A importância das brigadas voluntárias para a prevenção de incêndios no Cerrado

Instituições com atuação no Cerrado buscam sensibilizar a sociedade, incentivando a iniciativa privada a colaborar com ações que fortaleçam, viabilizem e tragam mais segurança

  • Data: 09/09/2022 14:09
  • Alterado: 15/08/2023 23:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Fundação Grupo Boticário
A importância das brigadas voluntárias para a prevenção de incêndios no Cerrado

Campanha reforça a importância das brigadas voluntárias para a prevenção de incêndios no Cerrado

Crédito:Giovanna Leopoldi

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Para sensibilizar e engajar a sociedade sobre a importância do trabalho dos brigadistas voluntários no combate e prevenção a incêndios no Cerrado – o segundo maior bioma da América do Sul, presente em cerca de 22% do território brasileiro e com grande biodiversidade –, Fundação Grupo Boticário de Proteção à NaturezaInstituto humanizeInstituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e Nature Invest lançam a campanha Defensores do Cerrado. A proposta da ação é trazer mais visibilidade para o trabalho das brigadas voluntárias no Nordeste Goiano. A campanha pode ser acessada pelo site https://defensoresdocerrado.com.br/.

“O Cerrado está interligado com todas as regiões do país. Além da sua extensão, suas nascentes abastecem bacias hidrográficas em todo o Brasil. A riqueza natural do Cerrado é fonte de renda e desenvolvimento para comunidades locais. Contudo, a área sofre com o desmatamento e grandes incêndios”, afirma a gerente sênior de Conservação da Natureza da Fundação Grupo Boticário, Leide Takahashi, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). “A campanha tem o intuito de estimular outras organizações da sociedade civil e empresas a conhecerem as brigadas voluntárias que atuam em suas regiões na prevenção e combate dos incêndios florestais e também contribuírem com esse trabalho tão importante para a manutenção do nosso patrimônio natural”, completa.

Todos os anos, a cena se repete no Cerrado: grandes incêndios atingem vários hectares de áreas protegidas, além de colocar em risco a saúde da população. Na temporada de seca, os focos são cada vez mais frequentes.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), no ano passado, foram registrados mais de 62 mil focos no bioma. Neste ano, até agosto, já são quase 28 mil focos. Com a baixa umidade do ar, fortes ventos e poucas chuvas, intensificados pelas mudanças climáticas, o país vem enfrentando novamente um período de alto risco para propagação dos incêndios.

“Embora o fogo faça parte da ecologia das espécies do Cerrado e seja estratégico para uma abordagem de manejo integrado do fogo, que contribui positivamente para a proteção da biodiversidade, os grandes incêndios podem gerar enormes prejuízos ambientais e, consequentemente, à sociedade. A atuação organizada de grupos de voluntários tem sido fundamental na prevenção e no combate aos incêndios florestais que têm devastado grandes áreas dos principais biomas brasileiros”, afirma André Zecchinbiólogo e coordenador da Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante (GO) e mantida pela Fundação Grupo Boticário desde 2007.

São as brigadas voluntárias que, juntamente com brigadistas do ICMBio e do PrevFogo/Ibama, conseguem chegar mais rápido aos focos de incêndios em áreas naturais, especialmente em locais distantes dos grandes centros urbanos, executando rapidamente o primeiro combate e evitando que as chamas se alastrem. O trabalho exige grande esforço físico, como enfrentar sensações térmicas que ultrapassam 250°C e caminhar dezenas de quilômetros por dia em áreas de difícil acesso; e carece de recursos para garantir uma estrutura mínima, promover a formação de brigadistas, adquirir e manter equipamentos para o combate o fogo.

“Ser voluntário é uma paixão. É o que nos move para nos arriscarmos para evitar que os incêndios ocorram e para proteger o meio ambiente. Somos apaixonados pelo que fazemos e nos dedicamos muito. Atuamos sempre de forma organizada, priorizando a segurança”, declara o brigadista florestal Rafael Gava, diretor executivo da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV). “As brigadas voluntárias estão em lugares onde os outros serviços de emergência não conseguem chegar com tanta agilidade, muitas vezes preenchendo lacunas que o Estado não consegue atender. O combate rápido é essencial para controlar e evitar a propagação do fogo. Os focos, principalmente na época da seca, evoluem muito rápido, se transformando em grandes incêndios, o que também aumenta o gasto de recursos públicos”, conclui.

A RNBV é um exemplo de efetividade na mobilização em favor da proteção à natureza. Criado em 2019 por líderes de brigadas para prevenção e combate a incêndios florestais, o grupo luta para vencer os desafios de manutenção do quadro de brigadistas e de equipamentos, além da falta de apoio. Atualmente, a rede é composta por cerca de 900 voluntários, divididos em 15 brigadas que atuam em oito estados e diferentes biomas, como Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia. Dez novas brigadas aguardam formalização.

“Os custos de estruturação, treinamento e operacionalização para que todos possam executar o trabalho de forma segura e eficaz é alto. Muitas brigadas utilizam veículos particulares. Geralmente quem banca gasolina, pedágio e alimentação são os próprios voluntários. Muitos ainda têm de comprar o próprio equipamento de proteção”, conta Gava. Consequência disso, segundo ele, é que provavelmente muitas brigadas pararam de atuar e iniciativas potenciais simplesmente deixaram de existir ou não se concretizaram. “Sempre existirão voluntários empenhados, buscando aperfeiçoamento para atuar com mais eficácia, técnica, segurança e apoio aos diversos setores da sociedade. Sabemos que somos um apoio necessário nos planos operacionais locais de cada estado”, conclui.

A Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante (BRIVAC) é um bom exemplo. O grupo atua no município de Cavalcante, localizado ao norte da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, uma das regiões mais afetadas pelas chamas em 2017. Para o período crítico deste ano, a brigada passou a contar com seu primeiro veículo próprio. A Fundação Grupo Boticário doou recursos para a compra de um veículo apropriado para o deslocamento dos brigadistas e seus equipamentos de forma segura, contribuindo para o monitoramento das áreas, assim como maior eficácia nos combates aos incêndios. A doação complementa os esforços da instituição para fortalecer, capacitar e estruturar ações preventivas e de combate a incêndios na região.

“Agora, junto a parceiros também preocupados com a conservação do Cerrado, lançamos esta campanha para mobilizar a sociedade e outras instituições em todo o Brasil para apoiar esses voluntários, com condições necessárias – treinamento, equipamentos e tecnologias – para que permaneçam contribuindo com a preservação ambiental de forma segura. Faltam recursos financeiros e estrutura adequada para atender às necessidades das demandas dos brigadistas voluntários”, conclui Zecchin, lembrando ainda sobre a importância de o poder público entender a relevância das brigadas de incêndios e instituir mecanismos legais para apoiá-las, como ocorreu em Cavalcante (GO), neste ano, com a aprovação de uma lei que trata da contratação de uma brigada para o município.

Perfil dos brigadistas

As brigadas voluntárias são compostas por guias de turismo, professores, comerciantes locais, estudantes, entre outros. São pessoas da região que se disponibilizam a combater incêndios com pouco ou nenhum recurso.

“A brigada tem um papel muito importante não somente de criar o engajamento voluntário para a comunidade, mas no aspecto ambiental, de conservação, educação e prevenção. Com isso, a gente acaba identificando e diagnosticando os problemas que têm acarretado os incêndios florestais e, a partir daí, trabalha com a comunidade, conversando, fazendo eventos e seminários sobre educação ambiental e de alguma forma indo até os conselhos municipais para gerar um conteúdo de políticas públicas sobre a gestão do uso do fogo”, comenta Rafael Drumond, diretor da BRIVAC.

O trabalho da brigada não é só ir para campo, tem toda uma parte estratégica para que haja cobertura de atuação de todos os âmbitos, ou seja, não somente de ação como de articulação também”, conclui Drumond.

“Se todo mundo trabalhar junto, formando uma rede de apoio e com políticas públicas efetivas, é possível ajudar ainda mais na prevenção e no combate a esses grandes incêndios que impactam nossas áreas naturais”, diz Zecchin.

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  • Data: 09/09/2022 02:09
  • Alterado:15/08/2023 23:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: Fundação Grupo Boticário









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