Balneário Camboriú (SC) tem aumento de praias impróprias para banho
Com cerca de 140 mil habitantes, Balneário Camboriú é um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina e possui alguns dos edifícios mais altos do país.
- Data: 23/12/2023 15:12
- Alterado: 23/12/2023 15:12
- Autor: Caue Fonseca
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Divulgação/PMBC
Um dos balneários mais badalados do litoral brasileiro, Balneário Camboriú (SC) registrou em 2023 crescimento das praias classificadas como péssimas, aponta levantamento da Folha.
Dos 15 pontos onde há monitoramento de balneabilidade, 11 tiveram classificação anual péssima, quando as praias estiveram impróprias em mais da metade das medições semanais realizadas durante o ano. Isso representou um aumento de 450% em comparação a 2022. Outras quatro praias da cidade foram consideradas boas.
Com cerca de 140 mil habitantes, Balneário Camboriú é um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina e possui alguns dos edifícios mais altos do país. Apelidada de “Dubai brasileira”, é o lugar onde uma quitinete de apenas 33 metros quadrados chega a custar R$ 1,6 milhão.
A praia central de Balneário Camboriú, cuja orla tem 5,8 km, passou por uma megaobra em 2021 para alargar a faixa de areia, que com aterros cresceu de 25 m para 70 m. A obra custou R$ 66,8 milhões e avançou cercada de polêmicas e questionamentos de ambientalistas.
O crescimento do número de praias consideradas péssimas na cidade em 2022 chamou a atenção de especialistas e da prefeitura, sobretudo porque o município tem 98% de sua rede de esgoto tratada.
A prefeitura argumenta que o ano de 2023 foi atípico, sobretudo pelo volume de chuvas que impactaram na balneabilidade das praias. Mas assegura que o verão de 2024 terá praias melhores do que os veranistas encontraram na temporada passada.
“Em 2023, dos 365 dias do ano, menos de 50 dias foram de sol. É sabido que a praia pode estar limpíssima, mas se os dados foram coletados menos de três dias depois de uma chuva forte, eles não são fiéis à balneabilidade de fato daquele local”, diz Douglas Bebber, diretor da Emasa (Empresa Municipal de Água e Saneamento de Balneário Camboriú).
Em razão disso, a Emasa, em acordo firmado com o Ministério Público, passou a fazer levantamentos próprios, em que não faz coletas após períodos prolongados de chuva. Porém, as medições em períodos de chuva não parecem ter impactado na mesma medida outras cidades.
As condições das praias de Santa Catarina tiveram uma piora discreta de 2022 para 2023. O número de praias consideradas boas -ou seja, que se mantiveram próprias em todas as medições- caiu de 66 para 62. Já o número de praias consideradas péssimas subiu de 54 para 60, um crescimento de 11%.
Em Florianópolis, capital do estado, o número de praias consideradas ruins ou péssimas praticamente se manteve em relação a 2022 -cresceu de 28 para 31.
A Prefeitura de Balneário Camboriú também teve problemas técnicos na lagoa de aeração, estrutura de 20 mil metros quadrados que serve de estação de tratamento. Um defeito na manta que ficava no fundo dessa lagoa baixou a eficiência do tratamento de 95% para menos de 50% de eficácia.
Conforme a prefeitura, o problema foi resolvido e o tratamento já está com eficácia de 60%, devendo chegar aos mais de 80% estabelecidos em lei como ideais nos próximos meses.
O terceiro problema, este sem previsão de solução, é a vizinhança com municípios que não tratam suas redes de esgoto e despejam dejetos no rio Camboriú. É o caso do município vizinho, chamado Camboriú, onde residem 85.105 pessoas e não há coleta de esgoto.
“Santa Catarina tem um problema sistêmico de poluição e falta de saneamento. De pouco adianta Balneário Camboriú tratar quase 100% do seu esgoto se Camboriú, que fica ao lado, tratar zero”, aponta Paulo Antunes Horta, professor do Departamento de Botânica da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Horta destaca que, dos 295 municípios catarinenses, 212 não têm coleta de esgoto. Portanto, a poluição que aparece nas praias não necessariamente é um problema de saneamento básico exclusivo dos municípios litorâneos.
“Isso esbarra em um problema socioeconômico, porque é preciso garantir que as pessoas pobres também tenham saneamento básico, não apenas os prédios ricos de Balneário Camboriú”, diz Horta, que também cita a região da Beira-Mar Norte, na capital Florianópolis, como exemplo do que chama de “racismo ambiental”.
“É uma das áreas mais nobres da cidade e tem praias de qualidade péssima. Isso porque as comunidades que vivem nos morros adjacentes historicamente foram privadas de saneamento básico. Fica evidente como as carências de investimentos nas regiões mais carentes têm consequências perversas para toda a cidade”, diz Horta.
Tanto os especialistas da Emasa quanto da UFSC dizem que é cedo para afirmar se o recente alargamento da faixa de areia de Balneário Camboriú influenciou negativamente na balneabilidade. Horta aponta, todavia, que o processo sacrifica micro-organismos que auxiliam no processo natural de limpeza da água.