170 mil motoristas foram pegos dirigindo sob efeito de drogas desde 2016
Maior índice é de cocaína e entre motoristas com CNH do tipo D, que permite transporte de passageiros, afirma artigo publicado na Folha de S.Paulo
- Data: 04/10/2020 14:10
- Alterado: 04/10/2020 14:10
- Autor: Redação
- Fonte: Folha de S.Paulo
Amostras de cabelo ou pelo
Crédito:Divulgação
Desde 2016, quando o exame toxicológico, teste para detectar drogas no organismo, passou a ser exigido para motoristas profissionais que trabalham com caminhões, carretas ou ônibus, 170 mil motoristas já foram flagrados com algum químico ilegal no corpo, segundo dados do SOS Estradas, programa ligado à segurança viária, com dados da associação brasileira de laboratórios de toxicologia.
Cocaína é a droga mais encontrada nos exames, em 68% dos casos. Opiáceos (derivados do ópio, como heroína) são 21%, seguidos por maconha e anfetamina.
Os dados também mostram que, motoristas com a categoria D da CNH, que permite o transporte de pessoas, como ônibus, são os que mais são pegos em flagrante por uso de drogas pelos exames toxicológicos.
O exame toxicológico é feito coletando uma amostra capilar dos motoristas e consegue detectar o uso contínuo de uma substância até 90 dias antes da coleta. O procedimento passou a ser exigido em 2016 para motoristas das categorias C, D e E (caminhões, carretas, ônibus e vans, entre outros).
A metida até hoje enfrenta resistência, sobretudo dos caminhoneiros, que reclamam do alto preço do exame, que pode ultrapassar os R$ 200. Também há questionamentos sobre a ineficácia do exame em prevenir que o motorista se drogue antes de viajar.
Na metade de 2019, quando foi enviado ao Congresso o projeto que alterava o Código de Trânsito Brasileiro, o governo Bolsonaro havia proposto o fim da exigência do exame. Entretanto, no texto que foi aprovado pelos deputados e senadores, o exame voltou a ser exigido.
Para o procurador do trabalho Paulo Douglas, em uma entrevista à Folha de S.Paulo, os motoristas não usam drogas para fins recreativos. “O índice de aceitação do exame é alto, mesmo entre os que o resultado deu positivo. Foi de 79% na última pesquisa. Isso acontece porque não são motoristas que usam drogas para fins recreativos, porque gostam, mas pela necessidade de cumprir jornadas de trabalho desumanas”, afirma.
Ele também diz que a lei é “hipócrita, uma vez que fala até em pontos de parada, algo que não existe na maior parte da malha rodoviária do Brasil, de acordo com ele. O procurador também afirma que os motoristas hoje trabalham em condições extremamente adversas, com jornadas exaustivas e abusivas.