Como forma de homenagear Moraes Moreira, Baby do Brasil volta aos Novos Baianos
Grupo se apresenta, de forma virtual, na sétima edição do Coala Festival neste sábado (12)
- Data: 12/09/2020 11:09
- Alterado: 12/09/2020 11:09
- Autor: Izabel Rufino
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Mila Maluhy
O grupo Novos Baianos nasceu no final dos anos 1960, porém terminou em 1979, mas, mesmo assim, reuniu-se outras vezes para apresentações. Porém, depois da morte de Moraes Moreira, que era compositor, vocal e violão, em abril deste ano, o grupo teve que se reinventar. Inclusive, já realizou uma live de homenagem ao amigo.
Depois da apresentação e homenagem virtual, o grupo Novos Baianos se apresenta como uma das atrações da sétima edição do Coala Festival – evento que ocorre neste sábado (12), a partir das 14h, de forma virtual. Uma das principais estrelas do grupo, Baby do Brasil estará de volta e prestará uma linda homenagem ao amigo de vida e profissão.
Além dos Novos Baianos, o Coala Festival também recebe Gilberto Gil em um encontro com o trio Gilsons (formado pelo filho de Gil, José, e pelos netos, Francisco e João), Nego Bala, MC Tha e Rico Dalasam e Mariana Aydar com Mestrinho. É possível acompanhar o evento neste link ou pelo Canal TNT.
Confira entrevista completa de Baby do Brasil:
Os Novos Baianos se reuniram recentemente em uma live. Como foi para o grupo voltar a se apresentar sem o Moraes?
Ficamos muito abalados. Foi difícil demais acreditar que ele se foi, que não estaríamos de novo juntos. Por mais ou menos três meses ficamos pasmos, chocados, com tudo o que aconteceu. Se não tivéssemos uma experiência como grupo quando Moraes saiu da banda (em 1974) e feito quatro discos sem ele, sob a direção e com as composições de Pepeu Gomes e Galvão, teria sido muito mais difícil para nós voltarmos a tocar juntos. Essa experiência no passado foi a que nos deu a base, a confiança, e nos sustentou para voltarmos à cena agora.
Como você reagiu à morte do Moraes?
Alguém da imprensa ligou e pediu pra confirmar se Moraes Moreira havia falecido, e eu disse: “Claro que não, imagina!” Mas, logo depois, vi uma chamada de Paulinho (Boca de Cantor) no meu celular às 7h da manhã e tremi! Pensei, ai meu Deus, não é possível! Fiquei ‘suspensa’ em Deus todo o tempo para me segurar. Coloquei em prática tudo o que aprendi sobre vida eterna. Orei, orei ao Espírito Santo, o Consolador, para nos consolar e, principalmente, poderosamente, a Davi, Ciça e Ari, os seus filhos, e a Marília, sua ex-esposa e grande amiga.
Sem Moraes, foi Pedro Baby, seu filho e de Pepeu, que fez o violão, não?
Sim, pela grande influência do Moraes no violão do Pedro, que aprendeu com ele as batidas, o convidamos para fazer a participação especial no violão. Tanto ele, quanto Davi, filho de Moraes, são da escola de Moraes e Pepeu, e os mais legítimos representantes. Foi emocionante demais, pois Pedro é Gomes, assim como seu pai, Pepeu, seu Tio Jorginho (bateria), seu outro tio Didi (baixo). Todos são dos Novos Baianos.
Em uma entrevista nos anos 1970, Moraes disse que os Novos Baianos eram uma chama que não vai se apagar. É isso mesmo?
Pelo que já estamos vivendo, depois de tantos anos, pela nossa história ser tão bonita, pela nossa música ser tão importante para a música brasileira, com certeza os Novos Baianos “é uma chama que não vai se apagar”. Jamais!
Como será o show no Coala?
Estamos colocando algumas músicas que não tocamos na primeira live. Queremos estar muito unidos e honrando esse público e esse super-festival maravilhoso, que corajosamente não recuou nesse momento tão crítico. Vai ser inesquecível!
Os Novos Baianos conviveram muito juntos, não apenas no palco, mas na vida. E, em grupos, sempre há personalidade diferentes: um mais racional, outro mais sonhador, outro mais agitador. Quem era o Moraes Moreira nesse grupo?
Moraes era o manso, o tranquilo. Estava sempre concentrado em tocar e, durante muitos anos, foi assim. Ele e Pepeu faziam música 24 horas por dia. Eu e Paulinho cantávamos com eles o tempo todo. Galvão observava e escrevia as letras.
Em uma entrevista no começo deste ano, Moraes rebateu sua opinião de que o musical Novos Baianos (apresentado no ano passado) não retratava a realidade. Disse que você queria que a peça fosse um espetáculo evangélico, sem mencionar o consumo de drogas por parte da banda. Você ficou chateada com ele?
(Risos) Não fiquei chateada com ele, graças a Deus! Eu compreendi que ele não estava entendendo a minha forma de ver o musical como uma ficção. Afinal, eu nunca fui para a Bahia pra fazer um filme de faroeste. Eu não estava preocupada com religião ou drogas – até porque isso nunca foi importante para nós. Nosso foco era a música e a vida. Novos Baianos sempre foi uma família, uma tribo: “era uma vez uma tribo, brincando de paz e amor, enquanto o homem mandava à Lua o seu disco voador ” (cita trecho da canção ‘Anos 70’). Como ele era mais velho do que eu – e meu irmão querido – me comportei como a irmã mais nova que respeita os mais velhos (risos). Evitei que qualquer coisa que eu fizesse ou falasse pudesse ofendê-lo e manchar o meu amor por ele e pela nossa história. Jamais faria isso, principalmente por respeito ao que vivemos nos dez anos em que moramos juntos, dividindo tudo pra multiplicar. O musical é muito bom, com um elenco lindo, novos e excelentes jovens atores. A parte musical é incrível, tem a direção de Pedro (Baby) e Davi (Moraes). Todos estão perfeitos! Não tem nada demais dizer que (o musical) também é uma ficção, que isso é muito normal nas histórias biográficas. Mas pode ter mudanças pra próxima temporada, pois Lucinho Mauro (o ator Lucio Mauro Filho, que assina o texto) já me propôs fazermos algumas alterações para trazermos mais ainda realidade daquele tempo. Vou amar!
Muito se fala da convivência dos Novos Baianos com o João Gilberto. E tudo que envolve João, vira lenda. Como era, de fato, esse contato?
João trouxe a força da brasilidade mais profunda. Os acordes que ele apresentou, as harmonias, e tudo o mais, revolucionou a cada um de nós tremendamente. Passávamos noites adentro ouvindo João, sem piscar os olhos. Queríamos absorver ao máximo tudo daquela escola tão bela, tão chique, tão forte, tão única e de nível musical altíssimo. Estávamos apaixonados pela possibilidade de crescermos muito mais musicalmente e de podermos um dia passar para a juventude os ensinamentos de João Gilberto, que misturados com a nossa vivência musical e a nossa vida, fez nascer o álbum Acabou Chorare.
No Altas Horas, você cantou trecho de uma música nova. Ela fala sobre como ficar livre das drogas. Seu novo disco vem com músicas nesse sentido?
Essa música se chama Decorei a Onda. Meu novo disco vem com muitos assuntos diferentes, mas que fazem parte da minha vida e das coisas que vivi nos últimos anos. Sempre que componho tenho esse compromisso de ser muito fiel à minha inspiração e a tudo que for uma verdade para mim.
Essa música teve como inspiração sua convivência com o Casagrande (os dois são amigos de longa data e foram namorados entre 2016 e 2017)? Você declarou que quebrou a maldição dele com as drogas…
Com certeza, a convivência com o Casão me trouxe mais inspiração para escrever essa letra. Essa música vem para dizer que podemos vencer as seduções de um vício, se decorarmos a onda que ele nos traz. Que se fizermos isso de uma forma inteligente, sem emocional, por meio de uma análise profunda, para que possamos abandonar o vício que mata, e assumirmos a divina euforia e a alegria positiva, que cura, vamos ter a garra, pela decisão de crescermos com a mudança de atitude que gera o milagre, e conquistarmos a maturidade emocional para viver uma nova vida. Existem alguns ensinamentos bíblicos de Jesus Cristo muito preciosos e eficazes que, na minha caminhada Matrix de “popstora”, eu aprendi a aplicá-los. Tive o privilégio de poder quebrar com Casão algumas maldições que estavam ativas em sua vida.
Você já declarou que irá fazer suas lives. Como elas serão?
Estou esperando cumprir com essa fase como nova baiana, para, em breve, botar em prática o que decidi fazer. Estou planejando pelo menos duas lives. Uma secular e pauleira, com minha superbanda, com algumas das músicas novas no meio dos sucessos e das regravações. A outra, bem Matrix, para trazer tudo sobre o Apocalipse para todo mundo ficar pelo menos avisado e bem esperto com o que pode acontecer em breve. E com muito louvor da Baby, é claro!