Podemos parar de ‘bater’ no Neymar, pelo menos hoje?
Neymar foi alvo de duras críticas pela Seleção Brasileira após eliminação na Copa do Catar
- Data: 10/12/2022 11:12
- Alterado: 10/12/2022 11:12
- Autor: Gabriel de Jesus
- Fonte: ABCdoABC
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Após a derrota da Seleção Brasileira diante da Croácia, na tarde da última sexta-feira (09/12), mais uma vez o principal jogador Neymar, foi alvo de críticas referente algumas posturas dentro de campo. A primeira delas é que o camisa 10 do Brasil deveria ter batido o primeiro ou o quarto pênalti de nossa seleção.
Entretanto, o que nos chama mais atenção é a enxurrada que Neymar tem recebido ao longo de sua trajetória no mundo da bola. As vezes de forma justa, outras não. O primeiro ponto a se considerar é que durante uma Copa do Mundo, um jogador de futebol que carrega a liderança de um time traz consigo a responsabilidade de atender às expectativas de uma nação inteira.
O povo brasileiro, apaixonado pelo futebol há mais de meio século, sempre é muito exigente em todas as edições de Copa do Mundo. A partir deste entendimento qualquer que seja a geração o jogador que veste a camisa da seleção pentacampeã do mundo sentirá a pressão não só de vesti-la, mas de principalmente representar um povo sedento pela vitória.
Dito isto, mesmo que haja todas as cobranças para cima de Neymar, será que todas elas são justas? Será que não o punimos demasiadamente? Reparem, o Neymar quando começou sua carreira no Santos Futebol Clube sofria críticas pelo excesso de dribles e firulas, característica que sempre tornou nosso futebol unicamente mágico.
Em setembro de 2010, após um dia de fracasso na recente carreira de Neymar, durante a partida Santos 4×2 Atlético-GO, pelo Brasileirão daquele ano, o craque desrespeitou o capitão da equipe na época Edu Dracena, faltou com respeito ao treinador Dorival Júnior. Ao final da partida o técnico do time goiano naquela oportunidade, Renê Simões disse à época que “o futebol brasileiro estava criando um monstro”.
Na metade do ano de 2013, quando Neymar é transferido para o Barcelona, choveram críticas para cima do craque brasileiro, onde ele seria reserva de Lionel Messi e Luís Suárez. Tempos depois ao lado do craque argentino e o uruguaio, tornaram-se um trio imbatível no futebol mundial. Por lá ele conquistou uma Champions League na temporada 2014/2015 e um Mundial de Clubes.
Em 2017, Neymar é vendido ao Paris Saint-Germain por 222 milhões de euros (R$ 270 milhões), daí a crítica foi que ele estava indo para um futebol de pouca relevância na Europa. No clube francês foi amado e também odiado, diante de algumas polêmicas até chegou a ser cogitada sua negociação. Mas ele permaneceu.
Nesta Copa do Mundo no Catar, assim como em todas as outras, Neymar foi perseguido do início ao fim. Na estreia contra a Sérvia disseram que não jogou bem. Questionaram sua conduta ao não comemorar os gols de Richarlison. Quando o camisa 10 da Seleção Brasileira se lesionou, mesmo sendo divulgadas fotos de seu tornozelo inchado, tiveram pessoas que teceram comentários de que o Brasil jogaria melhor sem ele.
O jogador do PSG fica ausente de dois jogos (contra Suíça e Camarões), retorna nas oitavas de final da Copa contra a Coréia do Sul, onde marcou um dos gols do Brasil na vitória por 4 a 1, além disso participou dando passes, colaborando por meio de sua liderança dentro de campo. Porém a crítica nesta situação é porque a partida era fácil demais.
Agora, na eliminação para a Croácia, despejaram sobre Neymar toda a responsabilidade de não ter batido nenhum dos pênaltis, para muitos deveria ter sido o primeiro batido pelo jovem Rodrygo, de 21 anos. Para sua responsabilidade era na quarta penalidade, batida pelo zagueiro Marquinhos. Porém, imaginem se ele tivesse batido qualquer um dos dois se não haveria algo negativo a ser pontuado também?
Neymar está sendo responsabilizado por jogar fora três gerações (2014, 2018 e 2022). Entre concordâncias e discordâncias, entre convergências e divergências, sempre o colocamos na cruz. Se ele bate pênalti é meu amigo, mas se não bate, automaticamente é meu inimigo. Se abraça é puxa-saco, se não faz é insensível. Se chora dizem que é um sentimento falso, veja só, mas se não derrama lágrimas é porque não está nem aí para nada.
A questão é: independente do que faça Neymar sempre haverá o dedo julgador para apontar todas as suas escolhas, posturas, atitudes. Porém, o que fica para nós é que vimos aquele que é um dos maiores ídolos do futebol brasileiro em toda a história, mas nós não nos permitimos curtir e admirar sua atuação. Não nos permitimos comemorar suas vitórias, sorrir em seus dribles e celebrar seus gols.
Faltou sermos amigos de Neymar. Não aquele que passa pano, mas aquele que aconselha e direciona caminhos. Que torce junto. Sorri e chora junto. Demos os ‘puxões de orelha’ quando precisou, mas faltou carinho, consolo e empatia quando ele pediu.
Certa vez o ex-coordenador técnico da Seleção Brasileira, Edu Gaspar disse que não era fácil ser Neymar. De fato não é mesmo. Porque é difícil o tempo todo você ser a sombra da negatividade de tudo. Injustamente nós, brasileiros, também lesionamos o nosso craque, nós também o tiramos de campo. Por mais que você queira apenas observar o jogador que pula carnaval, que faz festas regadas à churrasco e mulheres, há também alguém que tem sentimentos, por muitas vezes psicológico afetado pela pressão demasiada que o colocamos sobre ele.
Neymar diz ter um futuro incerto se jogará a próxima Copa do Mundo, portanto, caso ele reconsidere a ideia poderemos rever nossas atitudes, e ele as dele. O que não podemos mais é dia após dia destruir o sonho de um ser humano que lutou e batalhou muito para chegar aonde está.
Existe o dia do ‘puxão de orelha’, existe o momento de dar carinho e acolhe-lo. O dia de dar um abraço forte e dizer “obrigado, cara. Valeu mesmo”. Hoje não é o dia de bater e nem dar puni-lo, mas de fazê-lo se sentir querido.