Já agradeceu ao criador do ar-condicionado hoje?
Conheça a história de Willis Carrier, inventor da aparelho que garante a sobrevivência em dias de calor infernal e herói das redes sociais
- Data: 15/11/2023 17:11
- Alterado: 15/11/2023 17:11
- Autor: Júlia Moura
- Fonte: Folhapress
Willis Carrier
Crédito:Reprodução
As recentes ondas de calor deram luz a uma nova religião: os devotos de Willis Carrier. O santo não-beatificado é responsável pelo milagre que é o ar-condicionado.
“Um luxo que eu não abro mão: ar condicionado. Deus abençoe quem criou esta lenda”, escreveu a influenciadora Nath Finanças no X (antigo Twitter). Nas respostas do tuíte, estava o retrato de Carrier, apelidado de santo. “Pode beatificar ele já”, comentou a internauta Dani Apocalíptica.
“Hoje irei acender uma vela para Willis Carrier“, tuitou Bruno Oliveira na última segunda (13), o dia mais quente do ano em São Paulo, com 37,4ºC.
Na terça (14), o influenciador Pedro Certezas publicou um vídeo para exaltar Carrier em suas redes. “Em 1902 não tinha geladeira! E o cara inventou o ar! Mudou o mundo! Esse moleque é um santo!”
O gênio fez isso aos 26 anos, no seu primeiro emprego após se formar em engenharia mecânica na Universidade Cornell, uma das melhores dos Estados Unidos.
Mas seus pais não eram acadêmicos. Eles tinham uma fazenda leiteira no estado de Nova York, onde Carrier trabalhava quando criança ao mesmo tempo em que estudava na pequena escola de apenas uma sala de aula que tinha em sua vila.
Aos 9, ele teve dificuldade para entender frações. Sua mãe, então, o ajudou com uma demonstração literal de fracionamento usando maçãs. Segundo Carrier, desde então, ele usou a mesma lógica simples para resolver problemas difíceis.
Quando terminou o ensino fundamental, não foi direto para o ensino médio. Passou a dar aulas na sua escola, ajudando nas contas de casa durante a crise econômica que acometeu os EUA no fim do século 19. Anos depois, foi para a cidade de Buffalo para terminar os estudos. Se destacou tanto que passou na Cornell com bolsa.
Ao se formar, foi contratado na Buffalo Forge Company, com um salário de US$ 10 por semana, o equivalente a US$ 357,76 (R$ 1.739) hoje, mais do que o salário mínimo (R$ 1.320).
No ano seguinte, sua vida mudaria para sempre. Não só ele se casou com sua colega de faculdade, Edith Claire Seymour, como inventou o ar-condicionado.
Inicialmente, a ferramenta foi feita para proteger as impressões de uma gráfica de Nova York, que sofria com umidade. Como o ar-condicionado deixa o ar seco no seu processo de refrigeração, ele foi a saída encontrada por Carrier para resolver o problema.
À época, já existiam tecnologias para esquentar, refrigerar e umidificar o ar, mas sem controle preciso. Também já se sabia que, ao refrigerar o ar, se reduzia sua umidade, condensando as partículas de água que estavam vaporizadas.
O que o engenheiro fez foi desenhar um sistema de bobinas de resfriamento com água gelada, extraída de um poço artesiano, que reduzia a temperatura ambiente até o ponto de orvalho. O sistema foi instalado na gráfica no verão de 1902 e foi capaz de manter uma umidade constante de 55% e de ter o efeito de resfriamento equivalente ao derretimento de 49 mil quilos de gelo por dia, segundo a Carrier, empresa criada pelo inventor, que funciona até hoje.
O americano registrou a patente de sua criação apenas em 1906, quando já estava claro que era um divisor de águas na indústria americana. Até então, o resfriamento era feito com gelo.
Em 1907, a invenção começou a se espalhar mundo afora, com a instalação do sistema de refrigeração em uma fábrica têxtil no Japão.
No mesmo ano, a Buffalo Forge criou uma subsidiária para cuidar do ar-condicionado, a Carrier Air Conditioning Company of America.
Nos anos seguintes, a empresa incluiu na sua lista de clientes gigantes como a Gillette, que precisava reduzir a ferrugem nas suas lâminas, e hospitais, que usavam a refrigeração na ala de bebês prematuros.
O início da primeira guerra mundial, em 1914, porém, gerou uma enorme incerteza econômica e interrompeu o crescimento meteórico da Carrier. A sua empresa-mãe, a Buffalo Forge, voltou a produzir apenas o básico, suas forjas portáteis e ventiladores industriais, e fechou a unidade de ar-condicionado.
Um ano depois, Carrier saiu da Buffalo para fundar sua própria empresa, a Carrier Engineering Corporation. O negócio foi bem-sucedido, tendo fábricas de armas para a guerra como um dos primeiros clientes.
Em 1925, a companhia instalou o seu produto no Cinema Rivoli, na Times Square, o que transformou o lugar como o novo point durante o verão nova-iorquino. Em seguida, vieram os primeiros vagões de trens refrigerados, em 1930. Sete anos depois, ficou pronto o primeiro navio com ar-condicionado, o japonês Koan Maru. Em 1946, foi a vez do primeiro ônibus metropolitano refrigerado, no Texas.
Em 1950, aos 74 anos, Carrier faleceu, deixando dois filhos.
Em 1985, ele foi incluído no Hall da Fama dos Inventores Nacionais dos EUA e, em 1998, nomeado umas das 100 pessoas mais influentes do século 20 pela revista Time.
A empresa, com forte presença no mercado global, sobreviveu a diversas crises econômicas e continua fornecendo sistemas de refrigeração até hoje.
No Brasil, seus produtos de refrigeração são comercializados principalmente para indústrias e empresas.
Listada na Bolsa de Nova York, ela vale US$ 44,5 bilhões (R$ 216,4 bilhões). Nos nove primeiros meses deste ano, seu lucro foi de US$ 929 milhões (R$ 4,5 bilhões).