Covid-19: Vacina da Universidade de Oxford é altamente eficaz

Vacina previne não apenas doença, mas a infecção também, é mais barata e mais fácil de armazenar e distribuir, o que a diferencia dos concorrentes Pfizer e Moderna

  • Data: 23/11/2020 09:11
  • Alterado: 23/11/2020 09:11
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Covid-19: Vacina da Universidade de Oxford é altamente eficaz

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O laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford anunciaram nesta segunda-feira, 23, em comunicado conjunto, que a vacina contra a covid-19 que estão desenvolvendo alcançou eficácia de 90%. Segundo os pesquisadores, diferente de outros imunizantes, este pode ser armazenado na geladeira, o que é um fator importante para a logística de distribuição e armazenamento especialmente em países como o Brasil.

Nos testes, a vacina de Oxford foi administrada de duas formas diferentes: na primeira delas, os voluntários receberam metade de uma dose e, um mês depois, uma dose completa. Nesse grupo de voluntários, a eficácia foi de 90%. Já no segundo grupo, que recebeu duas doses completas da vacina, a eficácia foi reduzida a 62%. Esses dois resultados permitiram obter eficácia média de 70%. Essas conclusões foram possíveis a partir dos testes de fase 3 – a última etapa dos estudos – realizados na Inglaterra e no Brasil.

As fases 1 e 2 dos estudos já haviam apontado que a vacina é segura e induz a produção de anticorpos e a resposta imune das células T em todas as faixas etárias, incluindo idosos.

Nenhum evento grave relacionado à segurança da vacina foi confirmado e o imunizante não apresentou efeitos colaterais graves em nenhuma das duas formas de aplicação. A eficácia e segurança desta vacina confirmam que será muito competente contra a covid-19 e que terá um impacto imediato nesta emergência de saúde pública“, disse o CEO da AstraZeneca, Pascal Soriot, em um comunicado.

O mais importante, pelo que soubemos, é que a vacina parece prevenir a infecção, não apenas a doença. Isso é importante porque a vacina poderia reduzir a disseminação do vírus também e proteger os vulneráveis de uma doença grave“, disse Peter Horby, professor da Universidade de Oxford. Os resultados sugerem que as duas aplicações – com metade da dose ou as duas doses completas – podem prevenir a transmissão do vírus, evidenciada pelo número pequeno de infecções assintomáticas entre os vacinados.

Horby também ressaltou que a vacina pode ser “armazenada na geladeira, diferentemente das outras vacinas (da Pfizer e Moderna, que precisam ser armazenadas no congelador), o que é uma solução mais prática para o uso ao redor do mundo“. Segundo comunicado de Oxford, vacinas baseadas na mesma tecnologia já são usadas há décadas e são estáveis, fáceis de produzir, transportar e estocar. Os imunizantes podem ser conservados em temperaturas de geladeiras domésticas, de 2ºC a 8ºC, o que facilita a distribuição, pois pode ser facilmente armazenada.

A análise interina foi possível a partir do registro de 131 casos de covid-19 entre os participantes. Um grupo de voluntários recebeu a vacina contra a covid-19 e outro recebeu uma vacina já aprovada contra meningite.

Embora a eficácia da vacina de Oxford seja um pouco menor que a das concorrentes norteamericanas, os dados apresentados nesta segunda-feira aumentam a expectativa sobre as chances de desenvolver várias vacinas eficazes, utilizando diferentes abordagens. Especialistas em saúde pública dizem que o mundo vai precisar de muitas vacinas para atender a demanda global.

A vacina ChAdOx1 nCoV-19 é feita a partir da modificação de um adenovírus causador de gripes comuns em chimpanzés, alterado geneticamente para não causar a doença em humanos. A combinação com uma proteína encontrada na superfície do coronavírus instrui as células do corpo humano a combater o vírus causador da covid-19. Essa tecnologia é diferente da utilizada pela Pfizer/BioNTech e Moderna, baseada no RNA mensageiro, e que necessita de armazenamento a temperaturas abaixo de -70 graus celsius.

A AstraZeneca – uma das empresas mais valiosas do Reino Unido – vai se preparar imediatamente para submeter esses resultados às agências regulatórias ao redor do mundo, inclusive a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A empresa também vai solicitar autorização de uso emergencial à Organização Mundial de Saúde (OMS) para acelerar a disponibilidade da vacina em países subdesenvolvidos. Ao mesmo tempo, uma análise completa dos resultados deve ser feita por pesquisadores independentes. Os dados ainda serão enviados para publicação em uma revista científica.

De acordo com a Universidade de Oxford, novos casos devem ser registrados até a análise final. Estudos futuros vão determinar a duração da imunidade contra o coronavírus. Os testes clínicos envolveram mais de 24 mil voluntários no Reino Unido, Brasil e África do Sul e devem continuar até a análise final dos estudos. Outros testes estão sendo conduzidos nos Estados Unidos, Kênia, Japão e Índia e, ainda segundo Oxford, os pesquisadores esperam ter 60 mil participantes até o final do ano.

Testes

Dos 24 mil voluntários dos estudos clínicos, cerca de 10 mil são brasileiros. Os testes estão sendo realizados no Brasil desde junho, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Natal, Porto Alegre e Santa Maria. Em outubro, um dos voluntários brasileiros morreu em decorrência da covid-19. Uma fonte envolvida no estudo afirmou ao Estadão que ele estava no grupo de participantes que receberam placebo. Os especialistas concluíram que não havia risco para os voluntários e, por isso, os testes não foram interrompidos.

Em setembro, os testes chegaram a ser suspensos em todo o mundo, após ser registrado um evento adverso grave entre um dos voluntários. O jornal The New York Times revelou que o participante teve mielite transversa, síndrome inflamatória que afeta a medula espinhal e costuma ser desencadeada por infecções virais. Os testes foram retomados após ser constatada que a relação risco/benefício ainda era favorável.

Aposta

A vacina de Oxford é a principal aposta do governo brasileiro, que investiu cerca de R$ 2 bilhões para viabilizar a compra, processamento e distribuição de 100 milhões de doses do imunizante. O recurso foi destinado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que tem um acordo com a Universidade de Oxford e a AstraZeneca, e já se prepara para começar a produção de 210 milhões de doses do imunizante em janeiro de 2021.

Em entrevista ao Estadão, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, estimou que a vacinação pode começar em março, mas adiantou que “não vai haver uma aplicação em massa da vacina” nesse primeiro momento. Segundo ela, “Terá que haver algum critério de priorização, mas isso ainda não foi definido.”

A Anvisa faz análise contínua dos resultados das pesquisas da vacina de Oxford. Os estudos pré-clínicos, feitos em animais e laboratórios, já foram analisados pela agência, o que pode acelerar o processo de aprovação do imunizante no País. Na última semana, a Anvisa

Corrida pela vacina

Na última semana, as farmacêuticas Pfizer e BioNTech anunciaram a conclusão da fase final de testes clínicos, que apontou eficácia de 95% da vacina. A agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos (FDA) deve se posicionar sobre a liberação do uso do imunizante a partir de 10 de dezembro. Após o possível aval nos EUA, a Pfizer deve enviar à Anvisa um pedido de autorização de uso da vacina no Brasil. A empresa afirmou que fez uma proposta ao governo federal e teria condições de “imunizar milhões de brasileiros” no 1º semestre de 2021.

A Moderna, empresa americana de biotecnologia, anunciou, também na semana passada, os resultados preliminares da fase final de estudos clínicos da vacina desenvolvida pela companhia, que apontaram 94,5% de eficácia. A Moderna deve concluir os testes nas próximas semanas.

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  • Data: 23/11/2020 09:11
  • Alterado:23/11/2020 09:11
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  • Fonte: Estadão Conteúdo









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