Delator disse que combinou caixa 2 de R$ 2 mi com tesoureiro de Alckmin em 2014
Depoimentos foram prestados em 2019 e juntados agora aos autos do pedido de homologação dos acordos com a Ecovias feito pelo MP
- Data: 19/10/2022 17:10
- Alterado: 19/10/2022 17:10
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
O ex-CEO do grupo Ecovias, Marcelino Rafart de Seras, disse em depoimento ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) que o ex-secretário de Planejamento do Estado, Marcos Monteiro, nomeado na gestão do então governador Geraldo Alckmin (PSB), pediu para a concessionária pagar mais de R$ 2 milhões em caixa dois para a campanha eleitoral do ex-tucano.
A versão foi apresentada na colaboração premiada com a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público. Os depoimentos foram prestados em 2019 e juntados agora aos autos do pedido de homologação dos acordos com a Ecovias feito pelo MP. A reportagem teve acesso a quatro depoimentos de Marcelino Rafart de Seras.
O engenheiro afirmou que o dinheiro foi usado como caixa dois na campanha de Alckmin em 2014. O termo de depoimento diz que Monteiro, então tesoureiro da campanha, “pediu valor superior”, mas o CEO da Ecovias “apenas ofertou” R$ 2 milhões. A negociação teria se desenrolado durante um almoço em um restaurante na rua Amauri, no Itaim Bibi, na zona Oeste da capital paulista.
O montante acertado, segundo o delator, foi “acondicionado em mochilas pretas” e entregue em duas levas em seu próprio escritório na Vila Olímpia, bairro na zona Sul de São Paulo, em julho de 2014. Monteiro também foi citado na delação de executivos da Odebrecht.
A reportagem já havia revelado que Seras disse na delação que ter repassado mais de R$ 4,5 milhões para as campanhas de Alckmin ao governo do Estado em 2002, 2010 e 2014 e para a Presidência da República em 2006.
Quando surgiram as primeiras informações sobre as revelações do ex-presidente da Ecovias, Alckmin rebateu as alegações do delator. O ex-governador afirma que, apesar de não conhecer os termos da colaboração, “sabe que a versão divulgada não é verdadeira”. Ele “lamentou” o que chamou de “acusações injustas” feitas em ano eleitoral e alegou que, durante seu governo, “ordenou diversas ações contra os interesses de concessionárias”.
A investigação foi arquivada na esfera eleitoral. O Ministério Público Eleitoral considerou que já havia passado muito tempo desde os supostos pagamentos. A Polícia Federal (PF) também concluiu o inquérito sem iniciamentos por avaliar que as acusações do delator não ficaram provadas.
A decisão da Justiça Eleitoral e o encerramento das investigações da PF, no entanto, não inibiram os promotores do Ministério Público de São Paulo que prosseguem com uma apuração baseada na colaboração do ex-CEO da Ecovias. O objetivo dos promotores é processar políticos que abasteceram suas campanhas eleitorais com recursos via caixa 2 para que restituam ao Tesouro esses valores – corrigidos desde a data dos repasses.
Os promotores também querem recuperar os valores não pagos por 11 concessionárias de rodovias (a título de outorga), incluindo a CCR, que administra as rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Castello Branco. O prejuízo ao Estado pode ter atingido mais de R$ 10 bilhões. Apenas a Ecovias está livre, porque já se comprometeu e está pagando R$ 750 milhões nos acordos homologados.
COM A PALAVRA, ALCKMIN
A reportagem pediu nova manifestação do ex-governador Geraldo Alckmin, via assessoria de imprensa, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço está aberto.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE MARCOS MONTEIRO
A defesa de Marcos Monteiro vem, novamente, esclarecer que todas as contribuições realizadas para a campanha ao Governo do Estado de São Paulo, de 2014, foram devidamente registradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral, inexistindo qualquer contribuição eleitoral não declarada. Repudia-se, portanto, quaisquer declarações de falsos paladinos da Justiça, especialmente as prestadas pelo Sr. Marcelino, em procedimento cuja conclusão foi pela absoluta ausência de provas de corroboração.