estado gaúcho. A dança do “Namastê”, feita pela primeira-dama na chegada da comitiva, na Índia não pegou bem para imagem da primeira-dama. Ela até tentou se explicar, e inclusive sobrevoou as regiões atingidas, mas já era tarde, o estrago já estava feito.
Nessa história de julgamento da internet, onde todo mundo acha que pode apontar o dedo e julgar o outro, o curioso de se observar sobre a tal “justiça dos homens” é que um dia todo mundo vai ser martelo, portanto é bom tomar cuidado com os tempos de vidraça, pois sim, eles sempre chegam. E mais, eles costumam cobram um preço bastante caro, seja na vida ou na política. Entretanto, é justamente na política que a cobrança se faz necessária, o único tribunal onde é realmente válido este tal poder, o do voto nas urnas. Por isso sempre é bom lembrar dos personagens e os episódios, já que gostamos tanto dessas temporadas como se fossem séries.
Então, no fim nas contas, acho que a lição que fica é, não importa o valor da “batida” (pancada), lado ou de onde vem o “punch” (a porrada). Contanto, que se tenha em mente uma coisa: se você não é o prego, ao menos, muito cuidado ao ser filho ou esposa de gente graúda (já dizia minha sábia vovó). Nunca se sabe quando o martelo vai aparecer, pois uma coisa é certa, como afago repentino, ele sempre pode chegar – assim, do nada –, onde se menos espera. Todos os provérbios chineses já nos alertavam sobre quem está em evidência, não adianta fugir ao fiel da balança, pois assim ele vem como afago repentino, feito “golpe” de martelo que sempre te alcança.