Fundador de projetos para crianças é preso suspeito de ligação com pornografia infantil
Frade dominicano iniciou um projeto social de atendimento a crianças e adolescentes em São João del-Rei
- Data: 02/05/2023 10:05
- Alterado: 22/05/2023 16:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Comunicamos que usamos erroneamente a foto do senhor Delcio Paulo Carrara para ilustrar matéria sobre o “Fundador de projetos para crianças é preso suspeito de ligação com pornografia infantil”. Esclarecemos nosso erro e informamos que Delcio Paulo Carrara não tem qualquer relação com os fatos relatados. Pedimos desculpas pelo nosso erro.
Crédito:Divulgação
Uma operação da Polícia Civil de Minas Gerais prendeu, nesta quarta-feira, 3, na capital paulista, um frade católico de 54 anos. Conhecido por realizar projetos sociais de ajuda a crianças carentes, o frei dominicano Elvécio de Jesus Carrara é acusado de produzir e armazenar material pornográfico de menores. No momento da prisão, ele tinha fotos e vídeos pornográficos de adolescentes no celular. A polícia mineira identificou ao menos uma vítima: um adolescente de 17 anos, morador de São José del-Rei (MG).
O frade passou por audiência de custódia e, após a Justiça manter a prisão em flagrante, o religioso foi levado para uma unidade prisional da capital paulista. Telefones celulares e computadores apreendidos com frei Elvécio vão passar por perícia. Além da prisão do frei em São Paulo, a Operação Falso Profeta cumpriu cinco mandados de busca e apreensão em São João del-Rei e na cidade de Goiás (GO).
Conforme o delegado Evandro Radaelli, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) da Polícia Civil de Minas Gerais, o frade dominicano iniciou um projeto social de atendimento a crianças e adolescentes em São João del-Rei e depois expandiu o atendimento para a capital paulista. Atualmente, cerca de 300 crianças e adolescentes são atendidos pela ONG nas áreas educacional, cultural, esportiva e assistencial.
Segundo ele, ficou apurado que o padre se valia dessas atividades para manter relações de cunho sexual com adolescentes. No celular do religioso foram encontradas fotos de adolescentes nus. “Tudo indica que os abusos ocorriam por meio dessa ONG mantida pelo investigado, por meio da qual ele oferece serviços educacionais aos adolescentes. A (suposta prática de) pedofilia, nesse caso, era mascarada pela condição religiosa do investigado”, disse Radaeli.
A única vítima identificada é natural do município de Goiás, cidade do interior do Estado de Goiás, e foi chamada para participar da ONG, que mantém estudos e moradias para jovens em São João del-Rei. A investigação apontou que o frade dava presentes, pagava a escola e oferecia dinheiro para ganhar a confiança do adolescente. Ele também custeava a viagem e recebia visitas do rapaz quando estava em São Paulo, onde passou a morar. Segundo o delegado, como a investigação é recente, com a divulgação do caso podem aparecer mais vítimas.
Suspenso pela ordem
O frade passou a ser alvo de investigação pela polícia depois que a Ordem dos Pregadores (Dominicanos) recebeu denúncias contra ele. A Ordem abriu uma apuração canônica prévia para apurar os fatos e informou a polícia. “Desde então, ele foi proibido de exercer o ministério sacerdotal, de trabalhos que o levassem a ter contatos com menores, de frequentar as cidades de São Paulo e de Goiás. O religioso, contudo, estava desobedecendo a algumas das disposições”, disse, em nota, o frei André Luis Tavares, provincial dos Dominicanos no Brasil.
De acordo com o superior, o frade nunca teve permissão da igreja para abrir a ONG e manter as obras sociais que preside e para as quais arrecada fundos, fazendo isso por “iniciativa pessoal” e “à revelia das orientações das autoridades da Ordem no Brasil”. “Interessa à Ordem Dominicana que os fatos sejam apurados e esclarecidos, com transparência e responsabilidade, e que as devidas medidas legais sejam tomadas”, disse o provincial.
Graduado pelo Instituto Teológico de São Paulo em 1995 e com mestrado em Teologia desde 2002, frei Elvécio foi ordenado frade dominicano em 2006. Com graduação também em Filosofia e formação em gestão escolar, ele atuou como docente em colégios de Minas Gerais e da capital paulista. Em São Paulo, ele foi celebrante de missas no Colégio Rainha da Paz, onde não chegou a lecionar. Segundo a escola, em março deste ano, frei Elvécio se afastou da função alegando motivos pessoais e foi substituído por outro celebrante.
Em 2010, o frade fundou o Núcleo de Ação Cultural – Talento, Alegria e Solidariedade (Nac Tales) para atender crianças e adolescentes do bairro Colônia do Marçal, em São João del-Rei, e no Parque Bristol/Vila Caraguá, no Distrito de Sacomã, região sudeste da capital paulista. Segundo sua página oficial, o núcleo atende crianças, adolescentes e jovens, aliando práticas educacionais, esportivas, culturais e de assistência social ao desenvolvimento comunitário das famílias.
A direção do Nac Tales, em nota, informou que todas as atividades permanecerão sem qualquer alteração. “Faz-se necessário ressaltar que o ocorrido não tem qualquer relação direta com o trabalho realizado por esta ONG, motivo pelo qual manteremos firme nosso compromisso com o bem-estar das crianças e jovens, que é nosso único fundamento”, disse.
Também em nota, a Arquidiocese de São Paulo lembrou que o frei Elvécio já estava sob investigação canônica, proibido de exercer o sacerdócio, e manifestou seu “firme repúdio a toda forma de abuso contra menores ou adultos vulneráveis. Outrossim, solidariza-se com as possíveis vítimas e seus familiares, reiterando o empenho da Igreja Católica pela proteção dos menores adolescentes”.
A Ordem dos Pregadores (Dominicanos) tem como fundador São Domingos de Gusmão e foi confirmada pela Igreja Católica em dezembro de 1216, durante o pontificado do papa Honório III. Embora seja dirigida mundialmente por um mestre geral e, regionalmente, pelos freis provinciais, a ordem segue as diretrizes do Vaticano.
A reportagem entrou em contato com a defesa de frei Elvécio e ainda aguarda retorno.