Conheça a história de Beth Gomes, medalhista de prata do Time SP nas Paralimpíadas de Paris
Atleta do time São Paulo Paralímpico também quebrou o recorde mundial de uma das categorias do arremesso de peso nesta segunda (2)
- Data: 02/09/2024 13:09
- Alterado: 02/09/2024 13:09
- Autor: Redação
- Fonte: Agência SP
Beth Gomes
Crédito:Ana Patrícia Almeida/Comitê Paralímpico Brasileiro
A paratleta Beth Gomes, do Time SP, conquistou na manhã desta segunda-feira (02) a medalha de prata no arremesso de peso das classes F53/F54 no atletismo dos Jogos Paralímpicos de Paris. De quebra, ainda bateu o recorde mundial da classe F53 ao conseguir uma distância de 7,82 m no arremesso, batendo a própria marca de 7,75 m, conquistada no mundial da categoria em 2023.
Uma das porta-bandeiras da delegação brasileira na França, Beth Gomes chegou à competição como esperança de medalha para o Time São Paulo. Nas Paralimpíadas de Tóquio, em 2021, ela conquistou seu primeiro ouro aos 56 anos, onde também estabeleceu o recorde da competição à época.
O Time São Paulo é um programa criado pelo Governo de São Paulo, por meio da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD). Em Paris, três em cada dez atletas brasileiros convocados foram formados no estado: são 91 representantes entre os 255 que estão nos Jogos, que ocorrem até 8 de setembro.
Volta por cima
A carreira vitoriosa da paratleta não esconde uma trajetória de superação e força de vontade. Quando decidiu se dedicar ao atletismo, Beth Gomes lidava há três anos com a esclerose múltipla que a tirou das quadras de vôlei e levou seu sonho de ser campeã olímpica na modalidade. “Não podia fazer mais nada. O vôlei era minha paixão”, relata.
A doença, no entanto, acabou a colocando de novo no caminho do esporte e da conquista de medalhas e de recordes. Quando foi tirar a carteirinha de deficiente para andar de ônibus, foi convidada a jogar basquete em cadeira de rodas. “Ainda estava revoltada por não poder jogar vôlei, tive uma certa resistência, mas o convite ficou na minha cabeça”, conta.
Antes de entrar no ginásio para começar a treinar, Beth se lembrou que havia sido ali a sua última partida de vôlei. Parou na porta, hesitou, mas decidiu entrar. Foi recebida com aplausos. “Todos os atletas vieram me receber, me disseram: ‘cai pra quadra’. Acertei o primeiro arremesso. Aí minha vida começou de novo, a minha depressão foi embora, comecei a treinar e peguei gosto”.
Beth disputou campeonatos e conseguiu entrar na Seleção Brasileira de Basquete sobre Rodas. Anos depois acrescentou o atletismo à sua rotina de treinos e competições. Conseguiu ficar nas duas modalidades entre 2006 e 2010. Em 2008, ela defendeu a seleção brasileira no basquete nos Jogos Paralímpicos de Pequim, na China.
Mas, em 2010, foi obrigada a escolher em qual das duas seleções brasileiras iria competir. Em 2011, entrou para a seleção brasileira de atletismo e disputou os Jogos Parapan-Americanos, no México, nas modalidades de arremesso de peso, disco e dardo.
A paratleta, conhecida por quebrar seus próprios recordes, pretende ficar no atletismo até os 70 anos. “Quando não der mais a gente vai para a bocha. Até onde eu aguentar eu vou ser atleta”, declara.
Beth sabe que tem que conviver com a esclerose múltipla, mas para ela a doença serve como impulso e não obstáculo. A paratleta toma medicamentos e faz exames periódicos, mantendo seu quadro clínico sob controle. “A esclerose múltipla é minha amiga, ela caminha ao meu lado, mas eu vou sempre vencê-la”, afirma.
“Graças à esclerose múltipla eu consegui sonhar e estar nas Olimpíadas. Me deu a chance de progredir e disputar todos esses campeonatos, o que não foi possível com o vôlei. Graças àquela carteirinha de ônibus abri os olhos para o basquete e o meu caminho para todas essas conquistas, incluindo incentivos do Time São Paulo”, diz.
Aos 59 anos, Beth é a paratleta mais velha em atividade na Seleção Brasileira e nos campeonatos que disputa mundo afora é chamada de “mãezona”. “Muitos atletas me pedem conselho, tem muita troca de experiências. É uma satisfação agregar e falar que tudo é possível, que é só querer e se dedicar”.
Antes de Paris, a atleta já havia conquistado a medalha de ouro nos Jogos Parapan-Americanos em 2019 em Lima, no Peru, e nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, em 2021. Em julho deste ano, Beth levou dois ouros batendo recordes mundiais nos arremessos de peso e disco no Campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico, também realizado em Paris.
Time SP
Antes de conseguir patrocínios e de fazer parte do Time SP a partir de 2019, Beth conta que sua vida como atleta exigia sacrifícios como dormir no chão em alojamentos, comer pão com mortadela antes e depois das competições e contar com apoio financeiro por meio de vaquinhas.
“O apoio do Time SP veio para abrilhantar mais minha trajetória. Isso alavanca muito o atleta porque com esse incentivo ele pode se dedicar somente ao esporte. Com ele posso me manter financeiramente e tenho mais estrutura para me preparar para as competições”, declara.
Para quem quer se tornar um paratleta e chegar à Seleção Brasileira, Beth recomenda ter muita disciplina, dedicação e resiliência. “Tem que abdicar de muitas coisas para ter o que se almeja, além de respeitar o treinador e os outros atletas. É difícil, é custo, não tem verba no começo para viajar e competir, então tem que ir na raça, mas se não desistir e focar, a vez de cada um chega”, diz.
Além de se dedicar aos treinos e competições, Beth é palestrante, participando de eventos em que fala sobre sua trajetória de superação, além de fundadora e vice-presidente da Associação de Esclerose Múltipla da Baixada Santista.
A atleta ainda tem o sonho de fundar o Instituto Beth Gomes em Santos, focado em dar apoio e realizar treinamentos e atividades para pessoas com deficiência e idosos, além de tirar crianças da rua.