Estudo revela alta depressão entre mães cientistas
42% das entrevistadas sofrem com sobrecarga
- Data: 02/12/2024 18:12
- Alterado: 02/12/2024 18:12
- Autor: Redação
- Fonte: Agência Brasil
Saúde mental
Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil
Um estudo recente, apresentado como dissertação de mestrado em Ciências Biomédicas na Universidade Federal Fluminense, revelou dados preocupantes sobre a saúde mental de mães cientistas. A pesquisa destacou que 42% das mães entrevistadas apresentaram sintomas de depressão, um índice quase duas vezes maior do que o observado entre pais na mesma profissão, que foi de 22%.
A autora do estudo, Sarah Rocha Alves, associa esse quadro à sobrecarga imposta pelo acúmulo de responsabilidades domésticas e de cuidado infantil. Segundo Sarah, “historicamente, as mães têm carregado uma carga desproporcional na criação dos filhos”, uma percepção que os dados da pesquisa corroboram.
Informações adicionais da pesquisa indicam que as mães solo sofrem ainda mais, com uma taxa de sintomas depressivos 11 pontos percentuais superior àquelas que compartilham a criação dos filhos. Essa diferença também é evidente entre mães sem rede de apoio e aquelas que contam com alguma ajuda. Notavelmente, quase 60% das mães de crianças com deficiência e mais de 54% das mães negras mostraram alta probabilidade de apresentar depressão.
Os participantes do estudo responderam ao questionário PHQ-9, amplamente utilizado para identificar sintomas depressivos. A pesquisa foi conduzida entre março e junho de 2022, período marcado pelo abrandamento das restrições pandêmicas no Brasil. No entanto, mesmo com o retorno gradual às atividades normais, muitas dessas mulheres ainda enfrentavam desafios para equilibrar trabalho doméstico, cuidados infantis e suas carreiras acadêmicas. “A pandemia apenas exacerbou uma situação já esperada”, pontua Sarah.
Em relação às carreiras dessas cientistas, a sobrecarga não afeta apenas a saúde mental; ela também impõe barreiras significativas ao avanço profissional. Apesar das mulheres serem maioria nos cursos de graduação e pós-graduação, Sarah observa que a falta de políticas de apoio limita seu progresso para posições superiores. O movimento Parent in Science estima que a produtividade feminina pode sofrer um declínio duradouro por até seis anos após o nascimento dos filhos—a mesma queda não é observada em homens na paternidade. Esse fenômeno é conhecido como “teto de vidro”, simbolizando as dificuldades adicionais enfrentadas pelas mulheres para progredir em suas carreiras.
Para mitigar essas desigualdades, Sarah defende mudanças estruturais no ambiente acadêmico. Ela destaca iniciativas como a da Universidade Federal Fluminense, que concede créditos a pessoas com filhos em seus processos seletivos, e os editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro direcionados exclusivamente a cientistas mães. Além disso, menciona como avanço significativo a lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em julho, que prorroga os prazos de conclusão da educação superior para aqueles que se tornam pais.