Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar tem últimas apresentações no CCBB São Paulo

A criação do diretor Marcos Damigo, com Carol Duarte, Jamile Cazumbá, Ermi Panzo e Leonardo Ventura no elenco, fica em cartaz até 19 de novembro

  • Data: 14/11/2023 13:11
  • Alterado: 14/11/2023 13:11
  • Autor: Redação
  • Fonte: Centro Cultural Banco do Brasil
cena

Cena de Babilônia Tropical

Crédito:Luiza Palhares

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A temporada paulistana de Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar no CCBB São Paulo, tem suas últimas sessões. O domínio holandês no Nordeste do País no século XVII (um dos períodos mais estudados da história brasileira) é o enredo do espetáculo que fica em cartaz até 19 de novembro de 2023, quintas e sextas, às 19h; sábados, domingos e feriados (12/10 e 02/11), às 17h. Os ingressos custam R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada) e podem ser adquiridos na bilheteria do CCBB SP ou pelo site www.bb.com.br/cultura.

Criação do diretor Marcos Damigo, drama histórico real mistura passado e presente para falar sobre o período da invasão holandesa em Pernambuco no século XVII. O elenco tem os atores Carol Duarte, que interpreta o papel de Anna Paes, Ermi Panzo, artista angolano radicado há quase dez anos no Brasil, que também assina a dramaturgia da obra; Jamile Cazumbá, artista baiana que transita pelo audiovisual e a performance; e Leonardo Ventura, ator consagrado em obras dirigidas por Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral; além de Adriano Salhab, músico pernambucano que assina a direção musical do espetáculo e executa a trilha sonora ao vivo em cena, com músicas originais.

Um grupo de quatro atores, inspirados no episódio da invasão holandesa em Pernambuco – quando a região era a maior produtora de açúcar do mundo – ensaia o espetáculo que mescla passado e presente e se desenrola a partir da tentativa de reproduzir o momento em que Anna Paes, dona de engenho da época, escreve um bilhete para o aristocrata neerlandês Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar em sua chegada ao Brasil. O bilhete está guardado até hoje no Arquivo Nacional dos Países Baixos, em Haia.

Carol Duarte destaca a importância de abordar a barbárie histórica do país. E ressalta: “como podemos olhar para o passado sem reparar que os pilares desse país foram sustentados pela escravidão? Os vilões da nossa história devem ser nomeados para que, no presente, possamos erradicar qualquer indício dessa herança escravocrata, restaurando o lugar devido para aqueles que foram capturados e para aqueles que ainda são oprimidos”, afirma a atriz.

“Jamile, artista baiana, e Ermi, escritor e poeta angolano radicado no Brasil, vão por o dedo na ferida diversas vezes. Discutir o racismo é sempre a pauta adiada em um País que tem dificuldade de enxergar a si mesmo, o que dizer então da reparação histórica. As diversas violências que o trabalho na contemporaneidade são lançadas contra todos, pretos, brancos, amarelos e miscigenados, é fruto das distorções da escravidão.”

Anna Paes, uma mulher considerada à frente de seu tempo, já que sabia ler e escrever (algo raro para a época), assumiu também a administração de um dos maiores engenhos de Pernambuco com a morte do marido. Valores positivos para esse início de modernidade, como liberdade e emancipação, vão sendo desmontados, revelando a grande farsa do projeto que deu início a esse empreendimento açucareiro, que só existiu graças à escravidão.

O idealizador, dramaturgo e diretor da obra, Marcos Damigo, enfatiza: “É uma responsabilidade imensa dar vida às pessoas que vieram antes de nós, para que possamos transformar a forma como nos enxergamos e, assim, talvez, ativar nossa sensibilidade para uma melhor compreensão de nós mesmos.”

O produtor do espetáculo, Gabriel Bortolini, adianta que a peça provoca reflexões profundas. “A representação histórica, exemplificada pela personagem Anna Paes, reflete nossas escolhas sobre como perpetuar a história, a imagem e seus pares. A história brasileira foi feita de brancos para brancos. Aqui, questionamos não apenas os reconhecimentos em si, mas também seus privilégios e as barreiras que precisam ser superadas para alcançar um lugar diferente”, afirma Bortolini.

Destacando-se tanto na atuação quanto na dramaturgia, o ator e poeta Ermi Panzo explora a reconstrução desse período para revelar a existência do racismo como herança da escravidão, e suas implicações nos modos de nos relacionarmos com a própria ideia do trabalho. “A obra traz uma representação vívida do cenário dinâmico do trabalho da época, que resulta em um conjunto de elementos que caracterizam a precariedade das condições de vida do trabalhador, atentando contra sua dignidade, especialmente para a maioria negra“, explica Panzo.

A permanência do racismo em todas as relações também é um dos destaques que a peça traz para a atriz Jamile Cazumbá. Ela destaca que sua personagem experimenta “cotidianamente os danos, a violência e as perversidades do racismo, e de todas e diversas categorias de subalternidades estabelecidas socialmente e politicamente para que meu corpo habite”, e que a peça “é uma tentativa de abrirmos mão da suposta ingenuidade que o romantismo colonial insiste em coreografar”.

Babilônia Tropical oferece ao público uma experiência rica e instigante, com música ao vivo e recursos audiovisuais, utilizando desde imagens de arquivos históricos até filmagens realizadas em estúdio por uma equipe audiovisual, com imagens de grande impacto e beleza. “Enfrentamos, aqui, a questão central diante do teatro contemporâneo: a chegada de temáticas antes ocultas ou apagadas que demandam novos engendramentos, tanto de relações formais, quanto de relações profissionais e pessoais; e a despeito de qualquer resposta, encontramos no caminho da escuta, da contracena e do acolhimento, nosso modo de relacionarmo-nos com tudo isso e uns com os outros; que o teatro seja canal para toda essa elaboração é que a cena possa cumprir o seu papel primordial, que é o da síntese poética”, adianta Leonardo Ventura, ator.

O projeto recebeu apoio da Embaixada dos Países Baixos para o desenvolvimento da dramaturgia, o que possibilitou uma viagem do autor Marcos Damigo a Pernambuco, bem como a participação do historiador Daniel Breda no processo de pesquisa, além de uma primeira imersão com o elenco da peça em 2022.

A peça estreou no CCBB Belo Horizonte, depois teve temporadas pelo CCBB Brasília e pelo CCBB Rio de Janeiro.

SINOPSE

Um bilhete escrito por uma mulher em Pernambuco no início do século XVII está guardado até hoje no Arquivo Nacional dos Países Baixos. Nele, Anna Paes, uma dona de engenho descendente de portugueses, presenteia Maurício de Nassau com seis caixas de açúcar branco, assim que ele chega para governar o que era na época o Brasil holandês, em 1637. A vida dessa mulher se torna objeto de investigação de um grupo de artistas de teatro. Mas, conforme os intérpretes investigam o contexto em que esse bilhete foi escrito, emergem questões de classe, gênero e raça, revelando que o passado talvez não esteja tão remoto assim.

FICHA TÉCNICA

Marcos Damigo – idealização, concepção e direção geral

Gabriel Bortolini – concepção e direção de produção

Ermi Panzo e Marcos Damigo – dramaturgia

Carol Duarte, Jamile Cazumbá, Ermi Panzo, Leonardo Ventura e Adriano Salhab – elenco

Lúcia Bronstein e Sol Miranda – interlocução artística

Adriano Salhab – direção musical e canções originais

Simone Mina – direção de arte

Wagner Pinto – iluminação

Glaucia Verena – preparação vocal e consultoria artística e dramatúrgica

Pat Bergantin – preparação corporal

Daniel Breda – consultoria histórica

Rafa Saraiva e Mila Cavalcanti – programação visual

Coletivo Corpo Sobre Tela/Ricardo Aleixo e Julia Zakia – direção de fotografia Coletivo Corpo Sobre Tela – montagem e finalização de cor

Rafael Tenório – vídeo engenho em chamas

Luiz Schiavinato Valente – coordenação de redes sociais

Mayara Santana e Rafael Tenório – design para redes sociais

Jackeline Stefanski Bernardes e Ví Silva – assistência de direção

Luiz Schiavinato Valente e Ví Silva – assistência de produção

Rick Nagash – assistência de direção de arte

Vinicius Cardoso – assistência de cenografia

Amanda Pilla B e Hellige Sant’Anna – assistência de figurino e adereços

Carina Tavares – assistência de iluminação

Wanderley Wagner e Fernando Zimolo – cenotécnica cenário

Mauro José da Silva e Matheus Kaue Justino da Silva – cenotécnica filmagem Vivona – cabeleireira elenco

Julia Zakia – making off

Luiza Zakia Leblanc – câmera adicional making off

SERVIÇO

Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar

Temporada: até 19 de novembro de 2023, sempre de quinta a domingo

Horário: quinta e sexta às 19 horas, sábado, domingo e feriados (12/10 e 02/11) às 17h

Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo – CCBB SP

Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico – SP

Próximo à estação São Bento do Metrô

Entrada acessível: Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal.

Duração: 80 minutos

Recomendação: 14 anos

Ingressos: R$30 (inteira) / R$15,00 (meia-entrada)
Vendas: bilheteria do CCBB SP ou pelo site bb.com.br/cultura

Informações: bb.com.br/cultura | (11) 4297-0600 | Redes Sociais: instagram.com/Ccbbsp | facebook.com/ccbbsp | twitter.com/ccbb_sp |

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  • Data: 14/11/2023 01:11
  • Alterado: 14/11/2023 01:11
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