Análise: processos de Trump nas eleições não têm fundamento legal
Mesmo as ações que podem ser aceitas e tenham uma decisão favorável ao presidente americano são fracas e podem não ser suficientes para lhe dar a vitória
- Data: 06/11/2020 18:11
- Alterado: 06/11/2020 18:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Ações de Trump no âmbito das eleições carecem de fundamento
Crédito:Reprodução
Em termos legais, as várias ações movidas pelo presidente Donald Trump no âmbito das eleições carecem de fundamento. Na quarta-feira, a campanha de Trump anunciou uma série de diferentes iniciativas legais em oposição à vitória aparentemente próxima de Joe Biden no Colégio Eleitoral.
Sua estratégia incluiu tentativas de suspender a apuração dos votos em Michigan e Pensilvânia, e uma moção à Suprema Corte no caso relativo aos votos que chegaram na Pensilvânia depois das 20 horas do dia das eleições. A campanha também entrou com uma ação na Geórgia afirmando que um funcionário encarregado da apuração misturou indevidamente os votos dos ausentes, e pediu para que os votos que chegassem atrasados fossem separados. Não é este o tipo de ação capaz de mudar uma eleição. (Os advogados de Trump também afirmaram que tentariam conseguir uma recontagem em Wisconsin, mas é extremamente improvável que isto elimine a margem de 20 mil votos de Biden naquele Estado.)
Comecemos com as tentativas de parar a apuração. Estas medidas carecem de fundamento do ponto de vista legal. A ação movida por Trump em Michigan pede a interrupção da apuração dos votos, alegando que os encarregados de contar o voto dos ausentes continuam trabalhando sem a presença de inspetores eleitorais e “contestadores” de votos de cada partido, conforme exige a lei daquele estado. O problema deste argumento é que, até onde é possível determinar, Michigan na realidade admite inspetores e fiscais democrata e republicanos.
A campanha de Trump afirma ainda que o Estado violou a lei porque não mostra aos fiscais de Trump o vídeo das urnas das quais são retiradas as cédulas dos ausentes. Por mais estranho que possa parecer, a campanha de Trump está afirmando que a contagem dos votos deveria parar porque os seus representantes não puderam assistir ao vídeo das urnas.
Segundo a lei de Michigan, as “caixas contendo os votos” deveriam ser vigiadas por vídeo. Mas aparentemente não existe a exigência legal de que as campanhas vejam o vídeo das urnas. Em todo caso, não faria sentido nenhum os tribunais ordenarem a suspensão da apuração para remediar a suposta falha pela não exibição do vídeo. A coisa lógica seria o tribunal exigir que o estado fornecesse o vídeo.
É difícil fugir da conclusão de que a campanha de Trump tentou desesperadamente impedir que Michigan concluísse a sua apuração. Trump estava atrás na contagem de Michigan, então o plano não podia ser reivindicar a vitória com base nos votos já contados. Devia ser então para fugir da possível conclusão de que Biden ganhou a eleição
Na Pensilvânia, a campanha de Trump entraria (ou disse que entraria) com várias ações. Uma delas foi movida na noite de segunda-feira contestando as instruções da Secretaria de Estado que permitem que os eleitores que cometeram algum erro em seus votos pelo correio possam corrigi-los. Esta ação talvez tenha mais chance de ser bem-sucedida, considerando que as instruções chegaram no último minuto. Outra é uma tentativa de parar a apuração, usando aparentemente uma teoria semelhante àquela que a campanha tentou em Michigan.
Suprema Corte
Em seguida vem a moção à Suprema Corte. Se lhe for permitido intervir, Trump pedirá que os juízes excluam os votos enviados pelo correio que chegam depois do fechamento das sessões. A Suprema Corte provavelmente permitirá que Trump intervenha, considerando que esta ação é anterior à eleição, mas isto não garante que eles darão uma sentença favorável a Trump.