Dólar abre em queda, com IPCA-15 e PIB dos EUA em foco
Por volta das 9h51, a moeda norte-americana recuava 0,15%, cotada a R$ 5,648 na venda
- Data: 25/07/2024 10:07
- Alterado: 25/07/2024 10:07
- Autor: Redação
- Fonte: FOLHAPRESS
dólar
Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil
O dólar abriu em queda nesta quinta-feira (25), conforme os investidores digeriam os dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos e do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgados mais cedo nesta manhã.
Por volta das 9h51, a moeda norte-americana recuava 0,15%, cotada a R$ 5,648 na venda.
O mercado analisava de perto os últimos resultados da chamada “prévia” da inflação, publicada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O IPCA-15 registrou nova desaceleração em julho, para 0,30%, superando a expectativa de 0,23% de analistas consultados pela Bloomberg. Em junho, a inflação foi de 0,39%.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 teve alta de 4,45% em julho, enquanto o mercado esperava uma taxa de 4,38% no período. No mês anterior, o índice ficou em 4,06% nesse recorte de tempo.
O IPCA-15 se difere da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, devido ao período de coleta, que ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação.
Por ser publicado antes, o índice sinaliza uma tendência para a contagem oficial de preços do país.
O IPCA, por sua vez, é baseado em dados levantados apenas no mês de referência, e será divulgado no dia 9 de agosto. Por isso, o resultado fechado de julho ainda não aparece completamente na coleta do IPCA-15.
As leituras de inflação são um dos termômetros usados pelo BC (Banco Central) para decidir sobre a taxa básica de juros do país, a Selic, hoje em 10,50% ao ano.
“O resultado de hoje não é suficientemente ruim para mudar a postura do Banco Central na decisão de juros semana que vem. Apesar de um IPCA-15 acima do consenso com efeitos sazonais, o contexto ainda é de desaceleração da inflação ao longo dos meses”, avalia Beto Saadia, economista e diretor da Nomos Investimentos.
O PIB dos Estados Unidos também era analisado de perto pelos agentes financeiros. A economia do país cresceu mais rápido do que o esperado no segundo trimestre, mas a inflação diminuiu, deixando intactas as expectativas de um corte na taxa de juros pelo Federal Reserve em setembro.
O Produto Interno Bruto aumentou a uma taxa anualizada de 2,8% no último trimestre, informou o Departamento de Comércio. Economistas consultados pela Reuters previam que expansão do PIB de 2,0%. As estimativas variavam de 1,1% a 3,4%. A economia cresceu a uma taxa de 1,4% no primeiro trimestre.
As autoridades do banco central dos EUA consideram um ritmo de 1,8% como a taxa de crescimento não inflacionária.
Na véspera, o dólar fechou em alta de 1,23%, a R$ 5,656, e a Bolsa teve leve queda de 0,13% aos 126.422 pontos. O dia foi marcado por pressão de commodities no exterior, em especial o minério de ferro, em meio, também, à recuperação da moeda japonesa.
O iene tem acumulado ganhos contra a divisa norte-americana em meio a suspeitas de intervenção cambial das autoridades e à especulação sobre se o Banco Central do Japão elevará os juros em reunião na próxima semana.
Um iene valorizado ante o dólar e a possibilidade de diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverter operações de “carry trade”, isto é, quando tomam ativos em locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos. Isso provoca uma fuga de capitais de emergentes para sustentar essa reversão no mercado japonês.
Os ativos emergentes também foram impactados por uma fraqueza dos preços de commodities diante da piora nas perspectivas econômicas da China, grande importadora de matérias-primas.
A queda do minério de ferro, em particular, prejudica o Brasil. A matéria-prima da siderurgia teve mais um dia de fortes perdas na Bolsa de Dalian, atingindo o menor valor em mais de três meses.
“As quedas fortalecem o dólar contra moedas de países que são fortes exportadores, porque as commodities contribuem com uma fatia alta na balança comercial desses países”, afirma Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.
Na cena doméstica, o mercado seguiu de olho no fiscal. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou panos quentes sobre temores de investidores quanto às contas públicas, dizendo que “haverá cortes de gastos sempre que necessário”.
O mercado, porém, segue cauteloso. O governo divulgou, na segunda-feira, o Relatório Bimestral de Despesas e Receitas, que trouxe detalhes sobre o contigenciamento de R$ 15 bilhões no Orçamento anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) na semana passada.
Com o documento, o governo confirmou a necessidade de bloqueios em verbas de ministérios para levar a projeção de déficit primário em 2024 a R$ 28,8 bilhões exatamente no limite inferior da margem de tolerância da meta de déficit zero.
“Agora, ou as economias provenientes da revisão dos benefícios fiscais se mostram tão significativas quanto o governo prevê, ou a situação pode se tornar crítica”, avalia André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.
“Um déficit primário acima de R$ 28,8 bilhões, que é o limite do novo arcabouço fiscal, poderia minar a confiança no governo e causar uma nova disparada no câmbio, semelhante ao ocorrido no segundo trimestre do ano.”
No exterior, o mercado continuou atento aos desdobramentos das eleições nos Estados Unidos. Joe Biden anunciou, no domingo, que não será mais candidato à reeleição e endossou a candidatura de Kamala Harris, sua vice-presidente.
A perspectiva de um novo mandato de Donald Trump na presidência dos EUA havia afetado o apetite por risco em mercados emergentes. Temores de uma política comercial restritiva e uma política externa isolacionista geraram pressão em uma série de moedas, incluindo o real.
“A decisão de Biden mexe com os mercados porque a chance de Trump ganhar diminui, então isso ‘enfraquece’ a chance da política ficar mais protecionista, o que enfraquece o dólar”, afirma Hemelin Mendonça, educadora financeira e sócia da AVG Capital.