Venda ilegal de madeira: controle falho do governo, dizem bancos, indústria, agro e ONGs
Estadão teve acesso exclusivo à carta elaborada por aliança entre setores com 262 representantes, a mesma que apresentou ao governo um conjunto propostas para deter o desmate na Amazônia
- Data: 19/11/2020 19:11
- Alterado: 19/11/2020 19:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Coalizão diz que venda ilegal de madeira é culpa de controle falho do governo federal
Crédito:Reprodução
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento composto por 262 representantes ligados às áreas do meio ambiente, agronegócio, setor financeiro e academia, enxerga no governo brasileiro um dos principais responsáveis pela criminalidade que domina o mercado de madeira no País, dada a fragilidade das fiscalizações que o poder público realiza no setor.
O Estadão teve acesso exclusivo a uma carta elaborada pela coalizão, a mesma que, em setembro, apresentou ao governo federal um conjunto de seis propostas para deter o desmatamento na Amazônia. O novo documento será encaminhado ao presidente Jair Bolsonaro e ao vice-presidente Hamilton Mourão, além dos ministérios da Agricultura, Meio Ambiente, Economia e Ciência e Tecnologia. As propostas chegarão ainda às mãos de líderes e parlamentares da Câmara e do Senado, ao Parlamento Europeu e embaixadas de países europeus.
No documento, os representantes lembram que estudos recentes mostram que mais de 90% do desmatamento no País é realizado ilegalmente e que a exploração florestal tem índices parecidos. O maior obstáculo para mudar a realidade do setor, afirmam, “é a insegurança jurídica causada pela falta de fiscalização e comando e controle pelo Estado”.
“Nesse cenário de ilegalidade, o Brasil perde uma enorme oportunidade, não apenas de garantir um ambiente de negócios no qual a lei é de fato aplicada, mas de promover uma economia que gere benefícios muito além do econômico, como, por exemplo, os modelos de concessão florestal, que viabilizam a produção de madeira enquanto preservam a cobertura vegetal e geram empregos verdes” declaram as instituições e empresas.
“O Brasil só vencerá o comércio ilegal de madeira se todos assumirem sua responsabilidade. É preciso destacar o papel crucial do poder publico, já que empresas e investidores não têm – e nem deveriam ter – poder de polícia para lidar com invasões, roubo de madeira e outras ilicitudes que contaminam a cadeia de produção, atingindo os mercados nacional e internacional, e ainda reforçam outras atividades ilegais”, declara a coalizão.
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura reúne nomes da área ambiental como WWF Brasil, WRI Brasil, TNC, Imazon e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Do lado empresarial do agronegócio e da indústria estão companhias como JBS, Klabin, Marfrig, Amaggi, Basf, Danone, Natura e Unilever. Como define a própria coalizão, o grupo é “um dos raros foros de diálogo entre o agronegócio e ambientalistas”.
Neste novo documento, o grupo declara que, além do impacto ambiental e do prejuízo fiscal, a ilegalidade impune gera concorrência desleal para aqueles que operam dentro da lei. Ainda assim, a coalizão afirma que “vê com esperança a manifestação de diversas vozes da sociedade que têm vindo a público externar sua preocupação e compromisso com a sustentabilidade”.
“O Brasil dispõe de conhecimento, informações e experiência suficientes para eliminar a ilegalidade de sua produção e ir além. Mas isso só será possível quando todos os setores, públicos e privados, integrarem esforços, cooperarem e colaborarem neste objetivo e assumirem sua responsabilidade neste desafio”, declaram. “A preocupação com esse cenário, infelizmente, não é nova. Há décadas a ilegalidade é uma das principais causas da violência no campo e de um ambiente avesso aos negócios e à atração de capitais. No entanto, com o aumento observado nos últimos anos nas taxas de desmatamento, o combate ao crime é hoje ainda mais urgente.”
Procurado, o governo não se manifestou até o momento.
Leia abaixo a íntegra do documento:
“19 de novembro de 2020 – Entre as bandeiras da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento composto por mais de 250 representantes do agronegócio, sociedade civil, setor financeiro e academia, está o combate à ilegalidade nas atividades rurais, incluindo o desmatamento e a exploração florestal predatória.
Estudos recentes mostram que mais de 90% do desmatamento no país é realizado ilegalmente e a exploração florestal possui índices parecidos. Além do impacto ambiental e do prejuízo fiscal, a ilegalidade impune gera concorrência desleal para aqueles que operam dentro da lei.
Nesse cenário o Brasil perde uma enorme oportunidade, não apenas de garantir um ambiente de negócios no qual a lei é de fato aplicada, mas de promover uma economia que gere benefícios muito além do econômico, como, por exemplo, os modelos de concessão florestal, que viabilizam a produção de madeira enquanto preservam a cobertura vegetal e geram empregos verdes.
Mas o maior obstáculo a esse modelo é, justamente, a insegurança jurídica causada pela falta de fiscalização e comando e controle pelo Estado. Outros modelos que aliam conservação e produção de madeira tropical são a silvicultura de espécies nativas e os sistemas agroflorestais, que ainda precisam de um olhar especial para ganharem escala.
A preocupação com esse cenário, infelizmente, não é nova. Há décadas a ilegalidade é uma das principais causas da violência no campo e de um ambiente avesso aos negócios e à atração de capitais. No entanto, com o aumento observado nos últimos anos nas taxas de desmatamento, o combate ao crime é hoje ainda mais urgente.
A maior parte da madeira brasileira é consumida no país. Segundo o Imaflora, os estados brasileiros consumiram, em 2018, 91% de toda madeira produzida na Amazônia. Os principais estados produtores são MT, PA e RO, sendo que a maior parte da madeira do MT e RO abastecem as regiões Sul e Sudeste, enquanto o Pará atende boa parte da região Nordeste.
Nenhuma parte das cadeias de produção, dentro e fora do país, poderá se declarar livre do problema da ilegalidade, seja ela uma empresa, comércio, consumidor e, obviamente, o governo. Se, juntas, essas partes apostarem em uma solução e atuação conjunta, todos ganham. Mas basta um desses elos não cumprir com seu papel que todos perdem.
Por isso, a Coalizão Brasil vê com esperança a manifestação de diversas vozes da sociedade que têm vindo a público externar sua preocupação e compromisso com a sustentabilidade. No entanto, é preciso destacar o papel crucial do poder publico, já que empresas e investidores não têm – e nem deveriam ter – poder de polícia para lidar com invasões, roubo de madeira e outras ilicitudes que contaminam a cadeia de produção, atingindo os mercados nacional e internacional e reforçando outras atividades ilegais.
Identificar a origem dos produtos brasileiros e buscar ferramentas de rastreabilidade são desafios diários do setor privado, governo e da sociedade civil que precisam ser acompanhados da completa transparência de dados, tecnologia para melhor aproveitamento e produtividade (plantio, extração, serraria, uso etc.), desenvolvimento de mercado, diversificação dos usos e tipos de madeira, além de mecanismos inovadores para financiamento da cadeia da madeira.
O Brasil dispõe de conhecimento, informações e experiência suficientes para eliminar imediatamente a ilegalidade de sua produção e ir além. Mas isso só será possível quando todos os setores, públicos e privados, integrarem esforços, cooperarem e assumirem sua responsabilidade neste desafio.”
Organizações que aderiram à Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura:
100%Amazonia |
2Tree |
Abag – Associação Brasileira do Agronegócio |
ABBI – Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial |
ABIA – Associação Brasileira da Indústria de Alimentos |
ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes |
ABIMCI – Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente |
ABPMA – Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano |
Abrapalma – Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma |
Agência Ambiental Pick-upau |
Agenda Pública |
Agrícola Arariba Ltda |
Agrícola Conduru |
Agroflor Engenharia e Assessoria em Gestão Empresarial Ltda |
Agroicone |
Agropalma |
Agrosatélite Geotecnologia Aplicada |
AgroTools |
AIPC – Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau |
Alter Comunicação |
AMA Brasil – Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil |
Amaggi |
Amata |
Ambientale Ativos Florestais Ltda |
Amda – Associação Mineira de Defesa do Ambiente |
Animal Equality Brasil |
APREC Ecossistemas Costeiros |
Apremavi |
Arapar Participações |
ARPEMG – Associação de RPPN de Minas Gerais |
Árvores Centenárias |
Asboasnovas |
Associação Brasileira de Estudo das Abelhas |
ATA Consultoria |
Atina – Indústria e Comércio de Ativos Naturais Ltda. |
Atrium Forest Consulting |
Audsat Sensoriamento Remoto Ltda. |
Banco Alfa |
BASF S/A |
Bayer |
Bela Vista Florestal |
Belem Bioenergia Brasil |
Belterra Agroflorestas |
Bem Comunicar |
Bichara Advogados |
Biofílica |
BiomTec – Biomassas e Tecnologia |
BioRevita |
Black Jaguar Foundation |
Bowline Capital Partners |
Bradesco |
BRF |
BRFLOR |
Brookfield |
BTG Pactual |
BvRio – Bolsa de Valores Ambientais |
Canal Rural |
CAPIN (Centro de Estudos Agroambientais de Pindorama) |
Carbonext |
Cargill |
Carrefour |
Cartica Management, LLC |
Cause |
CDP |
Cebds – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenv. Sustentável |
CEGAFI – FUP/UnB |
Cenibra |
Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da UFMG |
Chipsafer |
CHS do Brasil |
CI – Conservação Internacional |
CitrusBR – Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos |
Climate Policy Initiative / Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio |
CME Group – Brasil |
CMPC Celulose Riograndense Ltda |
CNRPPN – Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural |
Complexo Pequeno Príncipe |
Conserve Brasil |
Cooperenges – Cooperativa de Trabalho de Engenharia, Serviços e Consultoria Ltda |
Corredor Ecológico do Vale do Paraíba |
CPFL Renováveis |
CRIA – Centro de Referência em Informação Ambiental |
Crível Comunicação |
Danone |
DDSA Advogados |
Diálogo Florestal |
Duratex |
Earth Innovation Institute |
ECCON Soluções Ambientais |
Ecofuturo |
Editora Horizonte |
EDLP – Estação da Luz Participações Ltda. |
Eldorado Brasil Celulose S/A |
Envolverde |
EQAO |
Etel Carmona |
Eucatex |
FAS – Fundação Amazonas Sustentável |
Fauna & Flora International |
Fazenda do Futuro |
FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável |
FIA – Fundação Instituto de Administração |
Firmenich |
FLAP Novos Negócios, Consultoria e Treinamento |
Fórum Clima |
FREPESP – Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo |
FSC Brasil |
Fundação Avina |
Fundação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte |
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza |
Fundação Jupará de Cultura e Ecologia |
Fundação Renova |
Futuro Florestal Ltda. |
GCN Advogados |
GEFAS – Grupo de Gestão de Fauna Silvestre |
Geplant |
Gerdau |
GITEC Brasil Consultoria Socioambiental |
GND |
Green Nation |
Grupo Boticário |
Grupo Lorentzen |
Grupo Pau Campeche |
Grupo Plantar |
GTA – Grupo de Trabalho Amazônico |
GTPS – Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável |
GVces – Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-EAESP |
Guayaki Yerba Mate Brasil |
Humana Brasil – Povo para Povo |
IABS – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade |
Ibá – Indústria Brasileira de Árvores |
IBS – Instituto BioSistêmico |
ICLEI – SAMS |
ICV – Instituto Centro de Vida |
IDESAM – Instituto de Conserv. e Desenv. Sustentável do Amazonas |
IDS – Instituto Democracia e Sustentabilidade |
IGT – Instituto Governança de Terras |
Imaflora |
Imazon |
Iniciativa Verde |
Inpacto – Instituto Nacional Para Erradicação do Trabalho Escravo |
INPRA – Instituto Internacional de Pesquisa e Responsabilidade Socioambiental Chico Mendes |
Insper Agro Global |
Instituto Abraço |
Instituto Akatu |
Instituto Arapyaú |
Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental |
Instituto Clima e Sociedade |
Instituto Conexões Sustentáveis – Conexsus |
Instituto Coruputuba |
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) |
Instituto de Inclusão Cultural e Tecnológica – Tecnoarte |
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT |
Instituto Ecológica Palmas |
Instituto Ekos Brasil |
Instituto Escolhas |
Instituto Ethos |
Instituto Igarapé |
Instituto Inhotim |
Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB |
Instituto Internacional para Sustentabilidade |
Instituto Jatobás |
Instituto LIFE |
Instituto Perene |
Instituto SIADES – Sistema de Informações Ambientais para o Desenvolvimento Sustentável |
Instituto Sul Mineiro de Estudos e Conservação da Natureza |
Instituto Terra |
Instituto Terroá |
IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia |
IPE – Instituto de Pesquisas Ecológicas |
Itaú Unibanco |
JBS |
Kaeté Investimentos |
Klabin |
Laboratório Cenergia COPPE/UFRJ |
Laboratório de Ecologia da Intervenção LEI/UFMS |
Laboratório de Ecologia de Paisagens e Conservação IB/USP |
Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais Lagesa/UFMG |
Maker Brands |
Maraé |
Marfrig Global Foods |
Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais |
Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga Advogados |
Mauá Capital |
Melhoramentos Florestal |
MOV Investimentos |
MundoGEO |
National Wildlife Federation – NWF |
Natura |
NEA/Economia/Unicamp |
NELM Advogados |
Nestlé |
Nexus Socioambiental |
Observatório da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono |
Oela |
Organização de Conservação da Terra – OCT |
Pacto pela Restauração da Mata Atlântica |
Pangea Capital |
Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia e Centro de Inovação do Cacau |
Partner Desenvolvimento |
Partnerships For Forests – P4F |
P&B Comunicação |
Pinheiro Neto Advogados |
Pires Castanho Advogados | Consultoria Ambiental |
Piza |
Plante Chuva |
Plant-for-the-Planet Brasil |
Plantio Brasil |
Proactiva |
Proforest Brasil |
Projeto Manuelzão UFMG |
PTA Internacional |
Pure Brasil |
Rabobank Brasil |
Rainforest Business School – Programa Amazônia em Transformação – IEA/USP |
RAPS – Rede de Ação Política pela Sustentabilidade |
Rede Brasil do Pacto Global |
Rede Mulher Florestal |
reNature |
Reservas Votorantim Ltda |
Rizoma Agro |
Rotta e Moro Advogados | Assessoria Jurídica Ambiental |
RSB – Roundtable on Sustainable Biomaterials |
Rumo S.A. |
Santander |
Santiago & Cintra Consultoria Ltda |
Save Cerrado |
Seiva Consultoria em Meio Ambiente & Sustentabilidade |
Sintecsys |
Sinapsis |
SIS – Soluções Inclusivas Sustentáveis |
Sneek Timber |
Social Carbon |
Sociedade de Investigações Florestais (SIF/UFV) |
Solidaridad Network |
Souto Correa Advogados |
SR4 Soluções Ltda |
STCP Engenharia de Projeto LTDA |
Suzano |
TFA – Tropical Forest Alliance |
Themudo Lessa Advogados |
Thymus Branding |
TNC – The Nature Conservancy |
Toledo Piza Consultoria Ambiental |
Transparência Internacional – Brasil |
Trench Rossi Watanabe Advogados |
Tropical Flora Reflorestadora Ltda. |
UBS |
UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza |
UNICAFES – União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária |
Unilever |
Veirano Advogados |
Veracel |
Vicente & Maciel Advogados |
Viveiro Carobinha |
Viveiro Muda Tudo |
Way Carbon |
WestRock |
WRI Brasil – World Resources Institute |
WWF Brasil |
Youagro |
Youth Climate Leaders |
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