Governo Lula prepara resposta a possíveis tarifas impostas por Trump
Governo estuda possíveis medidas caso os EUA aumentem tarifas sobre produtos brasileiros.
- Data: 09/02/2025 07:02
- Alterado: 09/02/2025 07:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Atendendo a uma solicitação do vice-presidente Geraldo Alckmin, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior está desenvolvendo um mapeamento dos setores que enfrentam maiores desafios devido à guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Este estudo pretende identificar ações específicas que o Brasil pode adotar em resposta a um possível aumento nas tarifas impostas pelos norte-americanos.
O levantamento considera os efeitos indiretos que as reações em determinados setores podem provocar em outras áreas de exportação e no mercado interno. Em paralelo, o governo brasileiro está se esforçando para acelerar a busca por novos mercados, como uma estratégia para contrabalançar as altas tarifas globais estabelecidas por Trump.
A abordagem adotada pelos responsáveis por relações comerciais em Brasília tem sido de cautela e discrição. No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já afirmou em várias ocasiões que o Brasil tomará medidas de retaliação caso os EUA decidam aumentar as tarifas sobre produtos brasileiros.
“Se ele [Trump] taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos importados dos Estados Unidos. É uma questão simples”, declarou Lula.
Especialistas consultados afirmam que é inegável a possibilidade de o Brasil ser alvo de medidas retaliatórias por parte de Trump em um futuro próximo. A orientação atual é evitar chamar a atenção do novo governo dos EUA para não se tornar um alvo prioritário.
O relatório elaborado pela equipe do vice-presidente também examina diversas ferramentas que o Brasil pode utilizar para guiar suas respostas, incluindo salvaguardas e a suspensão do regime ex-tarifário, que oferece redução temporária do Imposto de Importação para certos produtos.
Em um cenário internacional desafiador, técnicos do governo acreditam que será necessário desenvolver novas estratégias, aproveitando o mercado interno para absorver produtos e ampliando o diálogo com os países do Brics, especialmente com China, Rússia e Índia.
Há uma expectativa de que a China busque fortalecer sua indústria, enquanto tenta consolidar suas relações comerciais com o Brasil, seu principal parceiro na América Latina.
Com este estudo, o Brasil almeja antecipar os impactos potenciais de medidas retaliatórias e eventuais contra-ataques dos Estados Unidos. O objetivo é avaliar se uma possível retaliação pode acarretar custos superiores para as empresas brasileiras.
Um especialista destacou que a tarefa de mapear essas correlações é complexa e exige uma análise minuciosa de todos os cenários possíveis. Um exemplo disso é que, com a capacidade instalada da indústria nacional atualmente elevada, o Brasil precisa investir em máquinas e equipamentos. Assim, qualquer restrição à importação desses itens dos Estados Unidos pode prejudicar a indústria local.
Os setores de aço, máquinas e equipamentos, carne e combustíveis são os mais suscetíveis a prejuízos significativos. O Brasil mantém uma relação comercial com os EUA em que exporta petróleo bruto enquanto importa petróleo refinado, além de depender fortemente das empresas americanas no fornecimento de semicondutores.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, aconselha prudência diante deste cenário. Ele recorda que o Brasil já enfrentou disputas com os EUA em 2009 no setor de algodão, onde a retaliação foi complicada devido à importância das importações americanas para a indústria brasileira.
Nesse episódio anterior, o Brasil obteve autorização para retaliar produtos americanos de forma cruzada na área de propriedade intelectual, permitindo a quebra de patentes no setor farmacêutico como parte das negociações.
No dia 1º de fevereiro, Trump assinou uma ordem executiva impondo tarifas de 25% sobre produtos importados do México e Canadá e 10% sobre aqueles da China. Após negociações, as tarifas contra mexicanos e canadenses foram suspensas por um mês.
Recentemente, em resposta às tarifas adicionais impostas por Trump sobre todas as importações chinesas, Pequim anunciou novas tarifas sobre produtos norte-americanos, intensificando assim a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Relação Brasil-EUA
- Corrente de comércio: US$ 80,91 bilhões
- Exportações: US$ 40,33 bilhões
- Principais produtos exportados: Petróleo bruto, produtos semi-acabados de ferro e aço e aeronaves.
- Importações: US$ 40,58 bilhões
- Principais produtos importados: Motores e máquinas não elétricos, óleos combustíveis de petróleo e aeronaves.
- Resultado: Déficit de US$ 250 milhões
- Fonte: Mdic (Dados para 2024)
Barral observa que até agora as retaliações da China contra Trump foram pontuais, afetando principalmente alguns minerais críticos importantes para os EUA.
“Se a China decidir retaliar em áreas onde o Brasil possui competitividade, isso poderá aumentar as exportações brasileiras para o país asiático”, analisa Barral. A China tem demonstrado sua capacidade de impactar as cadeias produtivas americanas como um meio de negociação.
Barral ainda acrescenta que Trump parece ter direcionado seu foco à União Europeia como próximo alvo das suas políticas comerciais. Ele enfatiza que a acumulação de déficits comerciais do Brasil com os EUA pode proteger temporariamente o país das retaliações diretas no curto prazo.
No entanto, ele alerta que setores como ferro e autopeças estão sob risco. O Brasil é um grande exportador de peças para os EUA; assim, eventuais retaliações podem causar sérios danos à indústria local. Além disso, as autopeças brasileiras são utilizadas na fabricação de veículos destinados ao mercado americano.
A relação comercial entre Brasil e EUA permanece significativa: os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e representam o principal destino das exportações brasileiras com maior valor agregado. Nos últimos meses, entre janeiro e dezembro, as exportações brasileiras para os EUA cresceram 9,2%, totalizando US$ 40,33 bilhões; enquanto as importações avançaram 6,9%, somando US$ 40,58 bilhões.