Inadimplência de famílias dispara e impulsiona leilões de imóveis no Brasil
Endividamento das famílias atinge níveis críticos, revela estudo sobre crise habitacional e econômica nacional
- Data: 03/12/2024 11:12
- Alterado: 03/12/2024 11:12
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Casas
Crédito:Marcelo Camargo - Agência Brasil
Em meio a um cenário econômico desafiador, o número de imóveis levados a leilão no Brasil tem crescido de forma alarmante. Dados recentes revelam que, apenas no primeiro semestre de 2024, foram arrematados 44 mil imóveis, número que supera em dobro a soma dos dois anos anteriores, quando 9 mil propriedades foram leiloadas em 2022 e 26 mil no ano seguinte. Este aumento acentuado está intrinsecamente ligado às dificuldades financeiras enfrentadas por muitos brasileiros para honrar compromissos como financiamentos imobiliários.
Nas metrópoles brasileiras, o mercado de leilões de imóveis desponta como um dos setores mais dinâmicos da economia atual. A prática envolve a venda pública de propriedades ao maior lance ofertado, frequentemente resultando em descontos significativos. Segundo Natália Roxo, advogada especializada em direito imobiliário, houve um aumento impressionante de 80% nos leilões, com editais apresentando entre 800 e 1000 imóveis mensais, um salto considerável em relação aos cerca de 200 imóveis de anos anteriores. O processo de leilão é direto: após a notificação da dívida e um período de 15 dias sem pagamento, a propriedade pode ser consolidada e levada a leilão em até 60 dias.
Este crescimento nos leilões reflete uma realidade amarga para muitos: a perda do lar devido à inadimplência em dívidas de financiamento, condomínio e impostos. Economistas alertam que esse fenômeno não impacta apenas os devedores, mas gera efeitos mais amplos na economia nacional. Maria Paula Bertran, professora de Direito Econômico da USP, observa que o endividamento das famílias atinge níveis críticos, com cerca de 80% dos brasileiros atualmente endividados. Ela ressalta a importância de assumir compromissos financeiros compatíveis com o orçamento familiar, especialmente em um país marcado pela informalidade e por ciclos econômicos instáveis.
Casos como o da dona de casa Daniela Maya Lemos ilustram o drama humano por trás dos números. Daniela viu seu lar planejado e construído com esforço ser levado a leilão devido à impossibilidade de manter as prestações em dia. “Era a minha casa, era o meu lar. É onde a gente construiu, trabalhou para ter aquilo lá”, lamenta.
Este cenário impõe uma reflexão sobre os desafios do planejamento financeiro e da estabilidade econômica no Brasil. Enquanto alguns veem nos leilões oportunidades para aquisição de imóveis a preços reduzidos, para muitos outros representam o desfecho amargo de uma trajetória marcada por perdas e dificuldades financeiras.