Sobre a agenda climática: por que se importar?

"O tempo para buscar soluções globais está se esgotando. Só podemos encontrar soluções adequadas se agirmos juntos e de acordo." - 11/12/2024

  • Data: 08/02/2025 09:02
  • Alterado: 08/02/2025 09:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: SICOOB
Sobre a agenda climática: por que se importar?

Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e Relações Institucionais do Sicoob

Crédito:Divulgação

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Recentemente, assistimos à intensificação de notícias sobre o desembarque de algumas corporações — notadamente, empresas ligadas à indústria financeira e ao mercado de capitais — dos pactos associados à agenda climática. Em um contexto marcado por narrativas por vezes polarizadas e, não raro, irrefletidas, urge resgatarmos o porquê de esse tema demandar mais que uma atenção meramente passageira. Requer, com efeito, análise estratégica, que vai além dos interesses financeiros imediatos dos acionistas/donos; responsabilidade e, acima de tudo, coerência. Esses requisitos são ainda mais caros para o movimento cooperativo, que carrega na sua essência, e desde sempre, o compromisso com o desenvolvimento sustentável, cabendo-lhe exercer protagonismo diferenciado e coliderar as ações nesse campo.

Os efeitos adversos das mudanças climáticas são inegáveis. O ano de 2024 não nos deixou dúvidas: foi o mais quente da história, com uma média global de 15,10°C — 1,6°C acima dos níveis pré-industriais. Foi o primeiro ano em que a média anual ultrapassou o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris, considerado crítico para evitar consequências climáticas severas. O relatório do Centro Europeu Copernicus alerta que esse aquecimento tem impulsionado eventos extremos, como secas, incêndios florestais e tempestades intensas, tendo as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) como principal catalisador.

O mundo, conforme já alertara o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan (15/11/2006 – Conferência sobre Mudança Climática de Nairóbi), “está chegando ao ponto de inflexão além do qual a mudança climática pode se tornar irreversível. Se isso acontecer, corremos o risco de negar às gerações presentes e futuras o direito a um planeta saudável e sustentável – toda a humanidade está a perder.”

A boa notícia é que a agenda climática abre caminhos, e o mercado já está respondendo. Instituições nacionais, como a Fundação Getulio Vargas, a Fundação Dom Cabral e o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores, têm sinalizado que o mercado de carbono será uma das grandes tendências em ESG para 2025. A ampliação desse mercado promete não apenas mitigar impactos ambientais, mas criar incentivos concretos para que as empresas se reinventem, compensando emissões e adotando práticas mais sustentáveis.

Desprezar a agenda climática é negligenciar riscos e oportunidades econômicas significativos. As mudanças climáticas, com efeito, introduzem riscos físicos, como desastres naturais que afetam ativos e garantias, e de transição, resultantes de políticas ambientais mais rígidas que podem desvalorizar setores não sustentáveis. Por outro lado, há uma enorme oportunidade de transformar esses desafios em crescimento econômico inclusivo, mostrando que é possível prosperar de forma equilibrada.

A pressão por esse alinhamento já está na mesa — e nos corredores das regulamentações. O Brasil voltou a demonstrar protagonismo na arena climática, reafirmando o compromisso com o Acordo de Paris e estabelecendo uma meta ambiciosa: neutralidade de carbono até 2050. Iniciativas como a Taxonomia Sustentável Brasileira e o recém-criado Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa são ferramentas concretas para reposicionar o país na vanguarda das negociações climáticas globais. A COP-30, marcada para ser realizada em Belém, em novembro de 2025, é um convite claro para que o setor produtivo apresente resultados consistentes e fiéis ao discurso.

No setor financeiro, o avanço é igualmente significativo. O Banco Central do Brasil, sob a tutela do Conselho Monetário Nacional (CMN), vem aprimorando instrumentos para a análise e o monitoramento dos riscos social, ambiental e climático (RSAC), fortalecendo a Agenda BC# no pilar Sustentabilidade, em convergência com o art. 192 da Constituição Federal. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por sua vez, avança ao regulamentar a integração de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade nos relatórios consolidados das empresas de capital aberto. Essa convergência regulatória está transformando o mercado financeiro no Brasil, exigindo maior sintonia das instituições com as metas climáticas globais.

Nesse cenário, as cooperativas financeiras emergem como atores únicos. Mais do que intermediárias financeiras, elas têm uma vocação intrínseca: promover, em equilíbrio, o desenvolvimento econômico, social e ambiental. A forte presença física e a conexão direta com as comunidades são vetores para financiar soluções locais e inovadoras, como geração de energia renovável, agricultura regenerativa e economia circular. Quando uma cooperativa investe, por exemplo, em linhas de crédito verdes, não só apoia negócios sustentáveis, mas também contribui para a inclusão dos pequenos produtores rurais e empreendedores urbanos, na transição energética.

A agenda climática, enfim, não pode ser refém de ciclos políticos e ideologias de momento. Como movimento cooperativo, temos o dever particular — e o privilégio — de sermos referência na agenda humanitária em sua plenitude. Ela exige gestão baseada em evidências científicas, ações consistentes e compromisso com resultados reais.

No cooperativismo, lembremos uma vez mais, não perseguimos apenas metas operacionais; somos norteados por valores e princípios que priorizem o bem comum e assegurem um amanhã mais equitativo em diferentes dimensões. A escolha societária que fizemos, somada à decisão da Organização das Nações Unidas distinguindo-nos pela segunda vez com o Ano Internacional das Cooperativas, por acreditar que as nossas entidades constroem um mundo melhor, nos leva a reafirmar continuamente os laços com uma economia inclusiva, resiliente, sustentável e humanizada. Afinal, esse é o legado que nos cabe construir — e o fazemos como nosso propósito, e com determinação.

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  • Data: 08/02/2025 09:02
  • Alterado:08/02/2025 09:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: SICOOB









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