Ministra Matilde Ribeiro traz reflexão sobre racismo a servidores de Diadema
Aula Inaugural do módulo Raça e Racismo do curso Escola para Igualdade foi marcada por homenagens a Cleone Santos
- Data: 24/05/2023 17:05
- Alterado: 31/08/2023 23:08
- Autor: Redação
- Fonte: PMD
“Falar de racismo é árduo. É falar de uma doença social
Crédito:Divulgação
Com essas palavras, a ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) Matilde Ribeiro abriu nesta terça-feira (23) o Módulo Raça e Racismo do curso “Escola para Igualdade: Classe, Gênero, Raça e suas Relações com o Território e Meio Ambiente”, parceria da Universidade Federal do ABC (UFABC) com a Prefeitura de Diadema. A formação, que vem sendo realizada no Centro de Formação de Professores Lisete Arelaro, é voltada aos servidores públicos, com objetivo de qualificar o atendimento prestado aos munícipes.
O momento não poderia ser mais adequado. Há poucos dias, o mundo foi sacudido pelas agressões racistas ao jogador de futebol Vini Jr, na Espanha, agressões estas não isoladas e já se repetindo em dez ocasiões. Desta vez, no entanto, o atacante do Real Madrid reagiu aos ataques e foi expulso, mas identificou seus algozes e cobrou punições. Uma onda de indignação varreu o planeta e até o presidente Lula veio a público se manifestar em defesa do brasileiro, pedindo providências à Fifa e à Espanha.
“É assim que o racismo se faz presente em nosso dia a dia,” explicou Matilde Ribeiro, que foi ministra justamente no governo Lula. “Ele corrói a sociedade a partir da negação de direitos, da negação de presença positiva nos espaços, até mesmo a partir da negação à própria vida. É de Emir Sader a fala de que ‘Um dos maiores escândalos da humanidade acontece no Brasil: a matança de jovens negros.’ E esse não é um fenômeno do passado, ele existe até hoje. E pior: É o crime perfeito. Faz vítimas, mas nunca há um culpado. É o racismo das balas perdidas, que sempre acham e se alojam no corpo negro.”
No entanto, Matilde estimulou os presentes a ir além. “Como reagir ao racismo? Que reações podemos e devemos ter? O Vini reagiu, nós saímos em sua defesa, fincamos nossas bandeiras em solidariedade. Mas e aqui em Diadema? Como o servidor pode contribuir para não perpetuar o racismo? E a população?”
Segundo ela, antes de tudo, precisamos reconhecer a interseccionalidade entre gênero, raça e classe na manutenção das desigualdades. E, a partir daí, valorizar a classe trabalhadora como construtora desse país; as mulheres, como sujeitas ativas desta construção desde que o mundo é mundo; e os negros como cidadãos pensantes e que devem ser reconhecidos por sua luta pela sobrevivência ao longo da História.
“Quando a gente começa a olhar com olhar crítico e vontade de transformar, a gente encontra respostas para o racismo, o machismo, o patriarcado, a pobreza – todas essas construções que são naturalizadas, mas que têm sim uma origem. E podem ter um fim.”
E parte dessa transformação está na representatividade. “Nós, negros, podemos estar em maioria em determinado lugar. Mas, para o olhar da branquitude, a gente não existe. Cabe cantarmos aos quatro ventos que sim, existimos. E que, daqui em diante, falaremos por nós mesmas.”
Homenagem a Cleone
A aula inaugural da ex-ministra foi precedida de homenagens a Cleone Santos, falecida recentemente. “A Cleone aqui na Prefeitura colocava a gente em várias encruzilhadas,” confidenciou Márcia Damaceno, coordenadora de Políticas Públicas da Igualdade Racial de Diadema. “Ela fazia parte de uma ong que trabalhava com as mulheres prostitutas da Luz e ela tentava regatar nessas mulheres a importância de construir um Brasil melhor. Então, ao passo em que, de um lado, ela nos impulsionava a construir esperança, do outro ela nos provocava a convencer nossos gestores a mexer nas estruturas. E ninguém quer mexer nas estruturas do racismo e do patriarcado. A lição da Cleone é essa, coragem para não desistir, para sempre acreditar em um Brasil melhor.”
Para Márcia, trazer essa reflexão sobre raça e racismo aos servidores públicos de Diadema é importante porque o racismo está impregnado na sociedade e nas instituições. “Casos de racismo ainda são recorrentes e, por meio de formações desse tipo, os servidores têm oportunidade de conhecer os serviços que atendem essa população e onde e como fazer uma denúncia de violação de direitos. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para cada um rever suas práticas, uma vez que o racismo faz parte da cultura nacional e a gente tem que desconstruir essa cultura do racismo, do patriarcado, da violência.”
As aulas acontecem até 18 de julho. Além de Matilde e Damaceno, o curso tem como docentes a também ex-ministra Eleonora Menicucci, o professor doutor da UFABC e presidente da Associação Brasileira de Estudos Africanos (ABEAFRICA) Acácio Almeida; a secretária de Educação Ana Lucia Sanches; a diretora do Departamento de Educação Popular da Secretaria de Educação de Diadema, Evelyn Cristina Daniel; e a responsável pela área técnica que trabalha com as populações estratégicas na Secretaria de Saúde do município, Yuri Puello Orozco.