Expectativas da Diplomacia Brasileira em Relação ao Governo Trump

Brasil e EUA: Diplomacia pragmática sob Trump promete novas parcerias e desafios, enquanto o Brics se destaca na cena global.

  • Data: 18/01/2025 11:01
  • Alterado: 18/01/2025 11:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress
Expectativas da Diplomacia Brasileira em Relação ao Governo Trump

Donald Trump

Crédito:Reprodução/Instagram

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A diplomacia brasileira antecipa uma abordagem pragmática nas relações com os Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump, que assumiu o cargo nesta segunda-feira (20). Apesar do discurso protecionista do novo presidente republicano, autoridades do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acreditam que o Brasil não será uma prioridade na agenda norte-americana em relação à América Latina.

Os membros do governo brasileiro apostam que o canal de diálogo mantido com o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, poderá servir como um elo para estreitar as relações com Washington, mesmo diante das tensões recentes entre os dois países. De acordo com fontes consultadas, a administração Trump, especialmente por meio do seu enviado para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, não deverá adotar uma postura agressiva de tarifas ou pressões diplomáticas contra o Brasil. Em vez disso, a expectativa é de que haja um aumento nos investimentos e parcerias como forma de contrabalançar a influência chinesa na região.

Além disso, integrantes do governo observam que não existem barreiras para que haja uma relação respeitosa entre Lula e Trump. Diferentemente da relação conturbada que Lula mantém com o presidente argentino Javier Milei, Trump nunca atacou pessoalmente o líder brasileiro.

Especialistas em relações internacionais compartilham a visão de que o Brasil não será tratado como uma prioridade pela administração Trump. Carlos Gustavo Poggio, professor na área, aponta que “o Brasil sempre esteve à margem das preocupações de Trump”, destacando que as declarações do presidente geralmente se concentram no México e na América Central. Por sua vez, Cristina Soreanu Pecequilo, da Unifesp, sugere que a visão dos EUA sobre o Brasil deve permanecer pragmática pelo menos até 2025, ano em que outros assuntos mais prementes, como Cuba e Venezuela, devem dominar a agenda americana.

Pecequilo também menciona que mudanças podem ocorrer em 2026, quando o Brasil realizará eleições presidenciais e os EUA enfrentarão as eleições legislativas conhecidas como midterms. Ela ressalta que, apesar das divergências ideológicas entre os dois países, os EUA não podem se dar ao luxo de se afastar do Brasil.

O Brasil sediará neste ano a cúpula do Brics, um grupo que se posiciona como alternativa à hegemonia global dos EUA e tem na China e na Rússia seus principais aliados geopolíticos. A administração Trump está atenta às iniciativas do Brics para reduzir a dependência do dólar americano, uma questão que é prioridade para a presidência brasileira.

No contexto da relação entre Brasil e EUA em relação à Venezuela, especialistas concordam que Washington pode pressionar Brasília para adotar uma postura mais rígida frente ao governo de Maduro. O governo Lula, historicamente aliado ao chavismo, busca equilibrar suas críticas enquanto mantém um canal diplomático aberto após a controversa reeleição de Maduro.

As ameaças de imposição de tarifas feitas por Trump durante sua transição foram recebidas com cautela pelo governo brasileiro. Enquanto há receio de sobretaxação por parte dos EUA, também existe a percepção de que políticas tarifárias restritivas contra outros países podem abrir espaço para produtos brasileiros no mercado americano.

Um setor particularmente promissor é o de minerais críticos estratégicos, essenciais para a transição energética e fabricação de semicondutores. Desde o final do ano passado, os EUA têm buscado fortalecer parcerias nesse setor com o Brasil como parte de sua estratégia para reduzir a dependência da China.

O agronegócio brasileiro também pode tirar proveito dessa nova dinâmica comercial; no entanto, enfrenta concorrência direta com produtos americanos em determinados mercados. Cristina Pecequilo alerta ainda para riscos estruturais oriundos da guerra comercial entre as duas maiores economias globais e suas consequências potencialmente desestabilizadoras para economias menores.

Adicionalmente, o desprezo de Trump por instituições multilaterais representa um desafio adicional para o Brasil. A defesa do multilateralismo é uma questão central da diplomacia brasileira e especialmente relevante sob o governo Lula, que busca reformas em organizações como o Conselho de Segurança da ONU e no Fundo Monetário Internacional.

Vale destacar que a administração Biden também não trouxe melhorias significativas nessa área; a Organização Mundial do Comércio permanece estagnada e a ONU não conseguiu evitar ou resolver conflitos em regiões como Gaza e Ucrânia.

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  • Data: 18/01/2025 11:01
  • Alterado:18/01/2025 11:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress









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