Alpinista brasileiro morre em acidente de parapente no norte do Paquistão

Rodrigo Raineri integrava um grupo de sete pessoas que seguiam para um acampamento rumo à montanha K2, mas foi o único que decidiu praticar o esporte.

  • Data: 05/07/2024 21:07
  • Alterado: 05/07/2024 21:07
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress
Alpinista brasileiro morre em acidente de parapente no norte do Paquistão

Crédito:Reprodução

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O alpinista brasileiro Rodrigo Raineri, 55, morreu no norte do Paquistão em um acidente de parapente, afirmaram autoridades locais nesta sexta-feira (5). Raineri integrava um grupo de sete pessoas que seguiam para um acampamento rumo à montanha K2, mas foi o único que decidiu praticar o esporte.

“Quando ele começou a voar, o parapente rompeu e ele caiu”, disse por telefone Muhammad Nazir, porta-voz de Shigar, região onde aconteceu o acidente, à agência de notícias AFP.

A equipe também incluía duas pessoas da França, duas dos Estados Unidos, uma da Bulgária e uma da Suíça. O corpo foi recuperado e será repatriado ao Brasil após contato com a família, informou Nazir.

Ele é o quarto estrangeiro a morrer nessa região turística do Paquistão em um mês —três alpinistas do Japão morreram em dois incidentes no início da temporada de escalada. O norte do país é conhecido por atrair pessoas de todo o mundo com suas paisagens deslumbrantes. Um dos pontos visitados é justamente o K2, a segunda maior montanha do mundo, atrás apenas do Everest.

Na tentativa de estimular a economia, o Paquistão intensificou a promoção do turismo na região. No ano passado, mais de 8.900 estrangeiros visitaram a região remota de Gilgit-Baltistan, onde está localizada a maioria das montanhas, segundo os números do governo.

Raineri era um dos mais experientes alpinistas brasileiros. Ele começou a escalar montanhas aos 19 anos, quando subiu o Pico das Agulhas Negras, na Serra da Mantiqueira, no Rio de Janeiro. Ele decidiria se profissionalizar no ramo só alguns anos mais tarde, quando foi para a Holanda fazer um estágio em engenharia da computação, curso que estudava na ocasião.

“Nessa época eu escalei o Mont Blanc [montanha mais alta dos Alpes], em 1993. Lá eu descobri que existia uma universidade para se formar guia de montanha. (…) Voltei ao Brasil e me dediquei totalmente ao esporte”, conta ele em um vídeo compartilhado pela empresa de turismo que presidia, a Destinos Inteligentes.

Ao longo da sua carreira de mais de 30 anos, ele conseguiu marcos importantes. Era o único brasileiro a ter escalado como guia as sete montanhas mais altas do mundo. Com Vitor Negrete, formou ainda a única dupla brasileira a ter escalado a face sul do Aconcágua, montanha de 6.961 metros de altura na Cordilheira dos Andes —a mais alta fora da Ásia.

A face sul é considerada a mais difícil via de acesso ao cume do Aconcágua. Para chegar ao topo da montanha por esse caminho, os alpinistas precisam enfrentar um paredão com quase 3.000 metros de gelo e rochas e lidar com o perigo constante de avalanches.

Ele também foi o primeiro brasileiro a escalar três vezes com sucesso o Monte Everest, a montanha mais alta do mundo. O parapente entrou nas suas aventuras em 2009, contou ele à Revista Trip em uma entrevista publicada em 2011.

“Na primeira vez que eu fui escalar o Mont Blanc, entre a França e a Itália, o céu estava recheado de parapentes, com muita gente voando. Ali eu prometi para mim mesmo que um dia eu ia fazer isso”, afirmou ele à revista. “Em 2009, eu voltei para escalar o Mont Blanc pela terceira vez e resolvi subir com um parapente na mochila e desci voando.”

Natural de Ibitinga, no interior de São Paulo, Raineri se estabeleceu em Campinas, a 93 km de São Paulo, cidade onde estudou engenharia, na Unicamp. Paralelamente ao montanhismo, dedicou-se a palestras ao longo da vida e lançou dois livros —”No Teto do Mundo” e “Imagens do Teto do Mundo”, ambos sobre suas escaladas.

Em 2016, o alpinista foi um dos escolhidos para conduzir a tocha olímpica quando ela passou por Campinas. O prefeito da cidade, Dário Saadi, e o secretário de Esportes e Lazer, Fernando Vanin, manifestaram-se sobre a sua morte.

“Estou extremamente triste e consternado. O Rodrigo era um amigo, um idealista. Quando fui secretário de Esportes e Lazer, lançamos um projeto de grande repercussão, o Projeto Escalada. Uma figura humana extraordinária”, afirmou Saadi, de acordo com a imprensa local. Para Vanin, Raineri era “um símbolo do esporte de Campinas”.

Em suas redes sociais, o montanhista contou que, ao se aproximar dos 50 anos, enveredou para o ramo de tecnologia e abriu a Destinos Inteligentes, uma plataforma que reúne informações de turismo para gestores públicos, empresas e o próprio turista.

Sua última publicação no Instagram, rede pela qual os fãs do alpinista acompanhavam suas aventuras, é um relato emocionado de uma de suas últimas expedições em Karimabad, no Paquistão, após enfrentar dificuldades nos dias anteriores.

“Acho que foi o voo mais sofrido da minha vida”, diz ele no vídeo, no qual é possível ver apenas as montanhas cobertas de neve sobre as quais voava. Ele dedica o voo à sua esposa, a fisioterapeuta Talita Camargo, e ao filho, Rodrigo. “Se vocês estivessem aqui, iam entender o quanto é bonito.”

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  • Data: 05/07/2024 09:07
  • Alterado:05/07/2024 21:07
  • Autor: Redação
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