Estudo mostra que 80% das árvores exclusivas da Mata Atlântica correm risco de extinção
Pesquisa realizada por pesquisadores brasileiros revela que grande maioria das árvores que só existem na Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção
- Data: 12/01/2024 11:01
- Alterado: 12/01/2024 11:01
- Autor: Rodilei Morais
- Fonte: Agência FAPESP
Mata Atlântica é um dos biomas com maior biodiversidade no mundo, mas suas espécies endêmicas estão ameaçadas
Crédito:Frederico Pereira PhotoNatural
Um estudo publicado nesta quinta-feira (11) na revista Science indica que 82% das espécies de árvores endêmicas — aquelas que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo — da Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção. O bioma brasileiro conta com mais de duas mil variedades arbóreas exclusivas suas, o que significa que pelo menos 1.600 destas espécies estão sob algum risco.
O alerta é proveniente de uma pesquisa liderada por pesquisadores brasileiros, incluindo cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em Piracicaba, e do Instituto de Biociências da USP. Pela primeira vez, um estudo avaliou o grau de ameaça para as quase 5 mil espécies de árvores presentes na Mata Atlântica de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
A porcentagem alta já é preocupante, mas a descoberta se torna ainda mais grave tendo em vista a abordagem conservadora que o estudo adotou. Renato Lima, professor da Esalq e coordenador da pesquisa, conta que “levamos em conta se as espécies tinham ou não floresta disponível, independentemente de ser ou não uma floresta saudável, por exemplo.” O cenário, portanto, pode ser pior do que aparenta. “Nem todas as espécies conseguem se manter em fragmentos degradados,” explica o cientista.
Risco para as espécies endêmicas da Mata Atlântica
Considerando a totalidade de espécies — tanto as endêmicas quanto as que podem ser encontradas em outros biomas — 65% se enquadram em alguma categoria de risco. Dentre algumas espécies estudadas, estiveram a araucária, o palmito-juçara e a erva-mate, todas apresentando uma queda de seus exemplares de pelo menos 50% nas últimas três gerações. Já o famoso pau-brasil apresentou uma redução de 84%, o que o coloca na classe de “criticamente em perigo” — a mais grave antes da extinção na escala da IUCN.
A abordagem dos cientistas foi a mais completa já utilizada para avaliar o estado atual da Mata Atlântica, incorporando critérios da IUCN que costumam ficar de fora — pela ausência ou dificuldade de coleta dos dados — de estudos desse tipo. A partir de 2024, porém, este método será referência para medir o grau de ameaça de todas espécies vegetais exclusivas do Brasil.
Se os resultados mostram um cenário triste para o bioma, o estudo foi capaz de encontrar cinco espécies que eram consideradas extintas na natureza. Por outro lado, treze árvores endêmicas entraram para a lista de suspeitas de extinção.
Apesar de ocupar uma área menor que a Floresta Amazônica, por exemplo, a Mata Atlântica apresenta uma biodiversidade tão grande quanto este outro bioma.