TCE de MS manda agência excluir anúncio veiculado em site acusado de ‘fake news’
A Corte ordenou retirada de seu anúncio no Jornal da Cidade Online, alvo de reportagem por uso de perfis falsos para atacar magistrados, desmentido ao menos 8 vezes pelo Estadão Verifica
- Data: 21/05/2020 15:05
- Alterado: 21/05/2020 15:05
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
O Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul ordenou a exclusão de anúncio publicitário da Corte que tem sido veiculado no site de viés bolsonarista Jornal da Cidade Online
Crédito:Reprodução
O Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul ordenou a exclusão de anúncio publicitário da Corte que tem sido veiculado no site de viés bolsonarista Jornal da Cidade Online, acusado de difundir conteúdos falsos ou enganosos e usar perfis apócrifos para atacar políticos e magistrados brasileiros. Ao menos oito publicações do site foram desmentidas pelo Estadão Verifica, núcleo de fact-checking do Estadão.
A página exibia, de forma fixa, no topo do site, peça publicitária sobre medidas da Corte de Contas estadual sobre capacitação de gestores no combate ao novo coronavírus. Diferentemente dos demais anúncios, que são veiculados via Google e dispostos de acordo com o perfil do usuário e suas preferências de compras e pesquisas, a peça do TCE-MS permanecia no mesmo local em toda visita ao site. O anúncio foi excluído da home page do site na noite de quarta, 20.
Em nota, o Jornal da Cidade Online admite que foi escolhido pela Corte de Contas para veicular sua peça publicitária. Segundo o site, a Prefeitura Municipal de Campo Grande, a Câmara Municipal de Campo Grande e ‘empresas privadas do Estado’ também divulgaram campanhas institucionais na página.
A presença do anúncio foi destacada pelo perfil Sleeping Giants Brasil, que reproduz campanha norte-americana para alertar empresas privadas e órgãos públicos da presença de anúncios em sites que difundem peças de desinformação. A conta foi criticada pelo filho do presidente Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, após um anúncio do Banco do Brasil ser exibido no mesmo site. O banco público disse que iria retirar a peça.
Ao saber dos alertas, o secretário de comunicação do governo, Fábio Wajngarten afirmou que ‘estava contornando a situação’ e disse que ‘atacar veículos independentes não trará o faturamento e o leitor de volta a seu patrão’.
Após a reportagem do Estadão entrar em contato com o TCE-MS para cobrar posicionamento, a assessoria da Corte informou que o presidente do órgão, Iran Coelho das Neves, ordenou à agência de publicidade responsável pela campanha que suspendesse ‘divulgação de qualquer material publicitário no referido site’.
A Corte, no entanto, não informou qual agência foi responsável pela peça, quem escolheu veicular o anúncio no Jornal da Cidade Online e tampouco se houve pagamento de valores financeiros pela divulgação do mesmo.
No portal da transparência do TCE-MS, consta que a agência Agilitá é a única empresa que mantém contrato ativo com o TCE-MS no valor global de R$ 3,7 milhões para a realização de campanhas publicitárias para a Corte. O documento aponta que toda campanha precisa passar por autorização prévia e expressa do tribunal, e as informações devem ser detalhadas em reuniões de planejamento nas dependências do próprio TCE-MS.
Procurada por ligação telefônica e e-mail, a agência Agilitá afirmou que se manifestaria, mas não enviou resposta até o fechamento deste texto.
O Jornal da Cidade Online publicou ao menos oito textos que foram desmentidos pelo Estadão Verifica, incluindo artigo que manipulou dados de pesquisas de opinião para fazer parecer que aprovação de Bolsonaro tinha aumentado entre janeiro a novembro do ano passado e esconder que a desaprovação do governo havia crescido de forma significativa.
Há, também, texto com informação falsa sobre a entrega de ‘códigos de segurança’ da urna eletrônica a venezuelanos e, em maio deste ano, uma peça de desinformação omitiu trecho da fala do governador de Nova York, Andrew Cuoco, sobre a queda do índice de novas infecções no Estado para destacar dados de pesquisa que ‘provariam’ a falha do lockdown em Nova York.
Alinhado à direita conservadora, o site foi condenado neste mês a indenizar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, pela publicação de reportagens consideradas ofensivas. Os donos do site tiveram de retirar os textos do ar e ainda publicar a íntegra da sentença, além de uma retratação, em até 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 1,5 mil.
O site AosFatos também revelou, em julho do ano passado, que o Jornal da Cidade Online possuía dois perfis apócrifos que atacavam políticos e magistrados. Os ‘colunistas’ Amanda Acosta e Otto Dantas usavam fotos alteradas da escritora Thalita Rebouças e de um homem, cuja foto original consta em um banco de imagens.
Em nota, o editor do Jornal da Cidade Online afirma que a escolha do site para veicular o anúncio deriva do ‘considerável número de acessos’ no Estado.
“Quanto as verificações realizadas pelo Estadão, é evidente que jamais se tratou de ‘fake news’, foram matérias que, de acordo com as agências verificadoras continham algumas imprecisões. Tanto é que foram prontamente corrigidas e as marcações retiradas. Nesse sentido, vale lembrar que qualquer veículo de comunicação pode errar ou cometer algum deslize, inclusive o Estadão“.
Sobre a reportagem do site AosFatos que aponta o uso de perfis apócrifos para atacar magistrados, o Jornal da Cidade Online afirmou que se trata de publicações ‘mentirosas, difamatórias e caluniosas’. “Dizer que o jornal fez uso de perfis apócrifos para textos escritos com a utilização de pseudônimo é uma aberração. O JCO é um empresa contituída (sic), com sede e CNPJ. Tem um jornalista responsável como editor e que responde por tudo que é publicado”, disse.