Tentativa de censura ajuda a promover literatura LGBT na Bienal do Rio
A Bienal do Livro do Rio de Janeiro terminou neste domingo, 8, com menos público, mais venda e uma forte reação de autores e editores contra vontade de Crivella de proibir livros LGBTQI
- Data: 09/09/2019 14:09
- Alterado: 09/09/2019 14:09
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Fernando Frazão/Agência Brasil
A mostra reuniu, entre os dias 30 de agosto e 8 de setembro, 600 mil pessoas no Riocentro. Se por um lado o número de visitantes vem diminuindo nos últimos anos – foram 680 mil em 2017 e 677 mil em 2015 – a venda de livros foi comemorada por editores e organizadores. Estima-se que tenham sido vendidos 4 milhões de exemplares, dos 5,5 milhões disponíveis, na Bienal.
O sábado (7) foi o dia mais cheio, quando a Bienal registrou 100 mil visitantes. Era feriado, mas foi também o dia em que o youtuber Felipe Neto distribuiu cerca de 14 mil livros LGBT – numa resposta à polêmica iniciada na quinta-feira, 5, quando o prefeito Marcelo Crivella emitiu uma notificação exigindo que a Bienal protegesse as edições da HQ Vingadores – A Cruzada das Crianças, que trazia um casal gay; foram determinadas ainda as inspeções dos fiscais da Prefeitura, que foram à feira em busca de “conteúdo impróprio”.
Também em resposta à tentativa de recolher ou esconder os livros com o que o prefeito chamou de “conteúdo impróprio”, as editoras apresentaram seus livros LGBT com mais destaque nos últimos dias da feira, quando os visitantes também se manifestaram dentro do pavilhão.
Na coletiva de encerramento, escritores divulgaram um manifesto contra “as insistentes tentativas de censura”, no qual defendiam que o ataque de Crivella não era direcionado à Bienal do Livro, mas aos brasileiros. “Não precisamos ter quem determine o que podemos ler, pensar, escrever, falar ou como devemos nos relacionar”, diz o manifesto assinado, até domingo, por cerca de 70 autores.
Desempenho
Depois de algumas idas e vindas na Justiça, fiscais da Prefeitura circulando pelo Riocentro em busca de obras com conteúdo LGBT e uma forte reação de autores, editores e leitores a Bienal do Livro do Rio terminou com um público de 600 mil pessoas e autores se organizando para defender a liberdade de expressão.
Foi uma boa Bienal para a Planeta, que registrou aumento de 73% no faturamento, em comparação à edição passada. A Companhia das Letras, de 30%. Já a Intrínseca, que teve crescimento nulo em 2017, cresceu 18% agora – e obras como Boy Erased, sobre a “cura gay”, esgotaram no estande.
Dos 15.438 exemplares vendidos pela Faro, 2.796 tinham a temática LGBTQI. Muitos deles esgotaram, como Homem de Lata, de Sarah Winman; 1+1: A Matemática do Amor, O Garoto Quase Atropelado e Feitos de Sol, os três de Vinicius Grossos; e Rumo ao Sul, de Silas House.
O crescimento de venda geral nos estandes das editoras se justifica, também, porque a Livraria Saraiva, às voltas com sua crise e em recuperação judicial, não foi à Bienal este ano e o público foi procurar os livros nas próprias editoras.
Em 10 dias de feira, mais de 300 autores nacionais e estrangeiros, incluindo artistas, acadêmicos, filósofos, cientistas, lideranças religiosas e de movimentos sociais, ativistas e youtubers se revezaram pelos palcos da Bienal – sem contar a programação feita pelas editoras em seus estandes