Copa do Brasil: treinadores semifinalistas assumiram clubes durante temporada
Corinthians e São Paulo decidem no Morumbi uma das vagas, enquanto o Flamengo precisa apenas de um empate contra o Grêmio para avançar para a final
- Data: 16/08/2023 15:08
- Alterado: 01/09/2023 18:09
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
A Copa do Brasil conhece nesta quarta-feira os dois finalistas da edição de 2023. Corinthians e São Paulo decidem no Morumbi uma das vagas, enquanto o Flamengo precisa apenas de um empate contra o Grêmio para avançar em busca do quinto título e do bicampeonato da competição. Por trás do sucesso das equipes, há quatro treinadores, com ideias e trajetórias no futebol distintas, e com objetivos em comum. Eles são velhos conhecidos do torcedor brasileiro.
Mais experiente do grupo, Luxemburgo utiliza-se da base para comandar o Corinthians; atual campeão da Libertadores, Dorival Júnior foi trocado no Flamengo no fim de 2022 por Vítor Pereira; Renato Gaúcho retornou ao Grêmio para levar o time de volta ao Brasileirão e conta com Suárez pelo sonho do hexa; em crise, Jorge Sampaoli tenta resistir ao cargo em meio a conflitos internos com o elenco e eliminação recente na Libertadores.
Destes, três têm um ponto em comum: assumiram o comando de seus respectivos times com a temporada em andamento. Sampaoli foi contratado após a demissão de Vítor Pereira, enquanto Luxemburgo e Dorival assumiram o comando dos clubes paulistas em abril. Além disso, o próprio Renato Gaúcho, ídolo do Grêmio, chegou em 2022 já em meio à temporada.
LUXEMBURGO E A MOLECADA
Vencedores, Luxemburgo e Renato Gaúcho têm em comum a identificação por seus clubes. Os dois trataram esse novo trabalho como “convocações” quando foram anunciados, como se fosse um dever a ser cumprido na carreira. Quando chegou ao Corinthians, o treinador teve de contornar uma crise interna, após a saída de Cuca, que permaneceu uma semana no cargo. Ele foi condenado por violência sexual na Justiça suíça na década de 1980 e sofreu forte pressão para deixar o posto. Não resistiu e pediu para sair.
Em sua terceira passagem pelo Corinthians, Luxemburgo transparece características semelhantes àquelas que o levaram à seleção brasileira e ao Real Madrid, no fim da década de 1990 e início do século 20. Aos 71 anos, estava longe do futebol desde o trabalho no Cruzeiro, onde não conseguiu conduzir a equipe de volta à Série A em 2021 – principal meta estabelecida em seu retorno ao time mineiro. Se envolveu na política brasileira e em negócios próprios. Dois anos depois, atendeu o “chamado” corintiano, termo que utilizou em sua coletiva de apresentação, e chega à partida contra o São Paulo com a segunda melhor sequência invicta dos times do Brasileirão.
Já são 11 jogos de invencibilidade sob seu comando. Desde a parada da data-Fifa, em junho, soma oito vitórias, três empates e apenas três derrotas. Em seu início, foi levemente criticado pelos próprios atletas do elenco, como Róger Guedes, artilheiro da equipe no ano com 21 gols e que deixou o Brasil para defender o Al-Rayyan, do Catar.
“Está sendo mais na base da loucura (os jogos do Corinthians). Tentar um lance individual, tentar um lançamento. A gente está tentando ‘uns chutões’ lá na frente ‘pra’ ver se sobra. Tem de organizar, a gente sabe que está desorganizado o time. No começo do ano, estava mais organizado”, afirmou o atleta, em junho, após derrota na partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, diante do Atlético-MG.
Dois meses se passaram e o time de Luxemburgo tem a vantagem na partida de volta contra o São Paulo e é um dos times a ser batido no País. Ainda não tem números que impressionam, como posse de bola ou finalizações a gol, mas vence e controla as suas partidas. Neste domingo, contra o Coritiba, sofreu na primeira etapa e foi para o intervalo com a derrota; no segundo tempo, em menos de dez minutos, virou a partida e dominou seu adversário.
O segredo para esse sucesso é simples – e é algo antigo nos trabalhos de Luxemburgo: atenção às categorias de base. Dos 11 titulares contra o Coritiba, três foram lançados ou aprimorados pelo treinador em seus quatro meses na equipe: Gabriel Moscardo, Murillo e Ruan Oliveira. Os dois primeiros já receberam sondagens do futebol europeu, enquanto Ruan era uma peça que seria descartada pelo time, em função de uma séria lesão no joelho, mas foi utilizado por Luxemburgo e teve seu contrata renovado.
A “molecada”, como treinador se refere em entrevistas coletivas, é o que tem se destacado e auxiliado a equipe a se recuperar no Brasileirão. Atualmente, o Corinthians está na 13ª colocação, a cinco pontos da zona de rebaixamento. “Essa molecada passa uma confiança dia a dia. Não é fácil colocar eles para jogar em uma partida internacional. Mas eu digo para que acreditem e se divirtam. O futebol tem de ser jogado com uma irresponsabilidade responsável”, disse, em entrevista coletiva após vitória pela Copa Sul-Americana.
Outros nomes ganharam mais espaço com o treinador, como Guilherme Biro, Matheus Araújo e Felipe Augusto.
EFETIVIDADE DE DORIVAL JÚNIOR
Ao não ter seu contrato renovado pelo Flamengo, no final de 2022, Dorival Júnior permaneceu cinco meses livre no mercado antes de ter seu retorno ao São Paulo oficializado em abril. É a segunda passagem do treinador pelo time tricolor, mas desta vez chegou com um novo status: atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil.
A sua saída do Flamengo foi vista com maus olhos pela torcida rubro-negra. Em novembro, quando ainda tinha contrato vigente, o clube já negociava com Vítor Pereira, então treinador do Corinthians, mas que já havia dito que não renovaria seu vínculo com a equipe para 2023. O profissional português foi demitido em abril, após derrotas na Supercopa do Brasil, Mundial de Clubes, Recopa Sul-Americana e Campeonato Carioca.
No São Paulo, assumiu o clube com a tarefa de classificar na Copa do Brasil, diante do Ituano. Alcançou o objetivo e, desde então, conquista pontos importantes para a equipe no Brasileirão Caio Paulista, Rodrigo Nestor e Pablo Maia são algumas das peças que eram questionadas enquanto o time ainda era treinado por Rogério Ceni, mas conseguiram conquistar espaço com o novo treinador.
Além da Copa do Brasil, que precisa reverter o placar de 2 a 1 diante do Corinthians, o treinador é, ao lado de Luxemburgo, os únicos que estão vivos em três competições neste ano – ambos os times buscam o título da Copa Sul-Americana, além do Brasileirão São 15 vitórias, sete empates e oito derrotas.
Os números em si não empolgam, mas a mudança de postura do elenco sim. O São Paulo conseguiu eliminar o Palmeiras na quartas de final da Copa do Brasil, a principal vitória do treinador desde que retornou ao Morumbi. Em meio a negociações da CBF por Carlo Ancelotti, o nome de Dorival Júnior foi especulado para assumir a seleção, ainda que de forma interina.
“Com relação a possibilidades, difícil falar algo. Estaria sendo leviano. Apenas fiquei feliz de ter o nome sido lembrado em momento de definição de um profissional que deva estar à frente da seleção. Falar sobre hipótese e possibilidade é difícil”, afirmou, em entrevista coletiva há dois meses.
RENATO GAÚCHO E O RENASCIMENTO DO GRÊMIO
“Se não sair agora a estátua, não sai nunca mais”, afirmou, emocionado, Renato Portaluppi após a conquista da Libertadores pelo Grêmio em 2017. Ídolo como jogador, alcançou status invejável na agremiação como treinador. Muito por causa disso foi honrado pela estátua, em 2019, em frente à Arena do Grêmio, em Porto Alegre.
A história de Renato se confunde com o próprio Grêmio na última década. Após breves passagens pela equipe no comando técnico, retornou em 2016 e, desde então, modificou o rumo de sua vida. Múltiplos títulos levaram o nome do treinador ser cogitado para assumir o comando da seleção brasileira, após fracasso de Tite no Mundial de 2018.
Deixou o clube em 2021, após desgaste de seis anos no comando técnico; na mesma temporada, a equipe foi rebaixada à Série B do Campeonato Brasileiro. Simultaneamente, o treinador levou o Flamengo ao vice-campeonato da Libertadores diante do Flamengo. O estilo de jogo das equipes comandadas por Renato, principalmente após 2016, é uma centralização na parte ofensiva, solidificada por meio de uma defesa consistente. Desde sua última passagem pelo Grêmio, o time é escalado em um 4-2-3-1; Kanemann e Geromel ainda são os pilares da defesa – os zagueiros foram campeões com o Grêmio da Libertadores em 2017.
Retornou ao Grêmio em setembro de 2022, com um único objetivo: resgatar a moral gremista. O treinador, em sua apresentação, utilizou o mesmo termo que Luxemburgo. “Convocação”. É dessa forma que Renato enxerga sua função no Grêmio que, além de um pensador à beira do gramado, de um gestor do grupo, elenco e, por que não, da sua torcida.
“É mais uma convocação. Em 2010, primeira passagem, estava em 19º, na zona de rebaixamento e chegamos na Libertadores. O Grêmio sempre me convoca e eu estou aqui. O mais importante é que gosto de desafios, conheço o clube”, afirmou Renato, em sua apresentação em 2022. “O presidente me ligou, falei que iria aceitar com o maior prazer. Tenho admiração grande pelo torcedor Um convite destes, não tinha como negar.”
SAMPAOLI E OS PROBLEMAS DO ELENCO
Além dos resultados em campo, Sampaoli passa por um momento conturbado. Questionado por não gerir o elenco rubro-negro da melhor maneira, o treinador tenta lidar com as consequências na temporada após eliminação precoce nas oitavas de final da Libertadores, diante do Olimpia, na última semana.
Extracampo, teve seu cargo ameaçado no último mês, após o preparador físico Pablo Fernandez, profissional de confiança, agredir Pedro no vestiário. O incidente resultou na demissão do companheiro de Sampaoli. Além disso, na véspera do confronto decisivo com o Grêmio, Gerson e Varela brigaram durante uma sessão de treinamento no CT do clube. O “entrevero”, como destacou a nota oficial do Flamengo, não afeta a preparação da equipe, mas o lateral teve uma fratura na face.
Em seus meses do Flamengo, o treinador tem problemas para encontrar um estilo próprio para a equipe e até repetir um time titular. No último ano, com Dorival Júnior, o ataque era formado por Pedro e Gabigol; com o retorno de Bruno Henrique ao elenco após se recuperar de lesão, o ponta assumiu a titularidade da equipe.
“Nós pensamos que cada jogo vai ser uma apresentação de bom futebol. Nós trabalhamos o tempo todo para que o time seja protagonista do jogo e continuarei perseverando para que isso aconteça. Já expliquei por que cheguei aqui (no Flamengo) e que o time, todavia, não tenha essa sensação de protagonismo que certamente tento todos os dias”, afirmou, em entrevista coletiva, após empate com o São Paulo por 1 a 1 no último domingo.