Desabamento da Ciclovia é Imperdoável

Bombeiros procuram terceira vítima; frequentadores comentam o momento no qual parte da ciclovia desabou. "Parei para me segurar e, quando eu olhei, não tinha mais ...”

  • Data: 22/04/2016 09:04
  • Alterado: 22/04/2016 09:04
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Desabamento da Ciclovia é Imperdoável

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Duas pessoas morreram na quinta-feira, 21, no desabamento de um trecho da Ciclovia Tim Maia, que liga os bairros do Leblon e São Conrado e foi inaugurada pela prefeitura do Rio há três meses. Até o fim da quinta-feira, bombeiros procuravam uma pessoa desaparecida. Especialistas consideram que houve uma falha na construção, um dos legados da Olimpíada de 2016, mas caberá à perícia avaliar se o problema aconteceu no estudo da área, no projeto ou na execução.

O engenheiro Antonio Eulálio Pedrosa, do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), acredita que o desabamento tenha sido motivado pela falta de planejamento adequado da obra. “Ela (a ciclovia) não estava preparada para esse impacto. Não se previu a força excepcional da onda”, avaliou.

Também o especialista em análise de risco e segurança Moacyr Duarte, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), considera que uma falha em algum momento do projeto de construção deve ser analisada. E criticou o fato de a ciclovia não ser interditada em casos de ressaca e ventania. “O guarda-corpo dela nem é muito alto. O simples fato de a água chegar à pista já assusta as pessoas. Elas podem cair lá embaixo ou se acidentar na pista mesmo e se machucar.”

Após o acidente, a área foi interditada, assim como a Avenida Niemeyer, sem previsão de liberação. Este não foi o primeiro problema na ciclovia. Passados seis dias da inauguração, em 17 de janeiro, foram detectadas falhas no guarda-corpo de estrutura metálica da via. Também houve queixas de assaltos.

AS MORTES
O engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, e Ronaldo Severino da Silva, de 60, aproveitavam o feriado de sol, às 11 horas, quando foram tragados pelas ondas do mar de São Conrado, que estava de ressaca. A busca por uma possível terceira vítima prossegue nesta sexta. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a ruína.

BOMBEIROS PROCURAM POSSÍVEL TERCEIRA VÍTIMA DE DESABAMENTO DE CICLOVIA NO RIO
O Corpo de Bombeiros retomou na manhã desta sexta-feira, 22, as buscas a uma possível terceira vítima do desabamento da ciclovia Tim Maia, na zona sul. Uma embarcação e motos aquáticas percorrem as áreas próximas à ciclovia. Um helicóptero também sobrevoa a região. Quarenta bombeiros participam da operação. Um navio patrulha da Marinha dá apoio às buscas e mantém afastadas embarcações que tentam se aproximar da região.

Nesta quinta-feira, 21, foram resgatadas duas vítimas – o engenheiro Eduardo Marinho Albuquerque, de 54 anos, e Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos. Mas testemunhas disseram ainda que uma mulher percorria de bicicleta a ciclovia no momento do acidente e também teria sido jogada ao mar.

O comandante das Unidades de Salvamento Marítimo, Marcelo Pinheiro, disse que ainda poderia haver um corpo no mar, preso em alguma fenda junto às pedras. Pode ser ainda que a correnteza tenha levado essa terceira vítima para longe. O helicóptero sobrevoará as regiões mais distantes do ponto do acidente.

O prefeito Eduardo Paes (PMDB) estava viajando para Atenas, para a cerimônia de acendimento da tocha olímpica, mas voltou ao Rio. Ele marcou uma reunião com o secretariado para a manhã desta sexta-feira.

ONDAS DE 4 METROS
As ondas chegavam a 4 metros de altura e batiam no costão da Avenida Niemeyer. Uma corrente de água, vinda de baixo para cima levantou o leito da passarela e derrubou um trecho de 50 metros por onde passavam ciclistas e pedestres.

A dona de casa Karina Vianna, de 38 anos, contou que pedalava sua bicicleta quando parou por causa das ondas. Logo, viu uma onda mais forte arrancar a pista construída sobre pré-moldado, cerca de 20 metros à frente, onde estavam dois homens. “Parei para me segurar e, quando eu olhei, não tinha mais (o trecho)”, relatou, emocionada. “Tremeu, tremeu muito.”

‘VI A ESTRUTURA DESMORONAR COMO SE FOSSE PAPEL’, DIZ MORADOR
Morador de São Conrado, o administrador Guilherme Miranda, de 42 anos, que usava a Ciclovia Tim Maia todos os dias desde a inauguração, estava próximo no momento do acidente e testemunhou a queda de pelo menos três pessoas no mar. “Vi a estrutura desmoronar como se fosse de papel”, relatou.

Segundo o administrador, as vítimas despencaram no mar e os corpos boiaram por cerca de 30 minutos até a chegada dos bombeiros. “Aqui é um lugar que tem ressacas de, no mínimo, o dobro do tamanho dessa. Como o governo entrega uma obra frágil assim?”, questionou, referindo-se à fama das ressacas em São Conrado – não raro as ondas, grandes e fortes, invadem o calçadão da praia.

O engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, corria na ciclovia quando as ondas destruíram o trecho onde ele estava. O capitão médico da Aeronáutica João Ricardo Tinoco, cunhado dele, foi quem reconheceu o corpo.

“Era um dia de lazer, de sol, de contemplar a natureza, e a desgraça surge no caminho de quem só queria o bem. É inadmissível”, desabafou Tinoco na Praia de São Conrado, onde os corpos foram deixados por guarda-vidas do Corpo de Bombeiros, que os recolheram no mar.

Albuquerque morava em Ipanema e corria de casa até o Leblon para chegar então à ciclovia – um trajeto comum entre as pessoas adeptas da corrida e que vivem na região. A mulher do engenheiro a médica Eliane Albuquerque, soube do desabamento pela televisão e desconfiou que o marido pudesse estar entre as vítimas. Ao ver o corpo na praia, ela se desesperou e se mostrou indignada. O casal tem um filho de 15 anos.

Irmão de Eliane, Tinoco estava perto da ciclovia no horário do acidente e recebeu um telefonema da médica para que fosse até a praia. “Minha irmã ficou desconfiada ao saber da queda da ciclovia. Como o marido havia saído para correr, ela associou e pediu para que eu visse os mortos. Infelizmente, reconheci o corpo de meu cunhado.”

À noite, a segunda vítima foi identificada como Ronaldo Severino da Silva, de 60 anos. Há ainda a possibilidade de ter morrido também uma terceira pessoa.

DESESPERO
O aposentado Damião Ribeiro, de 60 anos, pescava na Avenida Niemeyer e foi surpreendido por uma onda maior do que de costume. “Estava pescando quando uma onda enorme veio e suspendeu uma das peças na base da pista. Um casal e uma pessoa que tirava fotos na mureta da pista caíram. Não deu para socorrer.”

“Por sorte não morri”, disse o manobrista de carros Gerson Magalhães, de 33 anos, que também passeava de bicicleta no momento do acidente. “Estava passando com muito medo porque as ondas estavam fortes e molhavam a pista. Quando vi que elas ficavam ainda maiores, acelerei a bicicleta e passei pelo trecho que desabou segundos antes dele ruir.”

Morador da Favela do Vidigal, na frente da ciclovia, Juan Reis, de 16 anos, tentou alertar duas mulheres que caminhavam a sua frente, uma de cerca de 18 e outra de 40 anos, sobre o perigo das ondas.

“Como sou surfista, alertei a senhora que estava na ciclovia para ela se retirar, pois as ondas estavam muito fortes, mas ela não me ouviu e continuou. Quando a onda veio, eu acelerei. Cheguei a me molhar. As duas mulheres caíram”, contou o adolescente. 

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  • Data: 22/04/2016 09:04
  • Alterado:22/04/2016 09:04
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  • Fonte: Estadão Conteúdo









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