USP não toma medidas para proteger estudante 4 meses após denúncia de estupro
Aluna de 19 anos obteve medida protetiva na Justiça; universidade afirma que ofereceu acolhimento e que aguarda prazos de apuração
- Data: 24/09/2024 10:09
- Alterado: 24/09/2024 10:09
- Autor: Redação
- Fonte: Bruno Lucca/Folhapress
Conjunto Residencial da USP (CRUSP)
Crédito:Marcos Santos/USP Imagens
Uma moradora do Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo) denunciou em maio ter sido estuprada no local. Após mais de quatro meses e apesar de uma medida protetiva, a USP não tomou medidas para afastar o agressor da vítima. O último contato com a estudante ocorreu em junho.
O caso ocorreu na madruga de 5 de maio, segundo boletim de ocorrência. O suspeito segue frequentando suas aulas normalmente e vivendo na habitação, a alguns metros do apartamento da vítima, de 19 anos. A jovem relata ter medo e rememorar aquele momento quase diariamente.
Passada a agressão, a estudante foi até a delegacia, fez corpo de delito, conseguiu medida protetiva e entregou todas as provas à universidade, inclusive mensagens nas quais o acusado pediu desculpas pelo ocorrido.
Segundo a USP, “a vítima foi acolhida pela assistente social da Prip (Pró-reitoria de Inclusão e Pertencimento e foi aberto processo disciplinar contra o aluno” à época da denúncia. O motivo de a decisão ainda não ter saído, afirma, seriam os prazos necessários para criação da comissão processante, coleta dos depoimentos e produção do relatório.
O inquérito policial está em andamento pela 3ª Delegacia de Defesa da Mulher, e o investigado já foi ouvido, diz a SSP (Secretaria da Segurança Pública). No boletim de ocorrência, registrado no 93º DP (Jaguaré), o caso foi tipificado como estupro de vulnerável.
Na noite anterior ao ataque, a jovem contou ter frequentado uma festa da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), onde estuda, e ficado bêbada. O suspeito, um aluno da Poli (Escola Politécnica) conhecido por seus amigos, se ofereceu para acompanhá-la ao Crusp. Ele mora no bloco F, e ela, no E.
Chegando ao conjunto, a estudante diz que começou a perder a consciência. Suas próximas memórias são de acordar duas vezes com o vizinho sobre seu corpo, a penetrando. Ela era virgem.
A estudante afirma que estava confusa na manhã seguinte, repleta de hematomas no pescoço. A princípio, culpou a si mesma pelo ocorrido. Pensou que tudo poderia ter sido evitado caso não tivesse consumido álcool.
Aconselhada por amigos, a universitária mudou de ideia e buscou auxílio. Primeiro, na AmorCrusp (Associação dos Moradores do Conjunto Residencial da USP). Lá, afirma, foi pouco acolhida. Depois, foi até a Prip em busca de uma assistente social, sendo encaminhada para uma delegacia.
Em algumas horas, fez o boletim, pediu medida protetiva -deferida no dia seguinte pelo Tribunal de Justiça de São Paulo- e foi ao Hospital da Mulher fazer exame de corpo de delito. Depois, juntou cópias dos documentos e as encaminhou à universidade, pedindo a expulsão do acusado do Crusp.
A resposta veio em algumas semanas, já em junho. Segundo a assistente social da Prip disse à vítima, foi perguntado ao estudante denunciado se ele gostaria de sair da habitação. Como ele teria respondido que não, nada mais poderia ser feito naquele momento. Porém, um processo seria instaurado.
Mesmo com medida protetiva autorizada, exigindo ao agressor distância de 500 metros, ela afirma encontrá-lo frequentemente pela Cidade Universitária, nos corredores do Crusp e nos bandejões. Uma vez, a jovem ligou para a polícia relatando a proximidade do homem e ouviu que nada poderia ser feito, pois ele estava em seu ambiente de estudos.
O caso da universitária surge após outra moradora do Crusp relatar ter sido vítima de um estupro em agosto deste ano. De início, a universidade apenas remanejou o acusado de bloco. Após a repercussão, resolveu expulsá-lo da moradia.
Como denunciar casos de violência na USP
Aos que se sentem ameaçados ou sofreram alguma violência no campus, a universidade disponibiliza canais para denúncia. A gestão destaca ser preciso denunciar também à polícia e realizar o boletim de ocorrência, cuja cópia poderá ser adicionada aos autos da sindicância interna.
Para formalizar a denúncia, o estudante deve comunicar o ocorrido à diretoria da unidade a que está vinculado, oralmente ou por escrito. O ideal é comunicar o maior número de detalhes possível, inclusive com a indicação de eventuais testemunhas.
Há ainda outras formas de pedir ajuda:
Denunciar paralelamente à ouvidoria geral da USP; Informar a guarda universitária ou seguranças ao se sentir ameaçado; Em casos de emergência, os telefones da guarda são: (11) 3091-3222 e (11) 3091-4222.