Dólar sobe 2,03% e Bolsa despenca com aprovação de contenção de gastos
Analistas aumentaram pela sexta vez consecutiva suas previsões para a taxa Selic ao final de 2025, agora projetando-a em 14,75%
- Data: 23/12/2024 16:12
- Alterado: 23/12/2024 16:12
- Autor: Redação
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil
Na última segunda-feira (23), o valor do dólar apresentou um aumento significativo após uma sessão anterior marcada pela queda. Esse movimento é atribuído às inquietações dos investidores em relação às contas públicas, especialmente após a recente aprovação de um pacote de contenção de gastos pelo Congresso Nacional.
A divulgação do Boletim Focus também influenciou as expectativas do mercado, revelando uma crescente desancoragem nas projeções de inflação. Às 15h42, a moeda americana registrava alta de 2,03%, sendo negociada a R$ 6,194. Em contrapartida, a Bolsa de Valores enfrentava uma retração de 0,95%, atingindo 120.936 pontos no mesmo horário, após duas sessões consecutivas de valorização.
O foco dos investidores permanece na situação fiscal do governo. Apesar da finalização da votação do pacote de austeridade na última sexta-feira, o recesso parlamentar até fevereiro sugere uma desaceleração nas atividades em Brasília neste final de ano.
A equipe da XP destacou que, com a tramitação do pacote no Congresso, a previsão de economia fiscal para os próximos dois anos caiu de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões, enquanto os cálculos oficiais do governo apontam para cerca de R$ 70 bilhões. O relatório da XP enfatizou que, embora o direcionamento seja adequado, os ganhos são considerados insuficientes para assegurar o cumprimento das metas fiscais e a manutenção dos limites orçamentários estabelecidos.
A incerteza gerada pelo pacote de controle de gastos também foi mencionada por analistas do Banco Daycoval. Segundo Rafael Cardoso, chefe do departamento econômico da instituição, a dificuldade em implementar medidas necessárias ao ajuste fiscal continuará a pressionar as trajetórias das contas públicas e da dívida nacional.
Além disso, o Boletim Focus revelou que os analistas aumentaram pela sexta vez consecutiva suas previsões para a taxa Selic ao final de 2025, agora projetando-a em 14,75%. As expectativas para a inflação medida pelo IPCA também foram ajustadas, passando de 4,89% para 4,91% em 2024 e de 4,60% para 4,84% em 2025 – ambos números significativamente acima da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central (BC), que é de 3%.
As previsões cambiais indicam um dólar cotado a R$ 6,00 até o final deste ano e R$ 5,90 ao término do próximo ano. No cenário internacional, os investidores continuam avaliando as recentes reuniões dos bancos centrais. A última decisão do Federal Reserve sobre um ritmo mais lento na redução das taxas de juros gerou reações nos mercados financeiros e influenciou o aumento tanto do dólar quanto dos rendimentos dos títulos americanos.
A confiança do consumidor nos Estados Unidos também foi impactada negativamente em dezembro. O índice medido pelo Conference Board caiu para 104,7 neste mês, enquanto economistas esperavam uma recuperação para 113,3. Dana Peterson, economista-chefe da entidade, observou que embora as condições atuais do mercado de trabalho estejam melhorando, as avaliações sobre as perspectivas empresariais mostraram enfraquecimento.
No pregão anterior, o dólar havia encerrado com queda acentuada de 0,87%, cotado a R$ 6,071. A Bolsa havia registrado uma alta de 0,75%, alcançando 122.102 pontos. A movimentação do mercado reflete o impacto das intervenções do Banco Central e os desdobramentos políticos referentes ao pacote fiscal.
Na semana anterior à atual alta do dólar, diversas intervenções foram realizadas pelo BC para controlar a volatilidade cambial. Com três leilões extraordinários e um aporte significativo em dólares no mercado cambial, o banco buscou estabilizar a moeda frente à crescente desconfiança sobre a capacidade governamental de manter o equilíbrio fiscal. Desde o início de dezembro, a moeda americana já acumulava uma valorização de 4,45% em relação ao real e impressionantes 29% ao longo do ano.