Estudo mostra crescimento desordenado e desigualdade na mobilidade em 17 cidades
Levantamento revela dificuldades de acesso por mobilidade ativa, aplicativos e transporte público a emprego formal, educação e saúde
- Data: 01/08/2022 20:08
- Alterado: 01/08/2022 20:08
- Autor: Redação
- Fonte: 99
Crédito:Agência Brasil
Um estudo da 99, em parceria com a Multiplicidade Mobilidade, feito em 13 capitais brasileiras e 4 cidades de maior relevância econômica do País revela o quanto o crescimento desordenado e a desigualdade interferem na mobilidade e no acesso das populações periféricas a serviços de educação e saúde e empregos formais.
Para realizar a pesquisa foram usados dados públicos oficiais (como PNAD, IBGE, RAIS), bem como mais de 5 mil questionários respondidos por usuários da 99 sobre integração entre aplicativos e transporte público nas suas viagens, com o objetivo de medir a acessibilidade da população ao emprego formal, educação e saúde em 30 minutos (a pé, de bicicleta ou de aplicativo com até R$ 10) ou 1 hora de ônibus. O resultado mostra que a população vulnerável, especialmente as pessoas negras, teriam de gastar mais tempo em seus trajetos sem a integração com carros de aplicativos.
O estudo criou o IAC (Índice de Acesso à Cidade) para mostrar o quanto cada município está longe ou perto de proporcionar uma cidade que ofereça oportunidades iguais dentre as existentes em emprego formal, educação e saúde, independentemente de raça e local de moradia.
Nesse indicador Natal e Curitiba, oferecem mais de 50% de chances iguais em mobilidade para a população acessar oportunidades de emprego formal, saúde e educação, respectivamente 56% e 50,9%.
Santo André (44,1%), Fortaleza (42,3%), São Paulo (40,9%), Recife (40,5%), Belo Horizonte (38,3%), Goiânia (37,7%), Rio de Janeiro (37,2%), João Pessoa (35,4%), Campo Grande (33,9%), Vitória (29,6%), São José dos Campos (29,4%), Campinas (26,2%), Manaus (25,2%), Uberlândia (19,2%) e Teresina (15,3%) aparecem em seguida.
“O Índice de Acesso às Cidades recomenda intervenções que fomentem a equidade de oportunidades, alinhadas a Agenda 2030 da ONU que prioriza não deixar ninguém para trás. O investimento público e privado, bem como a oferta de serviços nas periferias, geralmente as áreas mais vulneráveis no Brasil, são fundamentais para alavancar um desenvolvimento social e econômico integrado, justo e resiliente a crises climáticas, financeiras, e sanitárias, como vivido recentemente com a pandemia do COVID”, afirma Diogo Souto Maior, Diretor de Relações Governamentais da 99.
Composição do IAC
O IAC é composto por dois subindicadores. O primeiro é o Índice de Acesso às Oportunidades em Prol da Redução de Desigualdades, que mede quantas oportunidades a população consegue acessar em 30 minutos (a pé, de bicicleta ou por meio de aplicativo) ou 1 hora de ônibus, com um importante e novo diferencial: o estudo dá maior peso para a população de predominância negra, que tende a ser a mais periférica. Isso evita distorções de dados que ocorrem quando se considera as médias nas cidades.
Quando analisado somente o IAOD, Natal tem 57,1% chances de acesso às oportunidades que podem ser acessadas em meia hora (a pé, de bicicleta ou por aplicativo) ou uma hora (ônibus).
Curitiba (47%), Recife (46,5%), Belo Horizonte (45,1%), Fortaleza (43,6%), Santo André (43%), Goiânia (37%), Rio de Janeiro (36,5%), São Paulo (34,6%), Vitória (32,5%), João Pessoa (30,6%), Campinas (29,6%), São José dos Campos (25,1%), Campo Grande (22,9%), Manaus (18,9%), Uberlândia (15,6%) e Teresina (12,6%) aparecem em seguida.
Apesar da grande densidade populacional dessas cidades, o estudo mostra que as oportunidades estão mal distribuídas e há um grande potencial para a integração com aplicativos, que ajudaria a melhorar o índice.
Isso mostra que as cidades precisam ser compactas e ter sobreposição de usos para conectar núcleos residenciais a comércio e serviços para favorecer menores deslocamentos com integração e redução de custos de investimento no transporte de massa.
O segundo subindicador é o Índice de Integração com Transporte Público (IATP), que busca medir as viagens integradas do aplicativo com o transporte público e o potencial de usuários dispostos a fazer viagens assim. Passageiros responderam se fizeram ou gostariam de fazer integração aplicativo/ônibus. Se uma cidade tiver 100%, isso indica que todas as viagens foram feitas ou teriam o potencial de ser realizadas com integração entre aplicativos e transporte de massa.
Na análise somente do IATP, apenas 6 das 17 cidades analisadas têm menos da metade do caminho para atingir o ponto ideal de integração entre aplicativo e ônibus. Campo Grande (78%), Curitiba (66,4%), São Paulo (66,2%), João Pessoa (54,7%), Natal (52,2%) e Manaus (50,4%) estão no grupo.
Santo André (48,6%), São José dos Campos (46,4%), Goiânia (40,5%), Rio de Janeiro (39,8%), Fortaleza (37%), Uberlândia (33,5%), Teresina (25,9%), Vitória (18%), Recife (16,2%), Campinas (12,8%) e Belo Horizonte (11,2%), vêm em seguida.
“As oportunidades estão distribuídas de forma desigual. O estudo chama nossa atenção para as desigualdades das cidades e como pessoas brancas chegam mais rápido e mais facilmente a serviços de saúde, educação e trabalho formal, reforçando como o CEP de uma pessoa diz muito sobre sua qualidade de vida”, afirma Glaucia Pereira, fundadora e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Multiplicidade Mobilidade Urbana.