Arábia Saudita é acusada de manipular documentos na COP29

Denúncias indicam que delegação saudita recebeu acesso privilegiado a documentos editáveis, gerando críticas sobre a integridade do processo da conferência

  • Data: 23/11/2024 17:11
  • Alterado: 23/11/2024 17:11
  • Autor: Redação
  • Fonte: Folha
Arábia Saudita é acusada de manipular documentos na COP29

Crédito:Cadu Gomes/VPR

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Em um recente episódio que abalou a comunidade internacional, a Arábia Saudita foi acusada de manipular documentos oficiais durante a COP29, a conferência climática das Nações Unidas, que está sendo realizada em Baku, Azerbaijão. A denúncia, trazida à tona pelo jornal britânico The Guardian, aponta que um representante saudita teria modificado diretamente um texto crucial para as negociações.

Os documentos em questão, tradicionalmente distribuídos entre os países participantes em formato PDF não editável, teriam sido enviados de forma editável apenas à delegação saudita. A presidência da COP29, sob a responsabilidade diplomática do Azerbaijão, estaria por trás dessa concessão excepcional. Tal situação gerou críticas severas da comunidade ambientalista e questionamentos sobre a integridade do processo.

Catherine Abreu, diretora do International Climate Politics Hub, expressou preocupação ao afirmar que tal privilégio concedido a um país comprometido em preservar o uso de combustíveis fósseis é uma afronta às regras e ao espírito das negociações internacionais. Essa atitude pode comprometer gravemente o andamento e os resultados esperados da conferência.

Até o momento, nem a presidência da COP29, nem a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) ou a própria delegação saudita se pronunciaram sobre o ocorrido. A Arábia Saudita, reconhecida por sua influência no mercado de petróleo, tem historicamente atuado para suprimir referências a combustíveis fósseis nas resoluções climáticas, visando atenuar os impactos dos acordos globais que buscam uma transição energética sustentável.

Durante uma sessão plenária da COP29, Albara Tawfiq, porta-voz saudita, reiterou a posição de seu país contra qualquer documento que critique setores específicos como o das energias fósseis. Esta postura reflete a liderança da Arábia Saudita no grupo árabe na conferência deste ano.

O texto polêmico foi disseminado pela presidência do Azerbaijão com rastreamento de alterações visíveis. Em pelo menos duas ocasiões, as edições foram atribuídas diretamente a Basel Alsubaity, membro do Ministério de Energia da Arábia Saudita e parte do grupo responsável pelo programa de transição justa (JTWP). Uma das mudanças mais notáveis envolveu a exclusão de um trecho incentivando os países a incorporarem estratégias de transição justa em seus planos climáticos nacionais.

Paralelamente às revelações do Guardian, um relatório da Climate Action Against Disinformation destacou a crescente influência dos lobbies de combustíveis fósseis nas deliberações da COP29. Segundo o documento, mais de 1.700 representantes desse setor participaram das discussões, incluindo executivos de alto escalão. Essa proximidade entre a presidência do Azerbaijão e a indústria petrolífera levanta sérias preocupações sobre a imparcialidade das negociações.

A atuação saudita também foi criticada por perpetuar narrativas enganosas sobre a indispensabilidade dos combustíveis fósseis para atender às necessidades energéticas globais. Tais ações são vistas como obstáculos significativos para os esforços mundiais na busca por um futuro energético mais sustentável.

Essas revelações sublinham os desafios enfrentados pelas conferências climáticas em manter uma agenda transparente e independente, essencial para alcançar avanços reais na luta contra as mudanças climáticas.

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  • Data: 23/11/2024 05:11
  • Alterado:23/11/2024 17:11
  • Autor: Redação
  • Fonte: Folha









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