Brasil registra 105 homicídios de pessoas trans em 2024
Brasil é o país que mais mata pessoas trans
- Data: 23/01/2025 08:01
- Alterado: 23/01/2025 08:01
- Autor: Redação
- Fonte: Rede Trans Brasil
Crédito:Fernando Frazão / Agência Brasil
No último ano, o Brasil registrou a trágica marca de 105 homicídios de pessoas trans, consolidando-se como o país com o maior número de mortes dessa população pelo 17º ano consecutivo. Embora tenha havido uma redução de 14 casos em comparação com 2023, os dados revelados no “Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024”, elaborado pela Rede Trans Brasil, ainda são alarmantes.
O referido dossiê, que será divulgado oficialmente nas redes sociais da organização no dia 29 deste mês, compila informações coletadas através de veículos de comunicação, incluindo internet, redes sociais, jornais e emissoras de televisão ao longo do último ano.
A análise regional dos dados aponta que a Região Nordeste lidera as estatísticas, respondendo por 38% dos casos. Em seguida, está a Região Sudeste, com 33%, seguida pelo Centro-Oeste (12,6%), Norte (9,7%) e Sul (4,9%).
Em termos absolutos, São Paulo é o estado mais afetado, com 17 assassinatos registrados. Minas Gerais e Ceará seguem com 10 e 9 casos, respectivamente.
A secretária adjunta de Comunicação da Rede Trans Brasil, Isabella Santorinne, comenta sobre a queda no número de mortes: “Apesar de ser um alívio parcial, não podemos desconsiderar que esses crimes ainda ocorrem. Isso ilustra um processo lento e desigual de mudança no Brasil. Mesmo com avanços na discussão pública e maior visibilidade das questões trans, a violência e o preconceito permanecem presentes na vida cotidiana de muitas pessoas trans. Essa realidade indica que, apesar dos progressos, a luta continua.”
A Rede Trans Brasil participa do projeto global Trans Murder Monitoring, que monitora os assassinatos de indivíduos trans e de gênero diverso. Os dados globais indicam que até setembro de 2024 foram registrados 350 homicídios dessa natureza mundialmente.
A América Latina e o Caribe são responsáveis por cerca de 70% dos casos globais, totalizando 255 assassinatos. O Brasil ocupa a primeira posição nesse contexto com 106 mortes confirmadas, seguido por México (71), Colômbia (25) e outros países da região.
Isabella Santorinne ainda ressalta a contradição existente no país: “É irônico que o Brasil seja o maior consumidor de pornografia trans do mundo enquanto também registra o maior número de assassinatos dessa população. Existe um desejo pelos nossos corpos que convive com um ódio igualmente intenso.”
O perfil das vítimas é majoritariamente composto por mulheres trans ou travestis (93,3%), com homens trans representando apenas 6,7%. A maioria das vítimas tinha entre 26 e 35 anos e era racializada, sendo predominantemente parda ou preta. Muitas eram trabalhadoras sexuais.
“Os dados evidenciam a brutalidade enfrentada por pessoas trans e travestis. O nosso dossiê também revela que a faixa etária média das vítimas era entre 26 e 35 anos e que muitos dos homicídios estavam ligados à atividade sexual dessas pessoas nas ruas,” acrescenta Isabella.
Além disso, o levantamento indica que cerca de 66% dos casos permanecem sob investigação e apenas em 34% deles houve prisão dos suspeitos. Os agressores frequentemente eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.
As principais causas dos homicídios foram disparos de arma de fogo ou facadas. A maioria dos crimes ocorreu em locais públicos ou na residência das vítimas.
O estudo também analisou como os meios de comunicação abordaram os nomes das vítimas. Em 2023, houve um respeito significativo ao utilizar os nomes escolhidos pelas vítimas após suas transições: 93,3% dos casos respeitaram essa escolha.
Isabella finaliza destacando a importância desse dossiê para dar visibilidade às violências enfrentadas por pessoas trans no Brasil e para fomentar políticas públicas: “É essencial desenvolver iniciativas que garantam proteção à população trans. Apesar das ações pontuais existentes, elas não são suficientes diante da grave exclusão e violência enfrentadas diariamente. É urgente criar estratégias voltadas à educação inclusiva, oportunidades de trabalho e acesso à saúde e segurança para esse grupo vulnerável.”