Eleições de 2022: Nosso tango à brasileira chega em outubro
Mês que marca as eleições e a corrida presidencial já começou antes da virada do ano
- Data: 22/10/2021 13:10
- Alterado: 22/10/2021 13:10
- Autor: Redação
- Fonte: ABCdoABC
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O encerramento do mês de outubro descortina um mês marcado por paixões, quase portenhas, marinadas em lados e opostos apostos, um período que para alguns, é chamado de “a festa da democracia”, entretanto, com menos de um ano das eleições o país segue rachado.
No contexto de uma frequente polarização, aliadas as atuações do governo até aqui, o que devemos esperar nas eleições do ano de 2022?
Mesmo após o período em silêncio, enquanto esteve preso, o ex-presidente Lula, seguia como uma espécie de sombra de todos os candidatos “postes” do Partido dos Trabalhadores (PT), e após as diversas anulações onde anteriormente fora julgado, veio finalmente de volta, à elegibilidade. O fato colocou o cenário político de ponta cabeça e reascendeu a chama da esquerda.
De qualquer forma, os problemas da esquerda ainda precisam ser superados para que possam seguir em frente. Na semana passada, houve um bate-boca entre Ciro Gomes (PDT), Dilma Rousseff (PT), nas redes sociais. Logo em seguida, veio também a fala do ex-presidente Lula (PT), que saiu em defesa da colega de partido. A troca de farpas dizem especialistas, pode lentamente prejudicar a disputa a candidatura de Ciro. A contenda pública, além de um sinal das proximidades da corrida eleitoral, evidencia a divisão latente na esquerda do país, que, se ainda pretende disputar as eleições de 2022, precisa urgentemente se rearticular.
Para entender o que teremos no ano que vem, primeiramente devemos relembrar os fatos ocorridos durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido).
Os primeiros quase três anos de eleição, são marcados por escândalos, declarações infelizes, fake news, negacionismo e tentativas de costuras políticas por meio de conchavos, que durante a última corrida eleitoral, se disse, jamais faria o chamado “Toma Lá, Dá Cá”. Além disto, houve o já conhecido flerte com a ditadura, revisionismo e as tradicionais cortinas de fumaça”. Dito por críticos e especialistas, dentre as principais manobras para desviar a atenção da população, estão as seguintes situações:
Em meio ao crescente interesse da população, a pergunta sobre o paradeiro do policial militar aposentado, Fabrício Queiroz. Quando o assunto virou debate público, a estratégia foi a postagem do presidente ao subir um vídeo obsceno no carnaval de rua perguntando o que era Golden Shower. Ou como no caso em que ofendeu a jornalista da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello, ao afirmar que ela estaria se insinuando sexualmente para um ex-funcionáro de uma agencia de disparo em massa por WhatsApp. Ao vivo, o presidente disparou contra a repórter “queria dar o furo a qualquer preço”. A fala veio justamente no mesmo período em ocorria o depoimento do ex-funcionário à CPMI das Fake News, no Congresso. De acordo com o autor do livro Organisation of the Organisationless: Collective Action after Networks (“Organização dos Sem Organização, Ação Coletiva Após as Redes”, em tradução livre), a tese é de que esse tipo de declaração, “controversa”, surge em um mesmo timing específico, para desviar o rumo de uma conversa ou situação. E embora não se possa afirmar categoricamente que falas como o da ministra (da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos), Damares Alves, ao dizer que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”, mantém o núcleo de apoiadores fidelizados. Curiosamente a fala surge justamente durante a reforma da previdência.
Entre outros recursos, uma das principais estratégias utilizadas, vem da mesma fonte da comunicação do antecessor de Jon Biden. A estratégia trumpista é conhecida como edgelord (“o senhor do limite”, em tradução livre). A tática consiste em sempre forçar os limites do que pode ser dito em determinada pauta, geralmente assuntos polêmicos que mexem com a população. A estratégia visa introduzir temas na maior parte das vezes, repletos de homofobia, sexismo ou racismo, e dessa forma, por meio de comentários dessa natureza, são testados os limites da população, ao passo em que atraída a atenção para si, dependendo da repercussão, é feito um recuo estratégico, onde o argumento é de que a fala não passava de um brincadeira ou fruto da liberdade de expressão que não se pode ser cerceada.
Pois bem, passados os mais de 1.000 dias de governo Bolsonaro, em meio as diversas aberturas de inquérito, com um recorde histórico de ministros demitidos, dentre os quais o ex-juiz Sérgio Moro (é pivô das investigações) que acusam o presidente de interferir na Polícia Federal para favorecimento de sua família, enfileirando uma gestão de sucessivas irregularidades.
Com um acúmulo de imposições descabidas sobre medicação sem comprovação científica, se descobriu o escândalo da Prevent Senior. Revelado na CPI da Covid, o governo esteve envolvido em um esquema onde as mortes eram ocultadas e pacientes eram utilizados como cobaias para estudos do que se chamou “tratamento precoce contra a Covid-19”, dessa forma, os óbitos eram adulterados dos prontuários dos pacientes idosos.
Linha do Tempo Ministerial
Como se não bastasse, em meio a fiascos e decisões unilaterais, houveram dezenas de demissões ou afastamentos das pastas ministeriais. Tivemos a passagem de quatro diferentes Ministros da Saúde, em meio a uma pandemia mundial, sendo que, somente no cargo mais importante do período da luta contra o coronavírus, estiveram na pasta os ministros: Mandetta, Teich, Pazuello e atualmente Queiroga, sendo todas as modificações, realizadas por conta de políticas partidárias e não técnicas. Desta forma, Bolsonaro fez acenos favoráveis ao chamado “Centrão” (que anteriormente se dizia contrário). Assim, com um total de 24 mudanças, o presidente conseguiu superar o recorde de rotatividade nas pastas ministeriais, que pertencia a então presidente Dilma Rousseff, que em sua gestão chegou a 20 modificações.
Até o momento, já deixaram o governo, entre demissões, trocas ou afastamentos, mais de 20 ministros, sendo que, dos 23 atuais comandantes das pastas ministeriais, ao menos 18 foram infectados pelo covid-19.
Relembre a lista de ministros que já deixaram o cargo, na dança das cadeiras do governo Bolsonaro:
- 1º Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência da República), falecido em março de 2020, vítima de um infarto fulminante – fora demitido por influência do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, por conta das constantes interferências do familiar na comunicação da Presidência da República;
- 2º Ricardo Vélez (Educação), mergulhado em erros de português, falta de gestão no MEC, decisões contraditórias, retirada da exigência de revisões bibliográficas e orientação para que os alunos fossem filmados enfileirados cantando o hino nacional. Sem dúvidas, a gota d’água, foi a humilhação em audiência pública, quando a Deputada Federal, Tabata Amaral (PSB), na época filiada na legenda do PDT-SP, fez duras críticas a sua gestão, com acusações de não existir na pasta da educação objetivos claros, mas meramente ideológicos;
- 3º Floriano Peixoto (Secretaria-Geral), a queda do sucessor de Bebianno ocorreu em mais uma dança das cadeiras, para a acomodação de cargos. Logo depois do presidente dos Correios, general Juarez Cunha, se opor a privatização da estatal, ele perde o cargo. Dessa forma, Bolsonaro, retira Peixoto da Secretaria-Geral, e o coloca em seu lugar. A época, Bolsonaro afirmou que Cunha se comportou como um sindicalista;
- 4º Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo); a demissão veio, quando o ex-ministro entrou em colisão com a ala ideológica do governo, leia-se o filho do presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o Secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, e o influenciador e guru do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho. Após uma discussão com xingamentos em suposta troca de mensagens, Cruz teria dito que o filho do presidente era “um desiquilibrado”, e que o secretário de comunicação é “um frouxo”. As explicações do secretário não convenceram o presidente que logo o demitiu. Posteriormente, a apuração da PF descobriu que as mensagens eram falsas, pois os “prints” tratavam-se de uma fraude arquitetada pelo blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, acusado de disseminar fakenews e favorecer pautas governistas;
- 5º Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional); além da briga com Paulo Guedes, nos bastidores haviam queixas de que ele estaria atuando junto aos governadores do Nordeste, adversários do governo. Entretanto, o fator preponderante, estava na falta de agilidade do ex-ministro em movimentar as questões no setor da construção, sobretudo, como no programa “Minha Casa, Minha Vida”, que tentava sistematicamente esconder os atrasos. Como consequência, veio a total perda de diálogo com o setor privado, até que sem interlocução com o empresariado, Canuto não conseguiu mais se segurar e acabou caindo;
- 6º Onyx Lorenzoni (Chefe da Casa Civil), após 11 meses, insatisfeito, o presidente abriu espaço no cargo para ala militar do governo, nomeando o general Walter Souza Braga Netto, e realocando Onyx para a pasta da Cidadania, dessa forma, ele já acumula até o momento, a passagem por seis cargos no governo Bolsonaro;
- 7º Osmar Terra (Cidadania); a eminência de sua queda vinha se desenhando desde suas divergências como na reformulação do programa Bolsa Família e as imagens das filas de espera no programa foram também determinantes para sua queda, entretanto, após apuração da PF, onde foi descoberto um contrato milionário com a Business Technology (B2T). Após sua saída a pasta passou a ser comandada por Onyx Lorenzoni que deixou a Casa Civil;
- 8º Luiz Henrique Mandetta (Saúde); talvez a mais desastrosa das demissões conduzidas por Bolsonaro, o presidente o destitui do cargo máximo da saúde, não só por conta das divergências sobre o isolamento social e combate ao coronavírus, mas também após o crescimento massivo de popularidade (conforme o Data Folha, 76% da população, aprovou os trabalhos) na gestão do ministro Mandetta, ante ao enfrentamento da pandemia;
- 9ª Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública); apontado como um dos principais pilares do governo, a demissão de Moro, foi seguramente a queda que mais abalou o a gestão do presidente Bolsonaro até o momento. O pedido de saída pública, ocorre no momento em que o presidente tenta trocar a direção da Polícia Federal, sem passar pela pasta. Moro alega que a troca de Maurício Valeixo, sem justificativa, que de acordo com o ex-juiz, seria para colher informações internas da inteligência da polícia, e que posteriormente alegou ter como base a proteção de seus familiares investigados pela PF-RJ. A informação foi confirmada pelo vídeo vazado da reunião ministerial e até o momento segue em investigação;
- 10º André Mendonça (Justiça e Segurança Pública); no caso do jurista, pode ser chamada como um dos grandes “dançarinos das cadeiras” junto com Onyx, visto que Mendonça, sozinho já ocupou os cargos de ministro da Justiça e advogado Geral da União. De relação estreita com o presidente, o jurista tem total carta branca de Bolsonaro em todas as realocações feita até hoje. Além disso, é a principal indicação (enquanto aguarda apreciação da Câmara até o momento), para assumir como ministro do STF, após sua saída assumiram Bruno Bianco (na AGU) e Anderson Torres (na Justiça e Segurança Pública);
- 11º Nelson Teich (Saúde); com menos de um mês no cargo, após decisões sem o conhecimento do ministro, ocorre mais um fiasco colecionado pelo presidente Bolsonaro, que acumulou quedas de braço com o Teich, na questão dos medicamentos sem comprovação científica. O presidente insistia que o então ministro, incluísse o medicamento hidroxicloroquina, como protocolo no tratamento do novo coronavírus, com isso, somado a falta de diálogo e zero autonomia, fez com que Teich pedisse a demissão do cargo, perdendo o segundo ministro em um ano, em plena pandemia global;
- 12º Abraham Weintraub (Educação); indicado pela chamada “ala ideológica”, o ex-ministro caiu após uma gestão desastrosa a frente da pasta da educação, sendo uma nova “vítima” da deputada Tabata Amaral (PDT-SP), que possui a educação como principal pauta. Weintraub foi inundado de acusações por crime de responsabilidade, declarações desastrosas, além de sucessivas postagens com erros de português e sobretudo uma péssima condução do Exame Nacional do Ensino Médio, balançaram o cargo do ex-ministro. Entretanto, a gota d’água, foram os insultos ao STF, chamando-os de “vagabundos”, nas diversas declarações expostas no vazamento da reunião ministerial com o presidente Jair Bolsonaro;
- 13º Carlos Alberto Decotelli (Educação); neste caso a queda ocorreu antes mesmo da posse, quando foi descoberto uma farsa em seu currículo. O escândalo se deu após uma série de contradições de Decotelli, ao afirmar primeiro ter cursado doutorado e pós-doutorado, e depois ter atuação como professor. Pouco a pouco as inconsistências começaram a aparecer, quando as instituições citadas foram se manifestando de forma a negar as informações dadas por ele. Além do exposto, uma das universidades ainda apurava a denúncia de plágio na dissertação de mestrado. Mesmo assim, foi nomeado e ficou menos de uma semana no cargo;
- 14º Marcelo Álvaro Antônio (Turismo); em meio as sucessivas quedas de braço com o general Luiz Eduardo Ramos, o presidente Bolsonaro já havia decidido pela troca do comando na pasta, entretanto, o movimento foi adiantado, após Álvaro Antônio acusar Ramos de negociar seu cargo em troca de apoio na votação do próximo presidente da Câmara. Além disso, ele foi pivô do esquema de candidaturas do PSL, conhecido como “laranjal”;
- 15º Eduardo Pazuello (Saúde); em sua terceira modificação da pasta no ano, o presidente colocou um militar general, sem qualquer experiência em saúde na carreira. Admitido por ele próprio, “leigo na área”, o ex-ministro foi tido inicialmente com uma espécie de interino, que mesmo efetivado, foi inundado por críticas do “Centrão” e apoiadores, após um ritmo lento na vacinação. Além da queda nos repasses aos governadores, a situação se agravou com a falta de respiradores nos hospitais, dessa forma, de maneira melancólica ocorreu demissão de Pazuello;
- 16º Ernesto Araújo (Relações Exteriores), indicação da ala ideológica do governo, o ex-ministro, além dos constantes atritos com umas das principais parceiras comerciais, a China, foi muito criticado por Arthur Lira, deputados e senadores da base, que pediram sua saída após uma lenta condução na política internacional que atrasaram a chegada das vacinas no Brasil;
- 17º Fernando Azevedo e Silva (Defesa) além das declarações ponderadas junto ao exército, em meio a pandemia, os posicionamentos neutros do ex-ministro, desagradaram o presidente que buscou um nome mais próximo do chamado “núcleo-duro”, e assim conduziu um rearranjo ministerial, para acomodar o general Walter Braga Netto na pasta;
- 18º José Levi (Advocacia-Geral da União); a saída, veio logo após o episódio em que Bolsonaro aciona o Supremo Tribunal Federal (STF), colocando-se em oposição as medidas restritivas no Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Bahia. Por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), o presidente tentou barrar o lockdown nos estados, não só sem a ciência de seu ministro, mas também havia sequer a assinatura de Levi no documento. O recurso foi negado pelo STF, pois a ação não deve ser reavaliada diretamente por meio da presidência, considerado como um “erro grosseiro” pelo Supremo;
- 19º Jorge Antônio de Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência); em nova dança das cadeiras, após ser preterido por Kassio Nunes Marques na indicação ao STF, Oliveira deixa cargo para assumir no dia seguinte o ministério do Tribunal de Contas da União (TCU), e após assumindo a pasta o ex-ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos;
- 20º Walter Souza Braga Netto (Casa Civil), a pasta com maior rotatividade no governo, em um primeiro momento, teve na escolha do presidente Bolsonaro, a indicação de Onyx Lorenzoni para o cargo (de Ministro-Chefe da Casa Civil). Após foi nomeado o general Braga Netto, este, por sua vez foi substituído por um outro militar, o general Luiz Eduardo Ramos;
- 21º Ricardo Salles (Meio Ambiente), além de relatórios financeiros suspeitos, sua queda era eminente, até mesmo por conta de ser um alvo das investigações da PF. A polícia suspeita de um esquema que envolvia o Ibama, onde empresas do governo eram favorecidas com pagamentos de propina aos servidores. Sua queda ocorre após uma série de políticas destrutivas ao meio ambiente, além das frequentes acusações de uma conduta danosa a Amazônia, o chamado “passar a boiada” (do desmatamento), na fala que ficou marcada após o vazamento da reunião ministerial do planalto;
- 22º Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), a destituição do cargo, pegou o ex-ministro de surpresa, quando em entrevista afirmou ter sido atropelado por trem. Sua pasta foi mais uma acomodação do presidente Bolsonaro, em um novo um aceno ao “Centrão”, quando assume o senador e atual comandante da pasta, Ciro Nogueira.
Entre trocas e demissões, houveram também as quedas da atriz Regina Duarte e Roberto Alvim, ambos a frente da Secretaria Especial da Cultura. Indicação da “ala ideológica” de Bolsonaro, Alvim colecionava polémicas e ataques, até que em uma de suas falas, copiou um discurso de propaganda de Hitler. A apologia nada velada ao nazismo não saiu barata, e ele foi exonerado do cargo.
No caso de Regina Duarte, após as sucessivas reclamações de não estar em Brasília durante o expediente, ela acabou virando alvo do núcleo Olavista, por conta de suas ausências. A “bomba”, veio durante uma entrevista concedida à CNN, onde relativizava a ditadura, minimizando as mortes e torturas, e assim passou a ser pressionada pela classe artística. Dessa forma, a dita “carta branca”, concedida pelo presidente Jair Bolsonaro, terminou com a sua destituição do cargo para outra função.
Em meio a uma projeção otimista por conta da proximidade com as eleições de 2022, Bolsonaro deve perder cerca de 11 dos 23 ministros que ainda restam durante a o governo. De acordo com o próprio presidente, diversos mandatários de suas respectivas pastas, muitos ainda devem deixar o governo no mês de abril para disputar outros cargos. Pois conforme vislumbra a Lei Eleitoral, o candidato não pode estar atuando em outra função do governo, com um período máximo de seis meses antes das eleições.
Ataque ao bom senso e às instituições
Com a chegada do mês de outubro, nosso país já passa dos 25 anos da urna eletrônica. O dispositivo de contagem massiva, deu início a uma era de progresso e tecnologia facilitadora as eleições brasileiras, tendo nosso país como único possuidor de um sistema 100% eletrônico, desde as eleições municipais de 1996. Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro, tal qual seu modelo de gestão – o ex-presidente americano Donald Trump fazia, desacreditando as urnas (nos EUA, realizadas de maneira analógica ou pelos correios) –, passou a descredibilizar o sistema eletrônico. Curiosamente, esta mesma urna, de acordo com recente levantamento, demonstra que a urna eletrônica, já foi responsável por contabilizar 115 milhões de votos de toda a família Bolsonaro, garantindo 76 anos de salários em 19 eleições, ou seja, quase um século de salários garantidos em todos os mandatos vencidos.
Some a tudo isso, uma economia fragilizada de inflação atingindo recordes, toda a sorte de investigações, denúncias e apuração por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), manifestações com direito a ataques a democracia e entidades públicas, embates sucessivos contra o Supremo Tribunal Federal (STF), comportamentos erráticos como motociatas com dinheiro do contribuinte, aparições públicas sem máscara, além de sistematicamente se negar a tomar a vacina, como também em declarações distorcidas, como ocorrido durante a abertura da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. O presidente era o único dentre todos os líderes do mundo que não estava vacinado. Estes, dentre outros elementos, se acumulam em meio a mais de uma centena de pedidos de impeachment na mesa do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Lula x Bolsonaro
Em meio aos mais diversos escândalos e ataques somados, fez-se um eco negativo para que a popularidade do presidente desabasse consideravelmente. Em recente pesquisa do Data Folha, revelou-se que quase 60% da população, não votaria pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
Por outro lado, em sua base aliada, o que se diz entre as falas, é que o presidente Bolsonaro consegue crescer em meio à crise. Desta forma, vale destacar que por si só, mesmo com o relatório ao término nos trabalhos da CPI da Covid, demonstram o poder de resiliência e vitalidade no poder Legislativo que sobrevivem em meio aos mais de 100 pedidos de impedimento, sobretudo quanto a sua atuação durante a pandemia, quando houveram mais 600 mil mortes no país.
Além do ressurgimento do ex-presidente Lula no cenário político, vemos o crescimento da rejeição de Bolsonaro. De acordo com os últimos dados e as pesquisas realizadas, ao menos até o momento, se evidencia um ambiente político não favorável a uma reeleição para Jair Bolsonaro.
Por um outro lado, no horizonte de desafios do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, existe além de uma forte e sólida oposição, enfrentam uma esquerda rachada e uma rejeição pujante por boa parte da população brasileira, o chamado antipetismo. O ressurgir da figura de Lula, ocorre mesmo após sua prisão e condenação, além dos diversos escândalos de corrupção como o mensalão, a operação Lava Jato, e a queda retumbante do Partido dos Trabalhadores.
Com o enfraquecimento de operações anticorrupção, veio a perda de credibilidade de figuras como a do ex-juiz Sérgio Moro. Logo após, um sistemático assassinato de reputação, método já corriqueiro por meio de narrativas de apoiadores do governo Bolsonaro, passam de um dia para o outro trocar o predicado de herói anticorrupção, para “Judas”, ou mesmo, traidor. No meio do caminho o governo sofreu rachas como o do PSL, perdendo nomes como a de uma das principais lideranças do Bolsonaro, a Deputada Federal, Joice Hasselmann (PSL-SP), destituída após se posicionar contra incluir o filho do presidente na liderança da bancada do PSL da Câmara, Eduardo Bolsonaro.
Entre as reviravoltas do universo político, o gira mundo, roda mais uma vez e neste momento, o cenário polarizado, sorri para o ex-presidente Lula, que parece gozar de um momento mais privilegiado desde seu renascer das cinzas, na esteira de uma insatisfação nacional. Ao lembrarmos do atual contexto econômico, nos deparamos com uma inflação que segundo estima o mercado financeiro, se eleve para 8,25% até o final do ano, gerando reflexos de altas na gasolina, carne, gás e cesta básica. Ou seja, mesmo com o embate de opostos, de propostas que se contrapõem, nada afeta mais o eleitor brasileiro, do que o bolso.
Neste dessarte, para a maioria dos analistas políticos, em alguns âmbitos, a estratégia é igual para ambos. A ordem, é de expurgar toda e qualquer ideia de possibilidade viável a uma “terceira via”. Tanto para Bolsonaro, quanto Lula, em alguma medida, faz-se vital a necessidade de um cruzamento entre nêmesis para coexistirem. Ou seja, uma polarização é bem vista para os dois lados, em um cenário, onde ambos acreditam em vitória se houver o embate de forças opostas.
Com um cenário propício, cresce também a chamada “Terceira Via”, esta também já deu início a seus movimentos estratégicos. Nesta semana o governador do estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), participou de um dos primeiros debates para as próximas eleições e alfinetou seu colega tucano, o governador de São Paulo João Dória (PSDB). Em sua fala, Leite afirmou que a negativa de seu adversário em participar de debates é algo bastante semelhante ao bolsonarismo. Leite ainda provocou dizendo acreditar que isso seria o retorno do chamado “BolsoDória”, jargão utilizado pelo governador de São Paulo, em meio as últimas eleições em apoio a Bolsonaro, a época candidato à presidência.
Tanto Lula com suas viagens para o Nordeste e Brasília, com planos para um tour no mês que vem para Europa, quanto Bolsonaro com suas declarações citando o ódio ao ex-presidente, em seus passeios com apoiadores em motociatas, e até Ciro Gomes com seus ataques a ambos, já demonstram indícios claros, de que a disputa será bastante acirrada e que, seguramente, veem conduzindo uma agenda típica de candidatos que pretendem chegar ao Palácio do Planalto.
O que esperar de 2022
Mesmo com o embate de duas forças opostas, não se pode desprezar os índices de rejeição dos principais candidatos de 2022, visto a descrença de um determinado público, são os chamados “nem-nem”. O eleitor “nem-nem”, é aquele que não tem a simpatia nem de Bolsonaro, nem de Lula. No recente levantamento realizado pela Genial Investimentos e Quaest Consultoria, já são quase 30% os eleitores que não votariam em nenhum dos dois candidatos.
Ou seja, em menos de um ano, no domingo do dia 02 de outubro, seja Lula, ou Bolsonaro – candidatos de forte capilaridade distribuída em um eleitorado cativo –, ou mesmo para o caso de uma terceira via, será o dia em que o eleitor, além de decidir qual será o próximo Presidente da República, irá escolher os cargos de governador, senador, deputado federal e estadual.
O mais recente levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de São Paulo, revelou o cancelamento de 5.973.478 títulos eleitorais, sendo estes localizados apenas no estado de São Paulo. Para efeito estadual, os dados equivalem a 18,79% de todo eleitorado paulista. Na capital, o número cancelamentos é de 1.107.833, e equivalem a um total de 12,30% dos títulos dos eleitores paulistanos.
A bem da verdade, a corrida presidencial para 2022 já começou, e assim, no ano que vem, mais de 145 milhões de eleitores brasileiros deverão escolher seus representantes nas urnas. Portanto, aqueçam os motores, regularizem seus títulos e estejam lá. Ou seja, aos eleitores, resta a missão de se prepararem, pois certamente, no que depender dos candidatos, a disputa será como no famoso tango argentino, decidido Por una Cabeza, até o último instante, trilhado por Carlos Gardel, o “prêmio” será de quatro anos no cargo mais importante do país, a cadeira da presidência do Brasil.
E mais, se houvesse necessidade de um terceiro turno, eles iriam até o fim, então lembre-se: outubro é logo ali, e 2022 promete, mas desta vez (seja quem for), nós esperamos que cumpra(m).