Gravações indicariam envolvimento de Bolsonaro em rachadinhas quando era deputado
Gravações inéditas mostram suposto envolvimento direto de Bolsonaro, no esquema ilegal de entrega de salários de assessores quando exerceu mandatos de deputado federal (entre 1991 e 2018)
- Data: 05/07/2021 11:07
- Alterado: 22/08/2023 22:08
- Autor: Redação
- Fonte: Estadão Conteúdo, Uol, Poder360, valor
Gravações inéditas mostram suposto envolvimento direto de Bolsonaro em rachadinhas quando era deputado
Crédito:Reprodução
As três reportagens publicadas nesta segunda-feira, 5, na coluna da jornalista Juliana Dal Piva, do UOL, indicam que Jair Bolsonaro participava diretamente da “rachadinhas” – nome popular para uma prática que configura o crime de peculato (mau uso de dinheiro público).
O familiar que não quis devolver valor combinado do salário foi retirado do esquema. A fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, afirma que Bolsonaro demitiu irmão dela porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário de como assessor.
“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’.
André foi demitido em outubro de 2007 do gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Ele tinha sido contratado em novembro de 2006. Antes disso, André trabalhou de agosto de 2001 a fevereiro de 2005 e de fevereiro de 2006 a novembro do mesmo ano no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
As gravações foram obtidas com uma pessoa que teria conversado com Andreia sobre o esquema. A ex-cunhada do presidente falou sobre as rachadinhas para pelo menos duas pessoas de 2018 a 2019. O UOL afirma ter confirmado a autenticidade dos áudios.
Andrea também foi assessora do presidente durante anos. Ela trabalhou para Bolsonaro de setembro de 1998 a novembro de 2006, apesar de nunca ter morado em Brasília. Andreia trocou de lugar com seu irmão em 2006. Ele foi para o gabinete de Bolsonaro e ela, para o de Carlos, onde ficou até 2008. Depois disso, foi nomeada no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), onde ficou até 2018.
Ao ser informado sobre as gravações de Andrea Siqueira Valle, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha de 2022.
Wassef afirmou que os fatos narrados por Andrea “são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos”.
“Estão requentando a velha mentira de rachadinha que não conseguiram provar até hoje com áudio clandestino editado e fraudulento sobre fatos inexistentes de mais de 14 anos atrás. Jamais existiu qualquer esquema no gabinete do então deputado federal Jair M. Bolsonaro“, diz Wassef
Desde que foi revelado o esquema conhecido como rachadinha, no fim de 2018, Jair Bolsonaro sempre se esquivou do tema ou reagiu com rispidez quando foi questionado.
A notícia causou reação em políticos da oposição. O líder da Minoria na Câmara, Marcelo Freixo (PSB-RJ), considera a notícia uma “bomba”. “Jair faz agora na Presidência da República o que sempre fez como deputado“, escreveu o deputado em rede social, numa referência às recentes denúncias contra o presidente na compra da vacina Covaxin. “Os áudios são uma bomba porque mostram que Bolsonaro era o chefe, o 01, do esquema montado p/roubar dinheiro público através de funcionários fantasmas nos gabinetes da família”, afirmou. Conforme lamentou Freixo no Twitter, “é um governo de ladrões”.